quinta-feira, 12 de outubro de 2017

Sentimentos

Imaginemos os amores da natureza original, quando diante de si apenas fluíam meras oportunidades no sentir o movimento dos astros lá nos céus distantes. Seres esquecidos de pensar vagavam soltos às portas do Paraíso. Variadas formas e cores preenchiam a paisagem necessária ao Criador no seu trabalho. Diversos, muitos que fossem olhavam desfilar criaturas quais fragmentos e detalhes das telas geniais do Autor até então desconhecido. Nisso, alguém resolveu nascer do sentimento. Vem de alma aberta e observa os instrumentos de libertação. Sabe de antemão que a solidão contará o todo tempo na saudade imensa da Eternidade. Que sentir implica conter as fronteiras do Universo no prazer único de ser feliz.

Portanto, individuais, perdidos nos próprios sentimentos, desde aquele dia eles andam na busca da realização do Ser. Tocam leves as dobras das condições materiais e perfumam as flores, nos jardins do firmamento; contudo cientes de haver pela frente o instinto de sentir face ao sentir dos demais seres. Pisam soltos nas folhas secas e nas nuvens, antes de serem amantes de si mesmo, egos, entretanto, que precisarão da paz nas outras emoções que vivem aqui por perto. 

O somatório disso determinou a força de continuar, saber encontrar na alma dos irmãos a luz inevitável de iluminar seus mesmos caminhos. Ninguém viverá partido, na harmonia da Criação. Pudessem, talvez aceitassem recusar o prazer infinito de amar. Pudessem, o que nem de longe será possível. Nas trilhas da escuridão, ainda presos ao sentimento, observam os que vão ansiosos à cata da liberdade que alimenta o título das ilusões. 

Decerto determinados por leis superiores intocáveis, silenciosos, deslizam cenário a fora, espécies de vítimas de sentir, a título de existir, preço alto, porém único. Sonham com os dias quando se verão aceitos nos reinos do Destino. Recolhem os amores no seio da virtude e da igualdade; firmam os amores nos séculos de revolução de luz imensa. Sentem-se também criadores do Infinito, e amam ainda mais.

(Ilustração: Andrei Rubliov).

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