terça-feira, 11 de março de 2014

Amor e destino

Desde o início da relação que ele notou a importância de sua presença em tudo por tudo. Ela crescera diante de paisagem qual sol resplandecente em manhã primaveril, tonalizando cores e realçando o formato de beleza. Quisesse imaginar diferente e haveria multidões de argumentos desfazendo chances de mudar de opinião. Nisso Hipólito se rendeu dolente nos braços de Alzira, fiel companheira de inverno e estio, consequência natural, trilho insuspeito do carinho da paz.

Contudo jamais haveria de considerar real o objetivo daquela mulher na sua vida.

Uma vida passada se envolvera de modo delituoso com pessoa de outro casamento. Perante as leis da reencarnação, a fim de resolver o impasse no processo evolutivo, condicionara passar por situação assemelhada, respondendo sob o véu da justiça ao que impusera a outros, nos tribunais da Eternidade. Sofreria não a título de vingança ou castigo, porquanto ditos fatores inexistem nos códigos do Céu, mas submeter-se-ia ao crivo da lei do retorno em que se merece o que plantou.

A companheira viera, pois, ao sabor das circunstâncias da colheita. Sem propósito preestabelecido, encontraram, certa noite, os giros de um parque de diversão dessas festas de padroeiro, e se engraçaram um pelo outro. Amor maior talvez existisse (quem sabe?), hipótese no entanto negada pelos dois amantes fiéis incondicionais.

Anos e anos de felicidade transcorreram céleres, somada à chegada dos filhos. Doces enlevos e amplas satisfações impuseram àquelas vidas padrão incomum de família exemplar, nos tempos críticos da indiferença dagora, cercados na tecnologia indiferente dos meios frios de comunicação.

Hipólito e Alzira voaram tantas vezes nas asas da ternura que nada de especial percebiam, inocentes seres das mágicas horas do amor. Jamais avaliaram que, no dizer do povo, não há bem que sempre dure, nem mal que nunca se acabe. Trabalhassem nessa perspectiva e se guardariam dos ataques da fortuna inesperada.

Correram os dias ainda mais rápidos até o lodaçal da dúvida, desafinando as notas do bolero triste que cantaram num abrir e fechar de olhos. As folhas do outono levaram bem longe o pranto convulso, inundando vales e montanhas, misturado com preces magoadas, recitadas nas encruzilhadas do destino. Sofriam, porquanto amar se amavam de não caber no peito.

O cavaleiro negro da sentença chegou na máscara da paixão, para cumprir seu mandado. A pena significava destruição de Hipólito, o descaminho de Alzira e o desajuste dos filhos. A cada um seu quinhão, mediante a equidade soberana.

Aqui outro elemento se apresentou na escala das ocorrências... 

Antes de ministrar a justiça, coube dosar os desdobramentos posteriores das existências dos envolvidos. O peso do amor entre Hipólito e Alzira tornou valor tão raro que reduzira o delito, relevando as dores no suficiente a que o destino árido e técnico da responsabilidade viesse transformar em perdão a relevância do crime antigo Como resultado, o sofrimento amaciado nos corações reverteu em consciência os amargores. Na história deles, a família seguiu vivendo e cumprindo seu papel de união, salvando a felicidade naqueles corações doloridos e amantes. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário