Nos imensos desertos da alma que abrem de par em par suas portas ao eterno, encobertos pela poeira de sonhos vagos em noites estreladas, litanias desesperadas rompem os céus das histórias de princesas presas ao leito do desespero ao furor de lhes rasgar o peito apegos a um amor imortal; só então vêm à tona os tetos em brasa dos desejos ardentes de paz que revolvem por dentro o turbilhão de paixões desenfreadas, desfeitas em mil pedaços ao frio calor das madrugadas, e bem ali a se instalar no fervor dos vendavais do Infinito quando o coração em guarda trabalha a voragem de todos os sentimentos à cata de referências e salvação.
Bem assim somos nós, testemunhas e autores das angústias que nascem da beleza e dos amores incontidos a fervilhar o abismo da alma. Senhores de tantas tradições, porém presos às maravilhas em volta, circulamos tontos nas fibras intocadas do coração. Quantos sonhos guardados nas cavernas do sentimento, onde vive perene o Amor. Ânsias das mais perfeitas melodias, inspiração do Universo em forma de luz, súditas da força mais poderosa, multidões avançam pelas colunas do Tempo e aceitam essa presença do Autor Desconhecido que as domina, feitos meros instrumentos que o somos da afetividade. Nisso construiremos mundos e oferecemos os meios às novas existências, que nascerão de nós mesmos.
Na certeza, pois, de sentir a magnitude do mistério, no entanto apenas aguardamos a verdade que sustenta os astros lá nas alturas e mantém o instinto da sobrevivência, oxigênio e motivo dos acontecimentos. Encapuçados na própria solidão, deixamos que brilhem formas que presenciam os refolhos íntimos, fantasmas na escuridão que prepara a imortalidade, indivíduos silenciosos; alimentamos a possibilidade de algum dia despertar nos braços de quem se ama e jamais sumir pelas esquinas sórdidas da ausência. Aceitar a alegria qual fator de essência e certeza absoluta da Consciência de tudo quanto há.
Ilustração: Moça na janela, de Salvador Dali.
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