quarta-feira, 5 de novembro de 2025

Realidade mecânica


Os seres do espelho insistem viver a todo custo sua liberdade. Correm soltos, a torto e a direito, nas faixas escuras do imaginário e descem fortes ao mundo subterrâneo dos momentos que voam, a fazer do fantasmagórico a existência. Nisso e disso, nestante, vivem os habitantes dagora a fervilhar as mídias que inventaram na forma de migalhas deixadas ao vento. A tal dispersão digital implica, pois, nessas reentrâncias doutras perspectivas da própria humanidade.

Ao descer às profundezas do caos, dali, desse abismo, outras espécies vêm à tona, no formato exótico dos filmes mais absortos largados perlas calçadas deste mundo, onde antes só havia ficções. Passa-se de leitor a protagonista, numa maior sem cerimônia. Levas sucessivas de vultos desfilam pelas dobras dessas cápsulas em movimento, uns a transmitir a outros seus surtos e transes.

Então, aquilo até há pouco previsto qual contos e lendas, importam do mesmo tanto das inscrições fixadas na crosta desses dias assim abandonados. Lá de longe, apenas surtos do que houvera, visagens e surtos. Habitantes de época prescrita nas imagens transmitidas bem que significam figurantes a jogar seus dramas de horas incertas, conquanto o que virá depende tão só das versões adquiridas nas bancas hipnóticas dos códigos. As melhoras ficções de antanho falavam disso, dessa macroestrutura que se formava no horizonte.

1984, Laranja mecânica, Blow Up, Depois daquele beijo, Admirável mundo novo, Utopia 14, Crônicas marcianas, Matrix, Blade Runner, O caçador de androides, e tantos mais, a enxergar os próximos quadros do espetáculo em forma de previsão daquilo em formação no estômago dos séculos. Conquanto só impressão matemática, esteiam largos haustos ao que possa daqui vir a ocorrer nessa estrada sinuosa das civilizações rumo ao Infinito.

O senso indica, no entanto, a capacidade prevista das criaturas e suas funções nunca estimadas no modelo ideal. Ver-se-ão, decerto, raízes do inesperado a percorrer os mesmos córregos de antigamente, a fornecer matéria prima inigualável à surpresa dos tempos vindouros.

(Ilustração: Hieronymus Bosch).

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