Aspectos assim das
variáveis, imagens fortes da visão, representavam os voos solitários do
pensamento nos horizontes em volta de um tempo. Pediam palavras, no desejo de
significar a qualquer custo. Nalgum lugar e nisso, falei lembrando as horas que
passava na varanda do sítio a observar movimentações nas nuvens pelo céu. Minha
mãe me alertara disso, das figuras constantes que se formam e criam imagens
inúmeras, rostos, bichos, cenas atípicas colhidas pela visão e transmitidas à
imaginação no fundo azul do infinito. Menino, e ficava observando o cinema do
firmamento, a televisão da minha infância silenciosa, solitária. Todo instante,
as novas visões da matemática do Inconsciente mexiam as combinações de linhas
gasosas da caligrafia monumental do lado de cima do sertão. Lá adiante, tempo
da primeira escola, encontraria, no rajado da pintura dos lápis variações de
cor parecidas, derramando pela superfície da madeira roliça, interpretações
visuais assemelhadas com os diferentes traçados inscritos nas artes das nuvens.
Formas informes, abstrações, instabilidades.
Depois, cheguei a
trabalhar com telas e tintas, refazendo na intenção dos pincéis e espátulas o
mesmo caminho da imprevisão das imagens da meninice. Buscava criar sentido às
alterações sucessivas de propósito que a história da gente oferece a cada dia.
Aflitos restavam gestos daquela força impetuosa, no propósito de achar fio de
coerência. Horas seguidas, e o desejo de responder às alterações da natureza
indicava só incoerência na própria coerência das movimentações dos elementos
vivos.
Em tantas tentativas
abordaria as texturas que secavam nas telas e folhas, que, por vezes, viravam
só manchas, até uma hora quando decidi recortar revistas e colar os pedaços
inesperados, formando somas de tintas e figuras, sem, contudo, ter de esperar
que secassem, isto para não melar as cores limpas que queriam a custo penetrar
umas nas outras. Sairiam dezenas de painéis frutos daquele abstrato
inconsequente daquela procura ansiosa para responder à angústia da liberdade
solta pelo ar. Mas que permaneceria aguardando o interesse do olhar e das
interpretações das outras pessoas.
Desta maneira, as
cenas que percorriam a visão, nas imagens do céu através das telas primorosas
do Universo, voavam dos momentos às prioridades do pensamento, da linguagem. O
esforço, pois, de concatenar o instinto de criar ora o identifico na
insistência de tocar adiante ações da essência de tudo em mim, que estabelecem
no si próprio a fluência inevitável das figurações. Máquina de justificar a
consciência dos céus, agora fixo com palavras os quadros anteriores, formulando,
na atenção de quem ler, os desenhos das nuvens de dentro de mim, partilhando
sobrevivências e distribuindo pedaços do Ser interno com as pessoas, numa comunhão
de sabores e emoções que tremulavam abandonadas nos corredores ativo do um Eu
eterno.
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