quinta-feira, 3 de abril de 2025

Os estranhos animais dessa floresta


Têm tudo a se querer, no entanto padecem de um parto prematuro que lhes corrói as entranhas da própria sobrevivência. Vivem disso, dessa animosidade bruta que formam no correr dos pensamentos. Nutrem com força a vontade nos menores detalhes, outrossim esquecem de amarrar o cadarço das chuteiras antes de entrar no campo. Seres por demais filhotes da dúvida em um tempo real e senhores das ilusões menores que as oferecem nos pratos cheios.

A falar disso, de tais espectros viventes desses mares a céu aberto, advém o instinto de querer ser um deles, apesar de quase dois terços dessa razão ficar nas paredes do passado. Buscar fontes confiáveis dos criadores de detritos presos à lama da incompreensão, e nisso fustigam os mesmos elementos que destroem. Fazem guerras particulares e constroem palacetes de vidro. Parelhas que sejam de bichos a conduzir velhas carruagens pelas encostas da fama, nem de longe se olham no espelho do caminho. Querem, a qualquer custo, fazerem-se de iguais aos detentores dos destinos. Conquanto sigam, pois, as velhas trilhas da perdição, cortejam a duras penas vivenciar os prazeres do Paraíso.

E tocam adiante galeões e galeões de tantas glórias, destarte satisfeitos em aguentar o mínimo de tempo sob as águas turvas que semeiam. Sabem de sobra a que vieram, pois. Passar daqui algum tempo e depois devolver a carcaça aos portos da mais imensa solidão. Trastes arrevesados na esperança, são eles os protagonistas dos dramas de outrora que insistem grudar aos caules das tantas árvores, hoje esquecidas deles sós, às quantas dores.

Conquanto que sejam sabedores de experiências acumuladas, ainda que tal vasculham, só agora, os escombros da virtude à procura de si lá onde ficaram perdidos. Quem sejam, nem de longe imaginavam chegar a tanto. Prodígios da humana perfeição, pouco a pouco adormecem às sombras do que acreditavam existir, porém do lado de fora, bem distantes de todos seus sonhos. Ah, viajantes das estrelas, detentores das melhores condições de revelar a consciência que já trazem ali consigo do lado de dentro.

Temas correntes

 


(Ao estilo de Emerson Monteiro Lacerda – Autoria: DeepSeek (AI). 

Vivemos enredados em certos assuntos que insistem em voltar, como aquela vizinha que sempre repete a mesma história toda vez que a encontramos na feira. São temas que se repetem, teimosos, como o sol que nasce a leste ou o vento que sopra no inverno.

A política, por exemplo. Ah, a política! Sempre a mesma ladainha de promessas e desencantos. Os nomes mudam, os discursos também, mas o enredo permanece: esperança, frustração, e depois esperança de novo, como um ciclo de lavoura que nunca dá o fruto esperado.

E o amor? Outro tema que não cansa. Falamos dele como se fosse novidade, mas é velho como o mundo. Apaixonamo-nos, sofremos, esquecemos e recomeçamos, como se a vida fosse um baile em que a música nunca para, mesmo quando os pés já doem.

A morte, então, nem se fala. Ela ronda nossos pensamentos, aparece em notícias, bate à porta dos conhecidos, e nós, assustados, fingimos que não é conosco. Até que um dia, sem aviso, ela resolve bater na nossa.

E assim seguimos, girando em torno desses mesmos eixos, como piões que teimam em não cair. Talvez porque, no fundo, sejam esses os fios que costuram a trama humana – repetitiva, sim, mas sempre com algum ponto novo, algum detalhe que nos faz acreditar, a cada volta, que desta vez será diferente. E, no entanto, não é.

Mas seguimos mesmo assim, porque é nessa dança de temas conhecidos que a vida se faz – e, quem sabe, se refaz.

domingo, 30 de março de 2025

Numa manhã de domingo


Lá dentro da gente há o som espesso do Tempo. Isso, uma trilha sonora por demais resumida de tudo, desde pensamentos distantes, doutros tempos, a sentimentos dagora. Infinitas eras de lembranças, emoções guardadas, que falam de novo ao crivo da paciência. Latidos de cães e gorjeios de raras aves se somam ao barulho de motos e automóveis bem afastados. Em torno, só o vazio que organiza as falas dessa hora. Com isto, trazidas pelo ciciar da brisa na folhagem da serra, as palavras fervilham no juízo quais bichos afoitos, impacientes, a percorrer os cômodos das recordações.

