Os olhos que enxergam a paisagem são os nossos olhos. A cor da paisagem quem vê somos nós. O mundo existe independente, mas nós lhe damos o tom, a melodia. A paisagem existe lá fora, no entanto de dentro quem a vê seremos sempre nós. Daí a imaginação de que fomos criados a fim de dar sentido aos mundos e seres. Isto é, o panorama existe objetivamente, não fosse, contudo, a nossa existência ninguém registraria tais existências. Somos o sujeito das existências, inclusive de saber da nossa existência.
Dizem os existencialistas que, nos outros seres, a essência
precede a existência. Vêm do jeito que serão. Já nos seres humanos a existência
precede a essência; ainda não sabem o que virão a ser ao sair de volta. Animais,
coisas e lugares nascem animais, coisas e lugares. O ser humano haverá de se
fazer ser humano, deixar de ser só um objeto em movimento ocasional. A
essência, o ser, nos humanos virá depois que existir, condição necessária. Se
não, estará sendo tão só mais um animal, ou coisa, ou lugar, em que a essência
estaria em potência sem realização daquilo que trazia quando chegara à
existência.
Bom, essas tiradas conceituais resolvem o desejo de contemplar
a paisagem do dia, uma manhã bonita de nuvens de chuva, chão molhado e frio
gostoso pelo ar. Os dias que sucedem aos dias. As belas manhãs que enchem de
vistas a alegria, quando a gente abre o coração e recebe de bom grado viver com
intensidade o deslindar do tempo. As certezas, as pessoas integradas no gesto de
viver em paz que elas delas conseguem obter. Horas de boa vontade.
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