domingo, 20 de maio de 2012

Nuvens de pedras


Aspectos assim das variáveis, imagens fortes da visão, representavam os voos solitários do pensamento nos horizontes em volta de um tempo. Pediam palavras, no desejo de significar a qualquer custo. Nalgum lugar e nisso, falei lembrando as horas que passava na varanda do sítio a observar movimentações nas nuvens pelo céu. Minha mãe me alertara disso, das figuras constantes que se formam e criam imagens inúmeras, rostos, bichos, cenas atípicas colhidas pela visão e transmitidas à imaginação no fundo azul do infinito. Menino, e ficava observando o cinema do firmamento, a televisão da minha infância silenciosa, solitária. Todo instante, as novas visões da matemática do Inconsciente mexiam as combinações de linhas gasosas da caligrafia monumental do lado de cima do sertão. Lá adiante, tempo da primeira escola, encontraria, no rajado da pintura dos lápis variações de cor parecidas, derramando pela superfície da madeira roliça, interpretações visuais assemelhadas com os diferentes traçados inscritos nas artes das nuvens. Formas informes, abstrações, instabilidades.

Depois, cheguei a trabalhar com telas e tintas, refazendo na intenção dos pincéis e espátulas o mesmo caminho da imprevisão das imagens da meninice. Buscava criar sentido às alterações sucessivas de propósito que a história da gente oferece a cada dia. Aflitos restavam gestos daquela força impetuosa, no propósito de achar fio de coerência. Horas seguidas, e o desejo de responder às alterações da natureza indicava só incoerência na própria coerência das movimentações dos elementos vivos. 

Em tantas tentativas abordaria as texturas que secavam nas telas e folhas, que, por vezes, viravam só manchas, até uma hora quando decidi recortar revistas e colar os pedaços inesperados, formando somas de tintas e figuras, sem, contudo, ter de esperar que secassem, isto para não melar as cores limpas que queriam a custo penetrar umas nas outras. Sairiam dezenas de painéis frutos daquele abstrato inconsequente daquela procura ansiosa para responder à angústia da liberdade solta pelo ar. Mas que permaneceria aguardando o interesse do olhar e das interpretações das outras pessoas. 

Desta maneira, as cenas que percorriam a visão, nas imagens do céu através das telas primorosas do Universo, voavam dos momentos às prioridades do pensamento, da linguagem. O esforço, pois, de concatenar o instinto de criar ora o identifico na insistência de tocar adiante ações da essência de tudo em mim, que estabelecem no si próprio a fluência inevitável das figurações. Máquina de justificar a consciência dos céus, agora fixo com palavras os quadros anteriores, formulando, na atenção de quem ler, os desenhos das nuvens de dentro de mim, partilhando sobrevivências e distribuindo pedaços do Ser interno com as pessoas, numa comunhão de sabores e emoções que tremulavam abandonadas nos corredores ativo do um Eu eterno.     

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