Poesia clássica, romântica, moderna, de vanguarda, sertaneja, traduções, o que quer que fosse, que valha a pena nesta hora. Versos, reversos; poemas livres; rimados, metrificados; conhecidos, desconhecidos; em prosa; concretos; abstratos; tristes, alegres; venturosos, místicos; tradicionais, recentes?! Andei, que andei; olhei as prateleiras do juízo, isso num ritmo breve, porquanto não aceitaria nunca não ter um poema de predileção, eu detentor do prazer das palavras, espécie de virador das folhas secas dos livros, heranças inevitáveis dos dias, assim qual cão farejador dos inspirados autores.
Até no sentido de livrar a cara de mim mesmo, numa chamada à responsabilidade pelo tempo aplicado no filão das letras, e tratei logo de achar a resposta que devesse à filha indagadora.
Andei na seara dos confidentes das horas de solidão, nas caladas dos volumes e das horas. Drummond. Vinícius de Moraes. Raul Bopp. Mário Quintana. Castro Alves (Vozes d’África). Cecília Meireles. Murilo Mendes. Ihhh, Fernando Pessoa, monstro sagrado da expressão portuguesa. Bertolt Brecht. Sonetos de Machado de Assis. Olavo Bilac, o perscrutador das estrelas. Raimundo Correia. Padre Antônio Tomás. Ferreira Gullar. Hummm, tarefa das arábias me fora trazida a queima roupa. Os amigos daqui, de valor inestimável, Patativa do Assaré, Luciano Carneiro, Edésio Batista...
Bom, ainda que cheio de empáfia de conhecer do povo de tamanha inspiração, haveria de achar a joia rara dessa coroa dos versos no meu gosto que desafiava o senso de apreciação. Então aflorou, sim, em flagrante súbito quando firmei os pensamentos. O poema que aprecio incondicionalmente, Janaína, é de Manuel Bandeira, Profundamente: Quando ontem adormeci / Na noite de São João / Havia alegria e rumor / Vozes cantigas e risos / Ao pé das fogueiras acesas. / No meio da noite despertei / Não ouvi mais vozes / nem risos / Apenas balões / Passavam errantes / Silenciosamente / Apenas de vez em quando / O ruído de um bonde / Cortava o silêncio / Como um túnel. / Onde estavam os que há pouco / Dançavam / Cantavam / E riam /Ao pé das fogueiras acesas? // — Estavam todos dormindo / Estavam todos deitados / Dormindo / Profundamente. // Quando eu tinha seis anos / Não pude ver o fim da festa de São João / Porque adormeci. // Hoje não ouço mais as vozes daquele tempo / Minha avó / Meu avô / Totônio Rodrigues / Tomásia / Rosa / Onde estão todos eles? / — Estão todos dormindo / Estão todos deitados / Dormindo / Profundamente.
De de volta ao um passado distante nos deparamos com restos de lembranças e fatos pitorescos que vivenciamos em nossa infância. E o poema citado retrata com maestria as noites São João nos belos tempos que se foram. A evolução, a tecnologia nós vamos distanciou ainda mais da beleza que é simplicidade do interior. Mas ficaram as lembranças boas, e essas nos pertencem para toda vida. Ressaltte-se também a forma minuciosa como relatou o fato. Um carinhoso abraço ao amigo Emerson Monteiro.
ResponderExcluir.."meninas brincando de roda, velhos soltando balão, jovens ao redor da fogueira, brincando com o coração"...
ResponderExcluirO poeta e escritor de minha preferência continua produzindo a mil.Parabens!
ResponderExcluirQue bom seria se pudéssemos voltar ao passado e num passo de mágica vivêssemos todos aqueles momentos bons, inocentes, onde tudo era puro, leve e feliz. Mas o tempo passa e tudo fica apenas na lembrança do tempo em que éramos felizes e não sabíamos. Parabéns! Um abraço Emerson Monteiro.
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