Geração espontânea do
ar, todo instante se recebe influências. Elas invadem a porta do coração e
dominam sorrateiramente aspectos da personalidade, andam os nossos pés, falam
nossas mãos e conversam nossos lábios. Quer-se esconder, na vaga aberta da solidão,
quando chegam diretores de cinema, técnicos de futebol, maestros, governos, a
dizer que roupa vestir nos passeios matinais, que comprar, contar nos círculos
dos amigos. Andar plugado nos sons, estabelecer as virtudes absolutas oferecidas
nos becos. Influências de rua, de colégio, televisão, valores, jornais, líderes
ocasionais, artistas; sim, os artistas, deuses de massa do Olimpo. Criaturas
platinadas, alienígenas camuflados por baixo das lentes argutas de câmeras onipresentes;
forçam propaganda nos cartazes e oferecem céus de salvação em credos,
filosofias, faculdades, partidos, canais; mostram a face dos dias nas luzes piscando
impulsos que querem mais adeptos.
Ao estilo disso,
perguntar quando essa proposta de conquistar começou na história. Remonta antes
das caravelas aportarem nas costas brasileiras. Reinados antigos empunhavam flâmulas
esvoaçantes, no calor das batalhas, quando rufavam tambores, fanfarras nas
festas atrás das eras pré-colombianas. Havia apelos de poder largados em ruínas
que hoje escavacam buscando relíquias de museus, dos pesquisadores obedientes.
E que destino tomaram
os ídolos que alegravam os castelos de sonhos nem sabem contar profetas
adormecidos. Coleções abandonadas, no entanto, ainda falam de revolucionários, superstars, santos, orixás, andarilhos,
doidos simpáticos, trovadores, arquitetos, pois dominavam as vistas e chegaram perto
do destino de pessoas que os observavam os exemplos.
Quer-se autenticidade,
porém importa viver no meio das multidões entontecidas de paixão. Ouvir as
músicas do tempo, sentir o cheiro dos rebanhos, ouvir bater os carrilhões aos
fins de tarde, nas aldeias, suavizar o Novo que nasce nas alvoradas sucessivas;
guardar o alento polido na vontade do movimento; quantas presenças grandiosas
de Si próprio lendo horas de prazer, e existir acima de saudades esquecidas.
Resolvesse digitar
nomes de quem fez a cabeça dos povos, ninguém permaneceria ausente da lista. Tu,
ele, vós, eles. Visagens apressadas, desfile interminável de partículas suspensas
em tudo. Formatos das colagens chinesas multiformes, jeitos variados, reunimos na
comunhão conosco mesmo. Baús de ossos, sangue e carne, os transportamos aos pedaços
no íntimo, por vezes marés e pensamentos. Os olimpianos que nos fizeram a
cabeça se foram lá no longe das estradas, cacos largados em órbita, espécies de
sucata sideral. Guardá-los representaria, por isso, preservar a fagulha saborosa
espiritual que Só nós somos.
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