Isso de gostar de contar histórias vem de longe, desde meu tempo de criança maior. Dentre os primeiros autores que li, incentivado pela minha mãe e por Tia Risalva, irmã do meu pai, aprecio as lendas orientais. Recentemente, em visita a Seu Chico, amigo livreiro que mora aqui próximo, em Juazeiro do Norte, eu adquiri Lendas do Povo de Deus, da autoria de Malba Tahan, daqueles autores lá dos inícios do meu gosto pela literatura. Uma surpresa de qualidade a cada página. São narrativas surpreendentes dos místicos judeus do hassidismo, vertente dos rabinos israelitas. Na obra, li a história Meia fatia de pão, que aqui quero partilhar.
Rabi Haniná educava seus discípulos ensinando a descrença nos feiticeiros e adivinhos. Lá certo dia, dois desses discípulos precisaram adentrar a floresta na busca de lenha. Antes, porém, depararam com astrólogo que os solicitou a ouvir previsões lidas nos seus estudos. Foi, então, avisando que desistissem do intento a que se propunham, pois não iriam sair vivos da tarefa. Os discípulos, ouvindo aquilo, preparados pelo mestre, desconsideraram a instrução do vidente e sumiram mata adentro.
Lá frente, deram de cara com pobre ancião faminto, que lhes pediu uma esmola.
Os discípulos levavam tão só o suficiente ao passar do dia. Inda assim, partiram ao meio o pão do mantimento, e prosseguiram na missão.
Mais tarde, feixe de lenha às costas, ao sair da floresta avistaram o astrólogo, que se abismou ao reconhecê-los vivos. Pessoas que observaram as previsões, contudo, questionaram a seriedade do homem no que ele antes dissera.
Naquele instante, o astrólogo pediu aos discípulos que desfizesse o feixe de lenha que traziam. No meio das madeiras ali achou restos de serpente perigosa, morta, partida ao meio. Nessa hora, quis saber o aconteceu no decorrer da viagem.
E eles contaram do velho e o que deram a fim de que saciasse a fome.
O astrólogo, contrafeito, reclamou: - O que posso fazer, se o Deus de vocês deixa se influenciar apenas por meia fatia de pão?!...
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