Há que existir uma imagem nalgum lugar a que se possa
escrever. Meras palavras soltas ao vento jamais dariam certezas de pisar o chão
das almas sob o teto das maravilhas. Decerto que tem sido assim desde sempre,
de quando grupos cantavam nas noites em volta do escuro das cavernas. Pensamentos
vagos, ansiosos perscrutariam as alturas que a tudo invade e em todas as
direções, no saber das impossibilidades e querer sair da imensa bolha onde estamos
retidos dentro da bólide vadia que percorre o firmamento das eras. Blocos de infinitas
circunstâncias, pessoas e objetos, claros deslizam ao peso das garras do tempo
pelas carnes da existência. As paredes são comuns, granito e nada, que importam
os credos, as raças e as cores?... Lei sem exceção comprime os céus de concreto
e pó. Olhemos aonde chegam as vistas, e lá perdurarão paisagens de horizonte
descomunal. Pelotões das visagens vacilantes constrangem de sonhos algumas
migalhas da aventura e deixam levar, nas marés inevitáveis, o resto dos que se
forem.
Porém, ah! os porém que justificam tal mistério tenebroso que
a razão não pode responder, e que contêm as normas da Salvação. Salvar de se
deixar só escorrer na lama e nas gretas do pecado, e reviver o senso real das
criaturas humanas. Persistir até chegar ao cálice pleno do eterno Ser que em
nós habita escondido no mais íntimo coração. Eis, então, a alternativa única de
revirar essa história, no firo de cruzar a barreira da matéria e avistar logo, ali
adiante das vaidades que fogem, o nexo das virtudes, que disso contam os
místicos, as lendas e o impossível das epopeias de gigantes e fadas; às portas
de Si mesmo, a caravana erguerá, pois, braços além das muralhas de Jericó e receberá
o fruto doce das próprias descobertas na certeza doutras vidas de felicidade intensa.
Enquanto isso, o rufar das penas enormes desse pássaro
descomunal das gerações soará através do abismo, e das nuvens da esperança virão
novos sóis e séculos da consciência hoje ainda adormecida no frio dessas manhãs
invernosas. Quando, bem nessa hora, calados, quietos, ouviremos ao longe os acordes
suaves de um sax a dedilhar em surdina o mais apaixonado bolero.
Nenhum comentário:
Postar um comentário