Dentre as muitas lendas amazônicas, existe uma que se destaca pela insistência em aparecer nos lugares mais distantes daquele universo de tantos povos e diversas culturas. Trata-se da lenda do Mapinguari, monstro descomunal cuja fama aterroriza índios e brancos que habitam a floresta. Envolto numa couraça inexpugnável, de resistência maior do que o casco da tartaruga, tem um único olho, bem no meio da testa, garras compridas, afiadas, e presas fatais, qual sendo animal pré-histórico que ainda persiste no formato de preguiça gigante, refugiada nos recônditos selvagens daquelas paragens remotas, a se alimentar de carne e sangue. Até hoje, nenhum pesquisador conseguiu localizar as provas definitivas da existência desse espécime raro. Todavia o imaginário popular não cessa de acrescer novos elementos ao já vasto material existente quanto às suas evidências, alimentando, dessa forma, a possibilidade daquilo que será, quem sabe, um dia?, a realidade demonstrada desse mito distante.
Segundo contam os nativos, o Mapinguari se origina sempre de uma mutação que acontece aos pajés mais velhos das tribos indígenas, quando esses, em vez de morrer, como sói esperar a todos os viventes da Terra, lá certa noite de lua nova, enquanto dormem se transformam nesse monstro perigoso, permanecendo desacordados até o romper da lua cheia, momento de maior risco para toda a tribo, pois daí passam a devorar os seres vivos que acharem pela frente.
Prevenidos disso, os guerreiros se alertam e, quando antecipam o instante desse fenômeno, munem-se de toras de madeira apropriadas, fazem uma jaula fornida e, no escuro da lua nova, amarram com vigor e cuidado o pajé sujeito a se transformar, garantindo tempo para que todos fujam, de pronto abandonando a aldeia e deslocando todo seu povo para outra localização em área afastada, cuidando de não deixar qualquer pista.
Passadas as fases da Lua até chegar à lua cheia, havida a mudança prevista, o bicho desperta faminto, rompe as cadeias que o prendem, pisa forte com pés de tronco gigante e estronda na mata seu uivo tenebroso, partindo a devorar as caças que achar pela frente, deixando na mata rastro de destruição jamais imaginado.
Eis a lenda do Mapinguari, famosa na Amazônia brasileira, estudada pelos antropólogos e folcloristas, em muitos momentos, ouvida de Florêncio Siqueira de Carvalho, cearense de Juazeiro do Norte, sobrinho de Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião, vivendo naquela região há muitos anos, tendo trabalhado na extração da borracha e morado nos seringais.
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