terça-feira, 16 de julho de 2019

Uma irreal transformação

Do meu quarto de um dos milhões do mundo, / Que ninguém sabe quem é /
(E se soubessem quem é, o que saberiam?). Fernando Pessoa

São desses que se arvoram senhores do Universo e nem de universo nada entendem, assim seriam seres habitantes das galáxias bem semelhantes aos que vivem aqui nesse torrão natal, centro dos mundos em profusão. Contudo há que haver transformação, porquanto somos apenas e apenas o somos o que nada mais seremos um dia, cedo ou tarde. E vêm as mudanças radicais, extremo das horas que foram sem pressa de voltar. De meros instrumentos de consciência em desenvolvimento, tornamo-nos atores das próprias contradições, jogados aos mares do desespero de buscar sem achar a porta de sair fora desse território neutro da ilusão. Nisso, os tempos vagueiam com água pelos pés em volta das criaturas, numa queda livre no sentido da renovação das células da matéria. Feitos máquinas de carne, penduramos na corda dos segundos velhos trajes dos dramas que vivemos e nem de longe às vezes os compreendemos. Admitimos ser fatores de renovação das estruturas arcaicas em que nos deram de viver, e padecemos presas das arapucas da sorte, espécies de autores inveterados nas mesmas histórias dos milênios que sumiram nas eras desaparecidas.

Bom, desse anonimato das criaturas que o seremos, enquanto não descobrir as razões principais do Ser e quais as reais intenções de Quem nos criou, alimentamos, anos a fio, as feras que carregamos por dentro das entranhas; e inventamos alternativas desonrosas e honrosas, diante do silêncio das infinitudes. Criamos mil maneiras de justificar a essência que ainda nem desvendamos; rimos; corremos; voamos, durante o trajeto de um leito a outro, nas estradas do Sol dias infindos. Melhor seria dizer que trocamos de roupa, nutrimos de filamentos os pensamento e justificativas bizarras que traçáramos de mão em mão, nos baralhos do escorregadio. Com isto, o excesso de personalismo deixa-nos imaginar as transformações sem vivê-las em plena realidade, fazendo disto só miragens apagadas em desertos iluminados.  

Um comentário:

  1. “. Com isto, o excesso de personalismo deixa-nos imaginar as transformações sem vivê-las em plena realidade, fazendo disto só miragens apagadas em desertos iluminados. “

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