domingo, 26 de junho de 2022

A floresta das palavras


Lá de onde vêm o silêncio e os sonhos, dali também vêm as palavras. Elas que sempre vivem soltas nos mundos invisíveis além da imaginação. Num mar imenso de significados, nele elas nadam sem pressa, vivem, apaixonadas, misteriosas, quais bichos de outras esferas, doutras dimensões... Têm existência própria e são meio selvagens, às vezes, porque a elas pouco ou nada importa serem utilizadas ou não em qualquer canto... Mesmo assim, elas alimentam em todos nós o desejo forte de domá-las, acarinhá-las, animais caprichosos e livres, porém cheias de poder inigualável tais belas pérolas, relíquias, pedras preciosas que iluminam a noite da ignorância à medida que sejam utilizadas no tanto certo, na quantia ideal como instrumentos de libertação dos que as dominem e sejam a elas fieis. Muitas dessas espécies voam pelos céus, pelos universos, pela inexistência; tantas, inclusive, desconhecidas, jamais vistas e levadas em conta pelos possíveis gestos nobres de quem delas se aproxime. Afoitas como só elas podem ser, mergulham nas vestes e nos sonhos; desvendam segredos; machucam compreensões, até verem nascer novas florestas e outros mares. Pródigas, despejam sentimentos puros naqueles que acreditam na verdade do coração e multiplicam histórias, belas aventuras de epopeias nunca vistas; criam contos fantásticos ao sabor da infância de povos primitivos; nutrem filosofias as mais inigualáveis que abastecem bibliotecas inteiras espalhadas pelo mundo; chegam ao sacrário das religiões e transmitem prodigiosas profecias, que se cumprem no decorrer dos infinitos séculos; insistem nas conversações de paz quando nações querem destruir umas as outras; murmuram declarações maravilhosas entre os amantes verdadeiros; substituem cautelosas as esperanças perdidas; e criam novas oportunidades aos infelizes que aguardam consolação de seus atos insanos. Palavras, que nascem às profusões nas ribeiras menos promissoras, porém necessitadas do ânimo de sobreviver diante das intempéries e dos dramas que sofrem as humanidades aonde quer que exista algum senso de consciência e vontade firme dos sinceros autores de tempos ricos de poesia e festa. Chegam suaves e abraçam carinhosamente os seres que aceitem a paz e o sol da presença superior dos dias iluminados. Suas sementes que germinarão de tudo, quando houver a certeza da felicidade nas pessoas e nos seus pensamentos.

(Ilustração: Floresta do Congo, reprodução).

2 comentários:

  1. Que riqueza de texto. Retrato fiel da beleza silenciosa da floresta com seus encantos e cheiro característico de arbustos, plantas e nativas. 👏👏✨✨💫

    ResponderExcluir