sábado, 29 de agosto de 2015

Heróis da sobrevivência

Mais do que comum a gente avistar esses jovens largados pelas ruas na busca de preencher o tempo e cavar um lugar ao sol onde desfilam os outros seres humanos seus irmãos de raça. Andam pelas ruas estrangeiros no País de origem, desconfiados da sorte que lhes resta exercitar todo dia. São flanelinhas, distribuidores de propaganda de papel, vendedores de miçangas, pastoradores de carro; às vezes, pedintes; olhos fundos, faces esquálidas, barbados de adolescência precoce, assustados diante do desafio de sequer sonhar o futuro onde haveria família, casa, comida, pois de tanto morder os próprios dentes, quase nada aprenderam das profissões do mercado, nessas mumunhas das estatísticas oficiais. Transitam ao vento quais pássaros silvestres. Riscam e apagam no ar as trilhas lá onde andaram, no firmamento distante da imaginação. 

Comparação ocasional, lembram marmeleiros do Sertão, arbustos resistentes às intempéries do verão. Firmes nos carrascos, permanecem secos na época tórrida do estio, sem folhas, cor cinza, perdidas inocências ao calor irresistível; adiante vêm as chuvas e renascem com furor, verdejam a caatinga, enobrecem os olhos dos caboclos e se constituem no exemplo de resistência bem parecido com o jeito desses moços perdidos no vazio atual das cidades barulhentas e sórdidas.  

Bom, comparação quanto à força de querer viver, dominar as barreiras da inclusão que nunca chega. Porém quando virá tal inverno de esperança e o clima será propício anda longe ditas possibilidades de iguais comparações. 

Vítimas da ausência das coletividades plenas de cidadania, surgiram nas famílias pobres, excessos populacionais das periferias pouco frequentes às aulas, pais ausentes na luta do sustento, vezes até dependentes de substâncias químicas, marcas grosseiras de destinos assinalados, contudo massa de manobra na política e peças de reposição jamais utilizadas nos sistemas dominantes deste mundo.



Ainda que arrastem a judia sina de penar nas trilhas do momento, suas vidas mais que nunca carecem de sentido. E resistem feitos heróis anônimos à cata do mistério de verdades maiores e justas, que, decerto, os aguardam em uma dobra qualquer dos projetos sociais da Humanidade. 

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