Quase que adormecido sob os ponteiros do relógio das horas, insisto em contar as histórias da tradição de quantos nos trouxeram até hoje nos braços estafados de depois, e resistimos a qualquer preço, no mercado das condições humanas. Firmo pés nos barrancos escarpados e transmito aos outros o poder de alimentar antigas visões. Conquanto dotado dos meios necessários a reviver, nas manhãs, os ideais que morreram na véspera, nalguns amanheceres ainda doem as cicatrizes dessa batalha de viver.
Há, igualmente, o pulsar pertinente do coração, olhos postos no amor das criaturas, talvez o valor inestimável que arrasta todos aos campos de produção. Cercados de espiões da vigilância, somos espécies de trabalhadores forçados da lide imensa. Desconfiados, apressados e submissos, cabeças baixas às determinações do inexplicável, cá iremos nós ao foco dos céus. Sísifos a rolar pedras ao cimo das montanhas, silenciosos, presenciamos nascer o Sol e deixamos escorrer o suor das almas rios abaixo, nas ladeiras do Universo.
A isso, porém, de amar e ser amado, eis a única razão de ser e estar em quaisquer das circunstâncias. De nada adiantaria o que quer que fosse não existisse amar e ser amado, viver e continuar em frente, face as bordas do abismo e das eras.
Que beleza de texto. Cada parágrafo é uma etapa de vida e de eventos ocorridos ao longo do tempo. Metáforas tão reais que se enquadram na vida de qualquer um que leia. Eis aí o grande segredo do escritor, consegue passar emoções nem sempre seu ou de outrem, mas com tamanho sentimento que até parece referir-se a alguém conhecido. Parabéns pelo seu texto! 🙏🌷🌷🌷🌷
ResponderExcluir