Nalguns momentos, feitos autores da própria existência, queremos desvendar os tais recônditos, e nos deparamos com a inexatidão das palavras e atitudes, quais infiéis a bater às portas do sagrado, porém de mãos profanas, meros aventureiros de novas conquistas do domínio das coisas vãs, atrozes produtores de altares de barro em meio das contradições do sentimento.
Noutros, contudo, haverá doce a calma de propósitos, enquanto as dores do parto do espírito confrontam as limitações deste Chão. Nessas horas, alquebrados aos valores da matéria, fingem sinceridade, dobram a cerviz sob o lenho das farpas deste mundo, e chegam menos estridentes. Discípulos da virtude, no entanto, mourejam debaixo de solidão estonteante. Restam, com isso, profetas de si mesmo noutro nível de compreensão, porquanto cruzaram as barreiras físicas e rasgam lá de dentro os véus da Verdade. A luz intensa desse sol reduz ao Nada o que antes significa motivo absoluto de viver.
Agora são músicas harmoniosas, perfeitas obras da criação artística. Abertas, pois, as comportas daquilo que vislumbrava, tontos de felicidade, adormecem nas profundezas do Infinito, espécie de esquecidos da alma antiga, agora transformados em senhores do desejo e luzes da realidade e do Amor puro. Na epopeia de revelar a Consciência, vê-se, então, integrados na claridade dos santos que sabem a Deus e chegam numa outra dimensão.
(Ilustração: Composição (1913), de Kandinsky.
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