Há quem diga que vivemos um sonho, espécie de fumaça que se desmancha nos momentos e some. Que outra realidade impera bem no íntimo da Consciência. Que, lá certo dia, chegaremos ao teto dessa compreensão e nos libertaremos das malhas da ilusão. Que viver significa isso, experimentar o desfalecimento das aparências e vagar solto nos ares do Universo. Que o mais é puro apego ao inexistente, qual quem busca fogo-fátuo, dia após dia, nos entretanto a obter apenas uma recompensa parcial devida ao impulso dessas inexistências em que mourejamos.
Assim, dentro disso, no furor desse tempo só provisório,
aqui tocamos o crivo do Destino tais aventureiros da compreensão relativa das
fantasias que ferem os sentidos, sem, contudo, nelas permanecermos em caráter definitivo,
a não ser numas fases temporárias que representam as poucas histórias
individuais. Testemunhas, pois, dos experimentos desse mistério profundo,
reunimos nossas memórias em barcos de lembranças, alimento da improvisação de
viver. Viver e continuar. Persistir no fluxo dos céus, naves de galáxias até
agora desconhecidas. Nós, fragmentos do grande todo num movimento constante.
Daí, vêm as lendas e lendas guardadas na alma das pessoas. Elas,
que transcorrem o tempo, instrumentos da sorte de si mesmas, fruto do
entendimento e suas práticas transitórias. Sabemos pouco do que seja isto; inclusive
de conhecer a insustentabilidade em que sussurramos os desejos, nessa casa transitória.
Contudo, não poucos perdem o senso vez em quando. Sabem que
seguem sem saber aonde ir. Reúnem as peças da engrenagem que elas são, todavia
ignoram a que se destinam. Perdem o mapa desde logo, fugitivos de si à mercê
das estações. Perfeições parciais, querem de algum modo desvendar o itinerário,
entretanto esquecidos do que nunca lembraram antes, seres flutuantes em um mar
de sonhos. Valiosos artesões de máquinas maravilhosas, lhes aceitam entregar o
comando. Vagões sem saída que sejam visíveis, pedras agitam no coração pela
vontade imensa de encontrar, face a face, a essência que dentro do Ser revelará,
de uma vez por todas, a Verdade salvadora.
...e assim caminharemos rumo ao porto final em busca do desconhecido que somos nós mesmos!
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