quinta-feira, 16 de outubro de 2014

Saudades da Perfeição

Os dias que são passados vão indo em fila para o sertão.  Guimarães Rosa – Grande Sertão: veredas.

Esse instituto do que se sente nas tardes mornas, espécie de furor de Verão, quando fibras da alma se frigem e nelas apertam minúsculos fragmentos do que somos, perguntamos muito, muitos assuntos, na dor dos que padecem perguntas sem respostas, às vezes até sem perguntas. Ali de quando pretendemos saber mais dos desconhecidos espalhados nas veredas da consciência, folhas vagam sobre os escombros desse passado adormecido que contorce, inflama e dói, no viver particular. Nessas ocasiões, crescem espaços dentro na gente que se desmancham lá bem adiante, na intensidade do ser, no gelo do tempo abrindo as frestas no meio de tantos e tantos ais, vazios do mistério do Universo.

Também tais saudades falam de angústia, insatisfação, fastio, melancolia, de madrugadas insones, territórios de amargura e sonhos, na imensa busca da existência, estados constantes da promessa insondável que nunca avisa e chega nas estações principais, momentos raros e vozes próximas. 

Na força, pois, do coração, no deserto das horas, impõe ocupações diversas, espécies de preenchimento provisório da marcha dos dias, caixas impossíveis que transportam o comboio aos pedaços, ansiedade e nuvens de constelações onde encenamos os caprichos individuais. 

Velhos complexos, qualidades exclusivas, inteiram o todo da pessoa, às vezes de bons bocados; noutras, de feras inúteis da agressividade. Inúmeros pequenos todos realizam a função inexistente da individualidade, camadas superpostas de nadas que resultam nos gritos insanos da razão e do pudor, meras formalidades a justificar sombras que passam no solo da dúvida debaixo dos pés.

Algo, assim, que fala do sentimento no poder de um maior de todos, leves réstias da Luz na forma de pares que hão de se encontrar nas paralelas do Infinito, amém.


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