Depois de virmos morar em Crato, na segunda metade de 1953, ano do centenário do município, só voltávamos ao Tatu nas férias de julho. Isso por conta do ano escolar e das moagens do sítio, que coincidiam na programação da família. Havia transcorrido o período chuvoso, que aumentara as águas dos açudes e trazido um clima menos quente ao Sertão cearense.
Logo da primeira vez, foi de causar espanto face a tanta
saudade acumulada naquele menino de cinco anos, retirado das origens num
repente. Ao chegar, saía na procura do que havia deixado lá atrás; os animais,
as lembranças dos lugares, a capelinha, nossa casa, a casa grande, as árvores, cercas, currais, engenho, os moradores,
as famílias deles, os amigos, tudo enfim. Uma sensação de rasgar o peito,
passados que foram tantos meses de ausência daquele mundo ali guardada no peito
há tantos meses.
As primeiras oportunidades anuais, no entanto, terminavam com
o transcorrer dos dias, e, de novo, a dor das novas ausências apenas realimentadas
daí a um ano inteiro. Porém aos poucos iria me enfronhando com a cidade que nos
recebera; as escolas, os colegas, as ruas e praças, sorvetes e picolés, pão do
reino, revistas, livros; as distrações urbanas, os filmes; sim, os filmes de
cujos cartazes a gente tomava conhecimento algumas semanas antes da exibição.
Qual que espécie de contração íntima, quem sabe? numa traição
àqueles amores antigos ali abandonados, me examinava a sinceridade aos meus
apegos de um passado tão amoroso posto de lado à conta de novos amores. E isto
mexia comigo, a cotejar num exame de consciência que ainda hoje passo a
lembrar. Aonde perdera minha história, em que verão escorrera da memória aquele
passado inesquecível?!
No transcorrer, pois, disso tudo, agora examino por dentro meus
sentimentos à cata dos tais valores que o Tempo se encarregou de transformar...
É quando mais insisto nessa busca de preservação, ao contar, pouco a pouco, nos
mínimos detalhes de mim próprio, a intenção imaginária de me reencontrar e viver
sempre essa fase de vida original e verdadeira que uma vez conheci e não desejo
nunca perder, jamais.
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