Outro mundo nascera ali nesse meio tempo. Qual tela própria dos séculos humanos desenharem locações de inigualável beleza, a Boa Terra se acostumou em receber as saudades da gente, desde momentos imemoriais da colonização portuguesa, primeira Capital e palco também das lutas holandesas. Nas ruas e logradouros, vagam fantasmas de dramas presenciados, as luas dos amores nascidos e desfeitos, porta da história nacional.
Pisei os séculos das pedras redondas cheio das impressões reservadas no carinho dos anos 70 que fora depositar no áureo período das esperanças juvenis, agora revividos na busca de feições ao menos conhecidas que fossem. Contava ansioso a certeza de identificar nos passantes velhos conhecidos, amigos muitos que adquirira e jamais achei nas esquinas de cantarias e conventos.
Entrei no banco em que trabalhara, no Terminal da França. Demorei algumas horas no Comércio, Mercado Modelo, Conceição da Praia, Elevador Lacerda, Terreiro de Jesus, Pelourinho, Praça da Sé. Rezei nas igrejas seculares, observei reverente o por do sol sobre Itaparica, pedaços de pensamentos e sentimentos espalhados no brilho intenso do mar da Bahia, tetos, paredes e chãos monumentos de luz acesa na alma, no entanto ninguém que houvesse dos pares de antigamente. Olhava as fisionomias dos habitantes na busca de traços próximos do que deixara, sem, contudo, apurar menores lucros de sucesso. Semelhante aos mineradores, trabalhei silencioso cada fisionomia debaixo dos cabelos tingidos na química das horas vagas, ouro entre cascalhos, porém só restaram terras de turistas e pessoas novas a preencher os pagos errantes da arcaica solidão que transportava dentro de mim.
Porto da Barra, Rio Vermelho, Piatã, Itapuã, Pituba, Amaralina, Boca do Rio, Baixa do Sapateiro, Vasco da Gama, Ladeira da Praça, Nazaré, Ribeira, Monte Serrat, Mares, imagens nítidas gravadas nos nomes poéticos dos bairros da retina, marcas fixas que persistirão, sei disso, entretanto utilizadas por lances comparados do que apenas testemunhara, agora na peleja de achar a essência que sumiu, longe das personagens visíveis noutras praias.
A receber tamanhas dádivas de dois tempos tão preciosos, lembrei de poema de Manuel Bandeira, Profundamente, a dizer dessas minhas lembranças baianas tão queridas: - Estão todos dormindo / Estão todos deitados / Dormindo / Profundamente.
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