As vertentes místicas das religiões cumprem seus deveres de
ensinamentos através das narrativas simples que tocam a faixa intermediária
entre a razão e o sentimento, área neutra por meio de que será possível
vislumbrar a essência do mistério. Toda religião leva em conta esse braço mais prosaico,
menos afeito a tiradas filosóficas propriamente ditas. São os místicos do
Catolicismo os Padres do Deserto, além dos santos, que buscam a solidão dos
montes, os mosteiros, os conventos. Do Judaísmo, os rabis do hassidismo. Do
Islamismo, os sufistas. Do Budismo, os mestres zen.
O Zen-Budismo dispõe a seu modo de historinhas simples, os
koans, os contos, que oferecem meios de interpretação da Verdade à luz dessa
neutralidade mística que não significa teoria nem prática, e significa as duas
alternativas a um só tempo. Na ocasião em que o discípulo galga o nível da
compreensão profunda, ocorrerá um insight,
qual seja um relâmpago interior, que ocasiona infinita lucidez, também
denominada samadhi, ou satori. Eis o início da vida de mestre, em
que sairá pelo mundo a oferecer tais percepções a outros noviços.
- Um monge acercou-se
do Mestre e perguntou:
Qual o nome que podemos dar a uma pessoa que
entende a verdade, mas não a consegue explicar por palavras?
Respondeu: Um mudo comendo mel.
E a uma pessoa que nada sabe sobre a verdade,
mas fala sempre dela?
Um papagaio repetindo
as palavras que ouve.
- Um
noviço queixou-se ao Mestre: Como se está a tornar difícil meditar. Ou me
distraio, ou partes do corpo, em especial as pernas são assoladas por dores
terríveis. Por vezes, invade-me uma sonolência letal, que me obriga a dormir.
Estou plenamente desiludido comigo mesmo.
- Verás que tudo isso é
passageiro, respondeu o velho Mestre com
suavidade.
Decorrido algum tempo, retornou o noviço: - Mestre, que felicidade
a minha. A mente atingiu um estado de suprema tranquilidade. Meu corpo não tem
dores e está perfeitamente descontraído. Sinto-me em paz, em união com todos os
seres, com o Universo, um estado de maravilha constante.
- Isso também te
passará.
(Do livro Textos do agora II, de José Maria Alves
(www.homeoesp.org).
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