Por volta de 1965, eu fazia o primeiro ano do Curso Científico, no Colégio Diocesano do Crato, quando resolvi aprender datilografia, prática em alta naquele tempo, utilizada nos escritórios de contabilidade ou em concursos para bancos e repartições publicas. Na frente do colégio, vizinha do consultório de Dr. José Nilo, havia uma escola dessa matéria, pertencente a Cesídia Alves Rocha, onde me matriculei no turno das 13h, com a aprovação de minha mãe, que aceitou me custear as despesas.
Terminavam as aulas do Diocesano às 11h30, ia rápido em
casa (morávamos ao lado da antena da Rádio Araripe, no bairro Pinto Madeira),
para logo retornar ao centro da cidade e desenvolver as habilidades no teclado
das máquinas. Um tanto aborrecido, porquanto a distância implicava em perfazer
longo trecho no horário mais quente do dia, sob a soalheira escaldante do
princípio da tarde.
Seguia-se passo a passo manual
roto que ficava ao lado das antigas Remington pretas, de antes da Segunda
Grande Guerra, pelos exercícios seriados, organizados em blocos de repetições
de teclas (asdfg, o primeiro deles) nas folhas que iam sendo colecionadas às
vistas atenciosas da professora, senhora bondosa, gentil e seguidora fiel de
cada aluno, ela mesma supervisionando as tarefas. Encontrados erros além da
margem de tolerância, far-se-ia de novo toda a página, na aula seguinte.
Depois de algumas semanas de
treinamento, os ombros do adolescente inconstante sentiram o peso da rotina.
Quis desistir, no entanto via impasse crucial: Como chegar à minha mãe e lhe
transmitir o inverso daquilo que dissera na hora de convencê-la da importância
do curso?
Aguardei o instante que julguei
próprio. Meio-dia, ocasião em que ela e meu pai se recolhiam para a sesta, do
lado de fora do quarto, comuniquei a decisão de largar de vez as aulas. Como
resposta, ali mesmo, ouvi boa coleção de vigorosos argumentos que me
justificavam a permanecer no compromisso.
Então, de cabeça baixa, fiz da
fraqueza a força, qual diz o povo, insisti em superar as limitações que
desanimavam, até concluir todo o procedimento e receber meu primeiro diploma,
com fotografia, festa de entrega e tudo mais que tinha direito.
Resultado, aprendi a digitar nas
máquinas de escrever e não demorou que merecesse uma Olivetti Studio 44, que
serviria de instrumento para aplicar a técnica. Passei a escrever com
freqüência, desenvolvendo com isso a redação. Tomei gosto e daí a pouco
produzia crônicas para as Rádios Araripe e Educadora, e consegui meu primeiro
emprego no Jornal A Ação, ao lado de Antônio Vicelmo, Armando Rafael e Pedro
Antônio Lima.
Na sequência dos acontecimentos,
em fins de 1966, participei de concurso para o Banco do Brasil, cujo resultado
determinaria a minha profissão por trinta anos, em cujas habilidades em
datilografia e redação ocasionaram diferença fundamental.
Conto essas coisas querendo avaliar o quanto pesam as pequenas conquistas, elemento definidor do destino das pessoas. Longe ninguém chega sem reunir o empenho dos primeiros passos, orientação aos que iniciam jornada rumo do futuro.
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