Aos finais das tardes, nem tão escuro ainda, se ouve na distância o canto delas, as saracuras (ou três potes), aves pernaltas, isto numa intensidade de causar espanto. Sei que avisam de algo, talvez até delas mesmas desconhecido. Cantam de um tanto de tudo em volta. Do dia que some, pouco a pouco, diante das sombras da noite; do silêncio que chega no pausar da solidão; das horas em desafio nas vidas em movimento, no que resta em volta antes de sumir as visões no pouso do fim do dia.
A que pensar senão escutar a imensidão do firmamento, das
águas que escorrem pelas frestas raras das matas donde vem o canto inesperado. Nisto,
fala a imensidão através das figuras apressadas a caminho de casa. Em tudo,
seres pequeninos diante do mistério ali presente nesses detalhes do instante. Um
vendaval de pensamentos perfaz o resto daquele universo guardado na alma da
natura. Elas dizem, longe, do pouco ao nada em volta. Apenas os sonhos de querer
conhecer, nisso que vivem tantos.
E nesse meio tempo, tudo o mais há de prosseguir, seja lá
onde. As guerras, os tumultos financeiros, as explorações dos grupos, a fome, o
tanto que for, quando uns querer ser maior que outros no descompasso que
alimenta a ganância.
No recôndito das matas, no entanto, a Natureza impõe suas marcas
profundas ao coração dos seres, na certeza de que existe algo definitivo além, livre
das opiniões gerais. Poder inigualável assim observa de perto o ritmo dos
momentos e definirá, na ocasião precisa, o sentido desse estágio das populações
pelos limbos da aventura. Ao sabor das palavras, pois, os séculos respondem ao próprio
enigma e sobrevive nos conceitos apenas precários das criaturas humanas.
Fôssemos deixar por conta do acaso e os céus despareceriam no Infinito.
Essa trilha sonora do silêncio explica o motivo de tocar o
senso dos destinos e jamais esquecer a alegria do íntimo do Ser. Viver qual
razão essencial das existências, em nós e no quanto existe, durante as eras
inesgotáveis do mistério.
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