
Bom, nisso esperam, e pronto.
Num dos cantos do galpão monumental pequenos grupos jogam truco; noutros, gamão, dama, xadrez, vídeo game, os errepegês da vida que anda arrastando a barriga nos esgotos e nos pântanos dos filmes de horror contemporâneo de campos e refugiados. Naves sobrevoam atentas pelo céu, de olhos abertos a mínimos detalhes daquilo tudo, cena secular das gerações.
Os bilhetes vão sendo adquiridos aos lotes nos leilões da madrugada ainda escura. São eles os reis, sultões, ditadores, presidentes, políticos, financistas, empreendimentos mil transformados em distração das horas que passam feitas ondas nas marés siderais da criação do mundo.
A multidão, ao seu modo, gosta disso, porquanto nada mais resta senão o lazer das ilusões de esperar, vistas presas nos retângulos das televisões distribuídas no teto dos dormitórios sob a camada atmosférica.
Qualquer momento, e chegarão, das duas origens e em duas direções, comboios descomunais que os levarão pelo espaço, ou aqui permanecerão na superfície, a refazer o sonho dos que ficarem, ou alimentarão de possibilidades outras os que seguirem rumo a outra constelação perdida no Infinito.
(Ilustração: Pieter Bruegel, o Velho).