domingo, 9 de novembro de 2025

O que se passa no juízo deles


De comum, aparecem do inesperado pela caligrafia das ruas e ilustram as páginas do tempo na maior desfaçatez. Mesmo porque de nada valeria explicar a razão de estarem nesse mundo das quantas perguntas que, sem resposta, prevalecem consigo e deixam largadas nos mistérios do que se passa no juízo deles. De que jeito responder, nem eles, os tais doidos de rua, sabem fazer; só exercitam os cumprir vidas afora, tais protagonistas inevitáveis do cotidiano deste universo.

Desde menino os observo lá donde vim, no sítio. Preenchem o estio das horas e andam mundos afoitos de longe do que dizem ser normal, distantes daqui a perder de vista. São bem comportados ao seu modo. Aceitam de bom grado as contingências, ao sol de impaciências irreverentes, e cumprem papeis inigualáveis no seio das comunidades. Nisso, trazem nomes típicos, fruto das tradições, semelhantes aos heróis e suas façanhas esquecidas. Capela. Soldado. Ligeirinho. Príncipe Ribamar. Sorriso. Garapa. Moipen. Quando passam, cumprem hábitos, às vezes falam, encenam atitudes. Respeitam relativamente as normas sociais. Sabem-se inúteis (talvez) mas componentes do modo semelhante ao que cabe aos outros ali em volta ditos padronizados. Comem. Dormem. Sobrevivem.

Houvesse necessidade, ninguém justificaria essas existências que surgem espontaneamente, e assim desaparecem no correr das cenas, deixando vagas imensas nas recordações de toda época. Tipos populares de seus tempos, amargam de verdade a lembrança das fases em que aqui passaram.

Deles nascem as histórias dos humanos que confundem liberdade com indiferença e executam seus scripts na maior sem cerimônia, ao sabor das circunstâncias, traçando pelas praças o chão onde vivem, e ter felicidade à sua maneira. Superpõem o modo de ser ao que nunca souberam exercitar doutro jeito no transcorrer das jornadas. Em meio aos ruídos diários de máquinas e falas, escolhem as estampas do que lhes coube notar. Vilões da própria lida, criam seus argumentos e os desenvolvem nos eitos mais extremos, a céu aberto, longe das opiniões, dos desassossegos, reservados em si. Nisto, vez em quando também nos avistam pelas calçadas a contar dos mesmos enigmas que também lhes tocam o sentimento.

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