terça-feira, 12 de março de 2019

A teia dos pensamentos

Máquinas de criar existências, eis o que somos de juntar pedaços de significados e elaborar os dias inevitáveis do horizonte; instrumentos da natureza de retrabalhar os elementos dos sentidos e dizer a nós próprios a que viemos. Conter a química dos momentos e aferventar a ração diária das horas em forma de realidades, em detrimento da grande realidade que permanece incógnita sob a pele do firmamento, enquanto a que criamos quando muito ficará restrita às memórias de quem escreve, fotografa, grava, filma, e larga às hostes do passado, deixando, nas plataformas do tempo, estações sucessivas que se vão intermitentes pela janela do comboio. 

Nós, entretanto, fazemos caso do pouco que nos cabe desses valores em movimento; corremos contra a fluidez dos episódios insistentes, lições continuadas de persistência; desejos de prosseguir além das barreiras do depois; só desejo, mera soma de fatores e fragilidades; nós, cavaleiros errantes do presente, sombras que deslizam apressadas na tela dos pensamentos. Às vezes pergunto o que restará dos fragmentos nas refeições de todo dia, quando nem de ontem nos lembraremos de mais?

Bom, mas insistem os pássaros a cantar, a flores a florir, o Sol a percorrer os céus; aonde dirigiremos tanta aflição de permanecer durante a faina do constante desaparecimento? Quantas músicas, livros, filmes, histórias, esperam de nós a compreensão, sabor e felicidade? Expedicionários do destino, pois, tangemos esses rebanhos das circunstâncias e sonhamos viver eternamente diante do fugidio que, esplendoroso, passa ritmado.

Ainda assim herdeiros da beleza universal que desfrutamos, no mistério do Paraíso das existências e usufruir do poder de ser infinito sem saber, à medida que interpretarmos o enigma da Consciência seremos parceiros fieis da Criação e tocaremos a valsa do instante, senhores de Si, porém que haverão de conhecer o segredo das virtudes logo ali nas dobras do caminho. Luzes em crescimento, nisso elaboramos a finalidade que nos traz aqui e alimenta, generosa, o jardim das nossas almas, filhos diletos do Amor maior.


(Ilustração: Colagem, Emerson Monteiro).

3 comentários:

  1. Ainda bem que temos a oportunidade de pensar, de criar, de sonhar uma realidade daquilo que vivemos. Num momento onde a violência predomina, quando noas deparamos com o texto assim, leve, nos transporta para um espaço imaginário, onde temos florestas, pássaros cantando e flores a perfumar o ambiente que nos cerca. Parabéns pelo seu texto, muito lindo! Um carinhoso abraço ao amigo Emerson Monteiro.

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  2. Que texto rico...ao ler com mais atenção percebemos quão bela a forma como você discorre sobre cada uma das abordagens. Cada vez voltamos no texto descobrimos um novo significado para uma frase, uma palavra inserida no contexto. Incrível.

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  3. Maquina de criar existências”, que riqueza de pensamento. É assim mesmo, é uma metáfora, mas retrata muito bem os nossos sonhos, realidades inventadas para viver um dia a dia mais feliz, mais alegre e com mais esperança. Obrigada por nos presentear com os seus excelentes textos. Um carinhoso abraço amigo Emerson Monteiro.🌺🌺😘

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