Certa feita, li algo a respeito de serem captados sinais de televisão emitidos alguns anos antes, cinco a sete anos, que, aos pedaços, foram sintonizados em um receptor na costa do Pacífico, na América do Sul. Algo assim fantasioso, de que seguiriam vagando no éter, donde permanecessem circulando quem sabe até quando?... Mas que foram vistos e documentados.
Sinto isso meio parecido ao andar pela cidade onde vivi
largo tempo nesta vida, ao me deparar com reedições sucessivas de cenas doutras
oportunidades antigas, lembranças persistentes que parecem ficar grudadas nas
paredes, ruas e praças, a falar daquelas horas por mim vivenciadas nas décadas
anteriores. São sensações, memórias, ocasiões, que, por vezes, insistem
sobreviver, guardando situações, pessoas, momentos...
Quais viessem de fora, dalgum outro semblante invisível, no
entanto de novo nascem daqui de dentro dagente. Quase seriam mais fortes no
sentimento e no pensamento do que ao tempo em que existiram na realidade. Nisso
vêm acrescidas de emoções, saudades, tais fragmentos soltos de pessoas que
nelas viveram. Um espetáculo intenso de fortes ondas desse mar perdido na
distância dos dias, que voltam e tocam nossos pés, uma reedição das horas mortas
que não aceitariam desaparecem de tudo.
Mesmo que saibamos sumir nos escombros do passado,
entretanto gritam forte pelas cavernas do ser e querem, a fina força, dominar,
tais fantasmas criados de nós, fortes fiapos da alma que vamos largando, momento
a momento, do que a gente foi, pensou, falou, sentiu, fez, e que seguem nossos
passos, espécies de filamentos eternos de nossa consciência que não aceitam nos
abandonar jamais.
Bem desse jeito, ao caminhar pelas calçadas, pelos lugares onde encenamos a nossa história, ladeados por tantos e tantos protagonistas, na
cidade em que habitamos e mourejamos, há muito que distinguir dessa longa
caminhada rumo aos segredos de que somos guardiões da própria jornada.
Quantas eternidades existem, pois, no seio da única Eternidade,
e que delas significamos testemunhas privilegiadas dos sonhos e senhores das
nossas perenes recordações?!
Lendo seu texto, me veio a lembrança o tareco e a mariola guardados que estavam, há muito tempo, nos pequeno espaço destinado aos doces sabores da infância na Rua Pedro II, antiga Pedra Lavrada.E então as lembranças desfilaram , como em dia de festa, cobrindo-se de roupas coloridas e enchendo meus olhos de lágrimas , misto de tristeza e alegria!
ResponderExcluirUma beleza de crônica que revela o aspecto eminentemente sentimental do ser humano e nos mostra o quanto a memória é o sentido mais profundo da alma e do espírito.
ResponderExcluirO culto das recordações é típico dos homens de elevada categoria moral e cultural. Quem está isento de sentir, sucessivamente, ao longo da vida, o efeito as experiências vividas mundo da infância? Quem sabe se o que vivemos hoje não é uma espécie de repetição alternativa do que já aconteceu em tempos remotos de vidas anteriores? Emerson Monteiro nos faz pensar nesses assuntos transcendentais e fundamentais em seus escritos de precioso valor literário.