domingo, 15 de julho de 2012

Eternos ídolos


Geração espontânea do ar, todo instante se recebe influências. Elas invadem a porta do coração e dominam sorrateiramente aspectos da personalidade, andam os nossos pés, falam nossas mãos e conversam nossos lábios. Quer-se esconder, na vaga aberta da solidão, quando chegam diretores de cinema, técnicos de futebol, maestros, governos, a dizer que roupa vestir nos passeios matinais, que comprar, contar nos círculos dos amigos. Andar plugado nos sons, estabelecer as virtudes absolutas oferecidas nos becos. Influências de rua, de colégio, televisão, valores, jornais, líderes ocasionais, artistas; sim, os artistas, deuses de massa do Olimpo. Criaturas platinadas, alienígenas camuflados por baixo das lentes argutas de câmeras onipresentes; forçam propaganda nos cartazes e oferecem céus de salvação em credos, filosofias, faculdades, partidos, canais; mostram a face dos dias nas luzes piscando impulsos que querem mais adeptos.

Ao estilo disso, perguntar quando essa proposta de conquistar começou na história. Remonta antes das caravelas aportarem nas costas brasileiras. Reinados antigos empunhavam flâmulas esvoaçantes, no calor das batalhas, quando rufavam tambores, fanfarras nas festas atrás das eras pré-colombianas. Havia apelos de poder largados em ruínas que hoje escavacam buscando relíquias de museus, dos pesquisadores obedientes.

E que destino tomaram os ídolos que alegravam os castelos de sonhos nem sabem contar profetas adormecidos. Coleções abandonadas, no entanto, ainda falam de revolucionários, superstars, santos, orixás, andarilhos, doidos simpáticos, trovadores, arquitetos, pois dominavam as vistas e chegaram perto do destino de pessoas que os observavam os exemplos.

Quer-se autenticidade, porém importa viver no meio das multidões entontecidas de paixão. Ouvir as músicas do tempo, sentir o cheiro dos rebanhos, ouvir bater os carrilhões aos fins de tarde, nas aldeias, suavizar o Novo que nasce nas alvoradas sucessivas; guardar o alento polido na vontade do movimento; quantas presenças grandiosas de Si próprio lendo horas de prazer, e existir acima de saudades esquecidas.

Resolvesse digitar nomes de quem fez a cabeça dos povos, ninguém permaneceria ausente da lista. Tu, ele, vós, eles. Visagens apressadas, desfile interminável de partículas suspensas em tudo. Formatos das colagens chinesas multiformes, jeitos variados, reunimos na comunhão conosco mesmo. Baús de ossos, sangue e carne, os transportamos aos pedaços no íntimo, por vezes marés e pensamentos. Os olimpianos que nos fizeram a cabeça se foram lá no longe das estradas, cacos largados em órbita, espécies de sucata sideral. Guardá-los representaria, por isso, preservar a fagulha saborosa espiritual que Só nós somos.

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