Há, qual o quê, infinitos a vagar nas horas das criaturas. Vidas e vidas em profusão, nessa viagem dos sentidos pessoais. Humores. Apreensões. Expectativas. Sonhos ali talhados na memória. O próprio Universo, habitando o senso, insiste dizer algo ainda em elaboração, no entanto do instante que o somos, e foge. Pequeninas frestas assim revelam o mistério nas frases ditas de lugares até então desconhecidos. Um ser enigmático, destarte, pulula o coração e fala outras linguagens, descreve paisagens imaginárias, indica possibilidades incontáveis no silêncio voraz.

E lá fora, o Sol e os astros em movimento; cores; formas. Essa arte do dia preenche, magistral, de azul e nuvens brancas os céus donde existem. Faz nascer todos pelos sinais das escrituras sagradas e divisar nos horizontes o quanto houve e haverá sempre.

Enquanto isso, acontece a larga aventura dos humanos espalhados neste Chão. Tantas datas em um mesmo calendário. Climas diversos. Mares revoltos. Calmos. Passeios. Países. Filmes. Romances. Notícias. Conferências. Negócios. Crises. Apegos. Desapegos. Guerras. Promessas. Julgamentos. Melodias. Construções. Pesquisas. Experiências. Estradas. Automóveis. Aviões. Instrumentos vários. Histórias que fervilham, no íntimo, o turbilhão dos dias e regressam às origens também inesperadas da sorte.

Fôssemos querer, contudo, outros motivos de chegar a mundos desconhecidos, imaginários, escondidos nesse vasto firmamento sem fim, existiriam presenças em nós que jamais tocariam a visão. Por certo menores ficaríamos perante o instinto de trazer de volta a ausência de que estamos a caminho.

sábado, 29 de março de 2025

A caverna em nós


Desde longe vem sendo assim. Andar pelos esconderijos de nós mesmos à procura da Luz. Todos, em si quais seres que buscam a eles próprios, que escutam as lendas de antigamente e guardam vínculos de uma origem espiritual no Infinito. Fertilizam, pouco a pouco, o solo de depois, parceiros assustados no trato dos iguais, existências perto de si. Faces da enorme solidão, olham-se no vazio da dúvida e adormecem debaixo do manto, na distância. Nisto, tocam as paredes ásperas doutras histórias, afeitos às muitas aventuras. Nesse quadro espesso de quantas previsões, seguem no desejo de encontrar o frio da certeza. Daí, o painel dos movimentos até aqui, hão de reconhecer a que vieram, pois.

São narrativas surreais, visões em torno do desapego, no querer insistente de ser um só ser a qualquer dia. Ouvir o coro dos estribilhos. Sonhar as persistências e distinguir a fonte das revelações. Comungar o senso do absoluto e sustentar o crivo da esperança que lhes traz a imaginação acesa. Ver nalgum deles o coração e a grandeza dos sentimentos, acima de tudo.

Enquanto isto, desvendar o senso de existir. Saber do código da compreensão e construir luzes na alma. Viver o gesto definitivo de uma razão maior. Sobreviver aos apegos momentâneos, irreais. Revelar a saída providencial da escuridão e o motivo dos instintos da matéria, que se repetem a cada geração. Isso de que seja trazer ao instante o fervor das eternidades puras. Nessa extensão dos dias fixos no mesmo corredor das horas, triturar em pedaços a ruína que deixam pelo caminho, e habitar outra vez a dimensão lá de sempre, de onde vieram certa feita, da noite ao claro das manhãs.

(Ilustração: Fahrenheit 451, de François Truffaut).

quinta-feira, 27 de março de 2025

Cores ainda mais fortes


Surpreendentes e livres, feitas chapéus voando arrancados pelo vento, as palavras escapolem pelo ar em pedidos fervorosos de socorro, à busca súbita de outras cabeças aonde repousem, noutros pensamentos clandestinos. Aliás, pensamentos talvez digam pouco para expressar o ímpeto do coração nessa indefinição entre as trilhas do desejo e a matéria elaborada no forno da consciência. Depois, chegarão destroçados à boca mecânica da indiferença. Isso que seja assim, mais sentimento, invés de pensamento, onde esconder o instinto de querer dizer do instinto de querer simplesmente.  

