domingo, 20 de março de 2022

Olhos postos no Infinito


Ninguém foge de si mesmo. Porém aonde ir que não seja ao sumidouro da ausência, quando lá estaremos na certa. Conclusões nítidas face aos céus da alma da gente, avaliações por demais necessárias a que cheguemos à conclusão definitiva da importância de existir. Conjugar todos eles os tempos na primeira pessoa, vez que de olhos no universo o Tempo alimenta o presente na máquina de contar segundos e sustentar as colunas de tudo a desmanchar sem chance alguma de dominar o momento.

Assim, passa aos olhos o circuito inextinguível de acompanhar nossas ações e seus resultados, as ações da Natureza pelo visor dos acontecimentos. Nós, de tão pequenos a tão grandes, por contar essa virtude da presença e de ter consciência a escorrer no caudal, aparecer e desaparecer na tela de uma nossa mente contínua. Vítimas e privilegiados, pois, no único ser que o somos e deixamos de ser em seguida enquanto iscas incessantes de transformar sonhos em realidade, nesse túnel que liga passado e futuro e que nos engole devagar pelas suas células das entranhas.

A quantas anda, portanto, o destino, essa casa constante que domina e que a ela nos rendemos sem qualquer alternativa senão dominar a um só tempo a dor e o prazer. Escafandristas de nós, por isso invadimos territórios e distâncias, e mergulhamos nesse mar sem fim, estonteante, escravos e senhores da própria sorte, de olhos postos no Infinito da história que constróe sempre novas saudades e novos amores. Daí, sermos todos meros vazios em preenchimento no decorrer do mistério que ainda de longe ignoramos o que resta.

Quando ouvimos o que contam de outras horas, de outros lugares, outras dimensões, alargamos as horas da imaginação e persistimos de continuar feitos autores de roteiros adormecidos aonde desaparecem luas e sóis. Pedimos de nós a paciência de que tudo isto dará aonde nasce a esperança e fé, e viveremos a nós mesmos numa longa espécie em evolução.

Deixar, contudo, que flua esse pulsar do Tempo no íntimo das criaturas, eis o modo prático de escutar a voz do silêncio e dormir o sono solto das certezas de que, logo ali adiante, reviverá na paisagem.

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