Enquanto isso, artistas populares repercutiam seus instintos rebeldes contra o neocolonialismo das invasões russas na África, plena Guerra Fria, nos centros ricos do poder econômico, e Quente, no meio desses povos subdesenvolvidos.
A Geração Beat ganhara adeptos com experiências psicodélicas, adotando a maconha e o LSD nas diversas formas de manifestações e criando linguagens rebeldes nas estilos literários, musicais, coreográficos, cinematográficos, teatrais. A moda integrava outras visões e desnudava a mulher das roupas tradicionais, impondo cores intensas e cortes inesperados.
Algo acontecia saído da Grã Bretanha. The Beatles e The Rolling Stones levavam às plateias ao delírio. Cabelos grandes. Guitarras estridentes. Depois a morte feria ídolos mártires de overdoses. Palcos feéricos. Altares de sacrifício. Amores. Paz. Largas interrogações.
Surgia o cinema de autor. Os festivais de protesto. Woodstock. Hippies nas estradas. O tropicalismo renovava a música popular brasileira. Gilberto Gil, Caetano Veloso, Gal Costa, Tomzé, Maria Bethânia, Capinam, Torquato Neto, Rogério Duprat, Rogério Duarte, Os Mutantes e vários outros nomes, reviravam as estruturas tradicionais da arte nacional.
Coisas mil aconteciam, prenúncios intensos da Era de Aquarius, no dizer das tribos espalhadas nos acampamentos, praias e montanhas, shows das praças, repressões nas esquinas. Sonhos. Pesadelos. Cheiro de pólvora. Perfume de flores, fuzis e baionetas.
No quadro dessas lembranças indeléveis que escorrem das paredes cinzas, nas noites insones do passado, as imagens acesas de um filme, Blow-Up, em português, Depois daquele beijo, de Michelangelo Antonioni, que sacolejou as cabeças enfumaçadas. No elenco, Vanessa Redgrave, Sarah Miles, David Hammings, John Castle, Jane Birkin, em produção anglo-italiana de 1966.
A trama de suspense contava história de um fotógrafo de moda que registra, em parque londrino, cenas amorosas de casal desconhecido e na revelação das imagens testemunha um homicídio. Proposto a desvendar o delito, percorrer trilhas inesperadas e bizarras, quando nota o jeito indiferente da sociedade face aos valores essenciais à vida. Ninguém parece preocupado com as provas que consegue, acabando envolvido no absurdo da realidade em volta.
Ganhadora da Palma de Ouro, no Festival de Cannes, a película criava linguagem cinematográfica prenhe de simbolismo quase hermético e indicava momentos questionadores das atitudes no apego a ídolos pops e posições existenciais indiferentes que prevaleciam na época. O filme fez adaptação livre de um conto do argentino Julio Cortazar e exerceu forte influência também no campo da fotografia de moda.
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