domingo, 7 de fevereiro de 2021

Eles somos nós


Enquanto multidão ignara bate no peito e diz que odeia política e se esconde detrás das portas do anonimato, eles saem com vontade forte a dominar os poderes e cargos públicos, determinam as bases da sociedade, e o mais já sabemos. Frutos das árvores que deixamos de plantar, e eles plantam a valer no solo das nossas mesmas chances largadas ao vento. Bem isto, no fazes por ti que os céus te ajudarão, do dizer popular. Ou se deixares de fazer, outros farão dalgum modo, quase sempre a interesse próprio, longe dos valores da coletividade.

Depois saem vagando pelas malhas deste mundo de olhos vendados às responsabilidades deixadas ao léu da sorte, que sobram às garras fratricidas dos que investem na política feitos feras famintas, por isso perdas acumuladas há séculos, no decorrer da história. De todas as vezes pouquíssimas oferendas foram aproveitadas pelos cidadãos deste mundo.

Porém nunca será tarde a que possamos exercitar o direito das nossas escolhas e transformar os destinos sociais. Contudo é urgente a participação de todos junto às instituições políticas. Abrir os olhos e agir, invés de abrir mãos desse poder sagrado. 

A respeito disso, certa feita, ouvi do então deputado federal Lysâneas Maciel a seguinte narrativa: Na Alemanha, um reverente pastor zelava pela sua comunidade religiosa quando ocorreram as primeiras detenções do período negro que antecedeu a Segunda Guerra Mundial. Primeiro prenderam líderes comunistas. Ele pensou consigo: - Não sou comunista, portanto nada tenho com isso. E se omitiu de reagir em face das violências daquela hora.

Os senhores da ditadura de Hitler seguiram, pois, na escalada do terror, vindo deter também os socialistas, motivando no religioso idêntico descompromisso. Por não ser socialista, permaneceu indiferente, aceitando como normais as manobras da Gestapo.

Depois, levados seriam homossexuais, prostitutas, ciganos e outras minorias perseguidas; ele apenas repetiu o raciocínio de ficar inerte diante de tudo o que observava, sem, no mínimo, falar ou demonstrar qualquer posição perante o que presenciava dos desmandos às pessoas de sua comunidade.

Também prenderiam judeus e católicos; o religioso em nada alterava suas relações com as forças do poder, conquanto via fora de propósito tomar atitudes que pensava não lhe dissessem respeito. Nem de longe avaliava qualquer responsabilidade pelas arbitrariedades praticadas. Até que, na sequência dos acontecimentos, bateram na porta da sua igreja para levá-lo, e nessa hora ninguém houve que mobilizasse forças em seu auxílio. Todos estavam ausentes. 

Sei que alguns podem ler tais palavras, o que me faz trazê-las dalgum modo, sobretudo lembrando as gerações que nos sucedem e necessitarão, de certeza, das razões que justifiquem uma ativa participação política. 

Um comentário:

  1. Profunda reflexão para todos como sociedade, onde um por todos e todos por Um é a tônica.

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