segunda-feira, 5 de maio de 2025

Esse outro Eu


Há um ser que nos preenche o espaço entre as palavras, o silêncio. Um ser, algum ser. Tal personagem vivencia consigo próprio, e observa constantemente o jogo de montar donde nascem os significados em volta. Ser próximo e distante, talvez desconhecido de muitos. Alguém constante, a formar numa tiragem única dos pensamentos as folhas do Tempo. Espécie esquisita das presenças, segue o instinto de procurar o jeito ideal de chegar aos sentimentos. De hora em hora, numa sequência inesgotável, ali transitam em imagens feitas no desejo de revelar a si o que seja pertencer aos lugares, estar aqui, qual seja isto, porém.

Pessoa a pessoa, se veem, se deparam num processo de ajustamento da ordem até então desconhecida de ambos. Mas saber que não podem parar a qualquer dia, sob pena de esquecer nalgum ponto do Universo aquele eu que traz consigo desde quando existe. Isso equivale a um sistema de crenças, de códigos verbais, de tradições ancestrais, lendas, procissões, mitos vários que plugam no vento, nas emoções guardadas lá de antes, nos instantes de solidão, notícias, inquietações, filmes, livros, filosofias, pedaços de sonhos, interpretações musicais, tudo, enfim, que compõe essa dimensão de existir perante os desaparecimentos corrosivos. Sustentar, pois, esse ator inevitável que seja, equivale continuar diante das vastidões e dos desafios.

Nisto, impera um poder substancial perene quem consta nalguns sinais enquanto acontecem os fenômenos em volta. São comboios sucessivos de marcas determinantes, que sussurram a continuidade entrelaçada em tudo o que haja. Nesse transe de conhecer e escutar o silêncio, bem evidente as nuvens de palavras formam o alimento dos dias, na ânsia absurda de mourejar pelo mundo à canta do Destino.

As lembranças, os valores, atitudes, circulam à toa no vazio, no entanto presos ao chão das histórias que tantos contam, a cruzar os ares, e permanecer inexistentes logo em seguida. Não fosse, por isso, as palavras, viver tornar-se-ia, por demais, uma missão de dúvidas e ausências de quase nenhuma existência, impossível de ser.

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