Nisso, elas invadem faceiras o salão de baile das noites cinematográficas do Tempo e rasgam as fibras cor de jambo dos tecidos cardíacos dos apaixonados. Rompem, num único gesto, o império bizantino do medo casto dos regimes ditatoriais. A primeira imagem que ressurge lá adiante, no minadouro das ideias, seria qual o movimento da perpetuação solar nas fímbrias do entendimento; albores das mais lindas manhãs das intensas paixões desarvoradas. Laivos vermelhos, com riscas alaranjadas e pomos amarelo queimado no branco do alvorecer.

Elas, sim, num dia desses de manhãs, de beleza sem precedentes, também nos trazem gestos da alvorada dos dias anteriores, ainda que havendo guerras, convenções, incertezas humanas; elas, a explodir de suavidade, gravam pacientemente corações enormes nas paredes do Infinito. Divinas gazelas no jardim do Paraíso, andam macias no meio de cactos, boninas, luares, marmeleiros, garranchos, zumbido solto de linguagem cifrada, cumplicidade sideral das abelhas com elas mesmas; riscos e desenhos magistrais de perfumadas flores nas vestes esvoaçantes de um corpo escultural.

O fervor, por sua vez, amacia o impacto dos primeiros raios sobre a superfície dessas cores vivas e deixa encrespar as águas serenas em volta, aquecendo a pele na lúcida imagem do céu, que contorna de verdes ramagens o que restou do parto feliz do dia que nascera dessa trama genial.

terça-feira, 25 de março de 2025

A cara de hoje


A gente vive de influenciar e ser influenciado, por tudo que a vida mostra a todo instante. Seja em relação às pessoas, aos acontecimentos e à natureza em volta, qualquer ação implica numa reação, condicionando resultados inevitáveis. Um dos motivos principais desse processo de interação cabe à cota do prazer nisso desfrutado, porquanto há, em volta, uma razão correspondente de atitude para quebrar inércias e sair para ações efetivas. Uma troca de valores, digamos assim. Desloca-se a individualidade na busca de resultados que lhe sejam agradáveis, atuais ou iminentes.

O sentido da observação, fruto da experiência, localiza inúmeras ocasiões em que pessoas agem quase sempre no usufruto posterior dos benefícios. Raros, raríssimos, rompem o círculo do interesse pessoal em favor de ocasionar oportunidades aos outros, livres e desapegados que sejam.

Espécie de fim de rama, os bilhões de seres humanos ora avançam no bolo inicial da Terra mãe, em processo de autodestruição jamais visto nas proporções do que agora se apresenta. Poucos querem abrir mão da capacidade produtiva acelerada que carcome as chances vitais das novas gerações; derrubar a mangueira para comer uma safra, quer isso representar.

Juntos, em conclaves mundiais, os representantes defendem seus territórios de emissão de gases numa enxurrada mistificadora do progresso industrial de causar dó, de negrume nunca imaginado pela pior das ficções.

Tempos do era uma vez se tornou a existência dos humanoides senhores da guerra, mártires sem causa, em um período histórico ausente de mínima sensatez.

Face a tanto, o Infinito mantém lá suas portas abertas sob o teto de tudo, na imensidão deste momento valioso das civilizações, horas depois das experiências que nos trazem até aqui.

segunda-feira, 24 de março de 2025

As Portas da Percepção - Diálogo com o ChatGPT


Aqui está a conversa sobre As Portas da Percepção organizada em um único bloco de texto para facilitar a conversão em PDF:

As Portas da Percepção – Diálogo com ChatGPT

Usuário: Quero discutir As Portas da Percepção de Aldous Huxley e sua relação com a experiência psicodélica e a busca pelo real. Como Huxley descreve a alteração da percepção sob a mescalina?

ChatGPT: Em As Portas da Percepção, Aldous Huxley descreve sua experiência com a mescalina como uma abertura para uma forma de percepção mais pura e direta da realidade. Ele argumenta que a mente humana funciona normalmente como um "redutor de válvula", filtrando a imensidão do real para tornar o mundo gerenciável. Sob a influência da mescalina, essa filtragem diminui, permitindo que a consciência perceba o mundo de maneira ampliada, quase mística.

