sábado, 13 de fevereiro de 2021

O desafio das páginas em branco


Que mais além do silêncio desta noite... Dizer por dizer... Cobrir as falas do vazio com os ruídos esquisitos vindos das entranhas da Terra nos saltos da imperfeição... Saber que ninguém conhece as raízes dos mistérios noturnos... Ciciar do vento nas árvores, pássaros que cantam fora de hora, gritos distantes de solitários esquecidos; esforços e dramas ocultos na imensidão...

As horas feitas monges enfileirados pelos minutos que desfilam nas janelas da escuridão e desaparecem para sempre nesses nada que insistem sobreviver no colo das almas. Só um fragor de esferas e essa distância imensa das estrelas no céu. Dentro de mim, o rio da saudade percorre esse infinito, olhos perdidos na ausência que não mais existirá logo adiante, enquanto o amor macera o peito; o bater dos sinos impossíveis. 

E as palavras, flores do pensamento, derramam significados sobre o papel, no desejo insano de contar as histórias do inesquecível. Transpirações da consciência, elas inventam o espaço e revelam desejos insaciáveis de continuar, ainda que persistam a dor, a morte e o medo... Lembranças que circulam em volta da sala; gnomos, fadas, duendes teimosos, que comprimem a ânsia de existir, quando claros do dia anunciam novo amanhecer.

As narrativas dos sonhos falam disso, da fome inesgotável de transportar os segredos da madrugada aos que continuavam adormecidos. Questionam o paraíso das luzes, com suas vastidões de lendas. Assim, páginas pulsam de serem vivas na imaginação, vontade extrema de acalmar o que habita aqui nos animais inocentes à procura da Eternidade. São contos das outras dimensões que despertam no frio das manhãs. Trazem farnéis de esperança e esfregam os olhos, querendo despertar de si mesmos.

As falas do dizer dos humanos... Réstias das cavernas que o somos... Estilhaços feitos pedras, dramas no coração de todos... Estranhos em movimento na face do desconhecido, isto que transportamos, tanto no pensar, quanto no querer dizer nas páginas em branco.


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