No Sertão distante,
habitava pobre homem, sua mulher e três filhos menores, em casa simples de
palha e barro. Nas épocas normais das chuvas, ali existiam suficientes condições
de sobrevivência, dando-lhes a terra os gêneros.
Naquele ano, todavia,
as condições se apresentaram desfavoráveis; o inverno não veio no tempo certo,
esturricando o chão e despindo as matas.
Logo cedo, o casal anteviu
os riscos de longo período seco. Assim preocupados, rezaram com força pedindo misericórdia
dos céus lembrando o futuro dos filhos, motivo maior de preocupação.
A sucessão dos meses
anunciava crise inevitável, quando consumiram os derradeiros mantimentos,
aumentando a angústia. O que temiam se deu, pois a seca chegou intensa e possibilidades
de escapar se mostraram poucas. No rosto das crianças, os primeiros sinais do
abatimento.
Intensificaram ainda
mais as orações, qual única alternativa. A fé gritava na alma daquela gente,
que por dentro sentia emoções de que esperança viva. Queriam tão só descobrir de
que jeito chegaria a salvação da família.
Certa manhã, no
período mais escuro, quando abriram a porta, uma surpresa lhes aguardava, um boi
gordo apareceu bem defronte da casa a bloquear o caminho dos que quisessem entrar
ou sair. Tiveram de insistir a fim de afastar o animal, que retornava tantas
vezes quantas saísse da porta.
Durante esse dia, a distração
foi a presença do estranho visitante vindo de longe, dado inexistirem fazendas de
gado na redondeza, e, menos que isso, pasto de manter vivos os bichos, há
tempos desaparecidos.
No dia seguinte, foram
iguais as circunstâncias. Os meninos puseram até apelido no bovino, enquanto tangiam
querendo tirá-lo do terreiro. No outro dia, e êxito nenhum; o intruso
permanecia bloqueando a porta do casebre, levando todos a estudar uma saída de
achar pasto para alimentar a rês.
O caboclo conversou
com a mulher e decidiu ir à cidadezinha perto, no propósito de saber encontrar
o dono do boi.
Chegou à povoação e
perambulou na busca das notícias, porém nada descobriu. Meio sem planos, viu do
outro lado da praça a igreja, e lá se dirigiu.
No templo, procurou o
pároco. Explicou os detalhes da situação difícil que atravessava, falou da
insistência do boi em ficar junto da sua família, que mudara a rotina em que
viviam.
Depois de alguns
minutos em silêncio, o sacerdote perguntou ao caboclo se ele fizera as orações de
pedir algum bem a Deus ou aos santos.
Nessa hora, chegou na
lembrança do sertanejo a crise avassaladora que defrontava, a fome que
sujeitava todos, as agruras do lar. Aflito, calado permaneceu como juntando os
elementos do juízo.
Em seguida, o padre aconselhou
ao homem que retornasse e abatesse o boi para dar de comer aos familiares, que se
tratava do beneficio pedido. Diante do conselho, ciente
de haver merecido as bênçãos, supriu a fome e venceu a privação, graças às orações
que fizera a Deus.
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