terça-feira, 8 de julho de 2025

O curso de datilografia


Por volta de 1965, eu fazia o primeiro ano do Curso Científico, no Colégio Diocesano do Crato, quando resolvi aprender datilografia, prática em alta naquele tempo, utilizada nos escritórios de contabilidade ou em concursos para bancos e repartições publicas. Na frente do colégio, vizinha do consultório de Dr. José Nilo, havia uma escola dessa matéria, pertencente a Cesídia Alves Rocha, onde me matriculei no turno das 13h, com a aprovação de minha mãe, que aceitou me custear as despesas.

Terminavam as aulas do Diocesano às 11h30, ia rápido em casa (morávamos ao lado da antena da Rádio Araripe, no bairro Pinto Madeira), para logo retornar ao centro da cidade e desenvolver as habilidades no teclado das máquinas. Um tanto aborrecido, porquanto a distância implicava em perfazer longo trecho no horário mais quente do dia, sob a soalheira escaldante do princípio da tarde.

Seguia-se passo a passo manual roto que ficava ao lado das antigas Remington pretas, de antes da Segunda Grande Guerra, pelos exercícios seriados, organizados em blocos de repetições de teclas (asdfg, o primeiro deles) nas folhas que iam sendo colecionadas às vistas atenciosas da professora, senhora bondosa, gentil e seguidora fiel de cada aluno, ela mesma supervisionando as tarefas. Encontrados erros além da margem de tolerância, far-se-ia de novo toda a página, na aula seguinte.

Depois de algumas semanas de treinamento, os ombros do adolescente inconstante sentiram o peso da rotina. Quis desistir, no entanto via impasse crucial: Como chegar à minha mãe e lhe transmitir o inverso daquilo que dissera na hora de convencê-la da importância do curso?

Aguardei o instante que julguei próprio. Meio-dia, ocasião em que ela e meu pai se recolhiam para a sesta, do lado de fora do quarto, comuniquei a decisão de largar de vez as aulas. Como resposta, ali mesmo, ouvi boa coleção de vigorosos argumentos que me justificavam a permanecer no compromisso.

Então, de cabeça baixa, fiz da fraqueza a força, qual diz o povo, insisti em superar as limitações que desanimavam, até concluir todo o procedimento e receber meu primeiro diploma, com fotografia, festa de entrega e tudo mais que tinha direito.

Resultado, aprendi a digitar nas máquinas de escrever e não demorou que merecesse uma Olivetti Studio 44, que serviria de instrumento para aplicar a técnica. Passei a escrever com freqüência, desenvolvendo com isso a redação. Tomei gosto e daí a pouco produzia crônicas para as Rádios Araripe e Educadora, e consegui meu primeiro emprego no Jornal A Ação, ao lado de Antônio Vicelmo, Armando Rafael e Pedro Antônio Lima.

Na sequência dos acontecimentos, em fins de 1966, participei de concurso para o Banco do Brasil, cujo resultado determinaria a minha profissão por trinta anos, em cujas habilidades em datilografia e redação ocasionaram diferença fundamental.

Conto essas coisas querendo avaliar o quanto pesam as pequenas conquistas, elemento definidor do destino das pessoas. Longe ninguém chega sem reunir o empenho dos primeiros passos, orientação aos que iniciam jornada rumo do futuro. 

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