Os seres do espelho insistem viver a todo custo sua liberdade. Correm soltos, a torto e a direito, nas faixas escuras do imaginário e descem fortes ao mundo subterrâneo dos momentos que voam, a fazer do fantasmagórico a existência. Nisso e disso, nestante, vivem os habitantes dagora a fervilhar as mídias que inventaram na forma de migalhas deixadas ao vento. A tal dispersão digital implica, pois, nessas reentrâncias doutras perspectivas da própria humanidade.
Ao descer às profundezas do caos, dali, desse abismo, outras
espécies vêm à tona, no formato exótico dos filmes mais absortos largados
perlas calçadas deste mundo, onde antes só havia ficções. Passa-se de leitor a
protagonista, numa maior sem cerimônia. Levas sucessivas de vultos desfilam
pelas dobras dessas cápsulas em movimento, uns a transmitir a outros seus
surtos e transes.
Então, aquilo até há pouco previsto qual contos e lendas,
importam do mesmo tanto das inscrições fixadas na crosta desses dias assim abandonados.
Lá de longe, apenas surtos do que houvera, visagens e surtos. Habitantes de época
prescrita nas imagens transmitidas bem que significam figurantes a jogar seus
dramas de horas incertas, conquanto o que virá depende tão só das versões
adquiridas nas bancas hipnóticas dos códigos. As melhoras ficções de antanho
falavam disso, dessa macroestrutura que se formava no horizonte.
1984, Laranja mecânica, Blow Up, Depois
daquele beijo, Admirável mundo novo, Utopia 14, Crônicas
marcianas, Matrix, Blade Runner, O caçador de androides,
e tantos mais, a enxergar os próximos quadros do espetáculo em forma de previsão
daquilo em formação no estômago dos séculos. Conquanto só impressão matemática,
esteiam largos haustos ao que possa daqui vir a ocorrer nessa estrada sinuosa
das civilizações rumo ao Infinito.
O senso indica, no entanto, a capacidade prevista das
criaturas e suas funções nunca estimadas no modelo ideal. Ver-se-ão, decerto, raízes
do inesperado a percorrer os mesmos córregos de antigamente, a fornecer matéria
prima inigualável à surpresa dos tempos vindouros.
(Ilustração: Hieronymus Bosch).
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