Langor distante nascido de dentro de tardes mornas, silenciosas,
dos sonhos abissais, trazem vozes veladas dos metais que multiplicam e falam o trino
dolente dos sabiás sob as copas do Sertão. Refolhos da alma. Tons que soam nas encostas
dos corações distantes. Quantas, quantas harmonias chegam do definitivo nos
vãos eternos do tempo, limbos da essência e do desconhecido. Eles, os sinos e as
histórias que persistem gravadas entre os crivos da memória. Além de tudo, onde
existirão, nalgum lugar do imaginário, tais dobrões inesquecíveis de permanecer
sonorizando acordes nos segredos da gente solitária? Sons das nuvens que, suaves,
deslizam ao poente alaranjado, inevitáveis timbres perenes; gritos dos
sentimentos que escrevem melancolias e existências. Só assim, agora, leio, nas
paredes do mistério, as lembranças que restam e que ninguém jamais apagará.
Eles, no repetir da criação, noticiam que seremos para
sempre, no mar desta Vida, arautos de realidades imortais. Testemunhos das
tantas fábulas colhidas no pomar de aldeias longínquas, depois deles eu serei;
nós seremos. Contam disso narrativas infinitas, a todo momento, trabalho persistente
dos heróis e das esquadras invencíveis que tocam fibras mágicas e conquistam mundos
lendários, na pureza dos Céus.
Aos fins das tardes, pois, espalhados nos corredores do Destino,
ouço constantes os sinos que dobram e reorientam as aves no regresso dos
ninhos. Espécie de roteiro arcaico, com elas também voltam sinais de esperança
e fé que dizem ser do Amor o lenitivo. Explicam aos Espíritos o sentido único de
tudo que nos mantém a nós humanos, em longa epopeia através das sombras imensas,
viajores que escrevem o pergaminho dos astros.
Foram muitas vezes as de escutar a nostalgia desses altares
sinfônicos que fervilham o íntimo das existências. Vagos, vadios, suaves; trazem
por si guardados códigos secretos e motivos justos de andar nestes firmamentos.
Claridades das nossas jornadas rumo à Impermanência, circunstâncias de todos os
seres, e jamais esqueçamos a força dos deuses trazida na pele dos fiéis às leis
da Natureza. Recorrem, multiplicam, alimentam, os sinos de minha aldeia.
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