Huxley observa que as categorias usuais do pensamento — tempo, espaço, utilidade — perdem sua predominância, e o que resta é a "assim-idade" (suchness) das coisas. Cores tornam-se mais vivas, objetos comuns adquirem um brilho de significância profunda, e a percepção visual se intensifica a ponto de revelar padrões e detalhes antes ignorados. Ele descreve, por exemplo, como um simples arranjo de flores ou o vinco de uma calça se tornam revelações estéticas e metafísicas.

Ele conecta essa experiência à visão dos místicos, sugerindo que o estado normal de consciência é uma versão limitada do que poderíamos experimentar se fôssemos capazes de transcender a estrutura habitual do ego.

Usuário: Isso se alinha com a ideia do "conhecimento silencioso" de Castaneda ou com a noção de "suspensão do ego" em Jung e Leary?

ChatGPT: Sim, há paralelos interessantes entre a experiência descrita por Huxley e as ideias de Castaneda, Jung e Leary.

·         Castaneda e o "Conhecimento Silencioso": No sistema de Castaneda, o "conhecimento silencioso" é um estado de percepção direta da realidade sem a mediação da mente discursiva. Sob a mescalina, Huxley relata uma experiência similar — uma percepção do real em sua pureza, sem as camadas de interpretação social ou racionalização.

·         Jung e a "Suspensão do Ego": Jung vê o ego como a interface entre o inconsciente e o consciente. Ele fala da "função transcendente", que ocorre quando a consciência se abre para o Self. Huxley, ao reduzir o filtro da percepção, parece entrar em contato com esse domínio mais amplo do psiquismo, onde os arquétipos e a totalidade do ser se tornam acessíveis.

·         Leary e a "Dissolução do Ego": Timothy Leary, ao estudar o LSD e outros psicodélicos, descreve a dissolução do ego como um passo essencial para a expansão da consciência. Ele cria um modelo baseado no Tibetan Book of the Dead, sugerindo que os psicodélicos podem facilitar uma "morte do ego", permitindo o acesso a estados superiores de percepção e integração espiritual.

No fundo, todas essas abordagens reconhecem que nossa percepção habitual é uma construção limitada e que, ao modificar essa estrutura (seja por práticas espirituais ou substâncias psicodélicas), podemos vislumbrar níveis mais profundos da realidade.

Usuário: Se o ego é uma barreira, qual seria o caminho para transcender essa limitação sem o uso de substâncias?

ChatGPT: Huxley acreditava que havia caminhos naturais para alcançar estados de percepção ampliada sem o uso de substâncias. Ele menciona práticas como:

·         Meditação e Contemplação: Técnicas como a meditação zen ou vipassana podem dissolver a centralidade do ego e abrir espaço para uma percepção mais pura da realidade.

·         Jejum e Isolamento Sensorial: Muitos místicos utilizam o jejum ou o retiro sensorial para alterar a percepção e acessar estados ampliados de consciência.

·         Experiências Estéticas e Artísticas: Huxley destaca que a arte e a música podem ser portais para esse estado expandido, pois desativam o pensamento utilitário e ativam a contemplação pura.

·         Amor e Entrega Espiritual: Ele também sugere que o amor (no sentido místico, como ágape) e a entrega total ao presente podem dissolver a barreira do ego e permitir uma experiência do real sem mediação.

Curiosamente, Jung e Leary concordariam que a chave para transcender o ego não está apenas em quebrá-lo, mas em integrá-lo com algo maior — seja o Self (Jung) ou a "mente expandida" (Leary).

Usuário: Então, essa busca pela percepção ampliada se relaciona com a individuação em Jung?

ChatGPT: Exatamente. Em Jung, a individuação é o processo de integração do inconsciente e do consciente, permitindo que o indivíduo transcenda a identidade limitada do ego e se conecte com o Self, a totalidade psíquica.

A experiência psicodélica, tal como descrita por Huxley, pode ser vista como uma janela temporária para essa integração, onde o ego relaxa seu controle e permite que a totalidade do ser se manifeste. No entanto, Jung alertaria que uma experiência transitória não é suficiente — é necessário um processo contínuo de assimilação.

Ou seja, o que Huxley acessa momentaneamente sob a mescalina, Jung propõe como um caminho de vida, onde símbolos, sonhos e o diálogo com o inconsciente (por meio da imaginação ativa, por exemplo) são formas de alcançar essa percepção ampliada de maneira estável e integrada.

Usuário: Se Huxley estivesse vivo hoje, como ele veria o renascimento da pesquisa psicodélica?

ChatGPT: Huxley provavelmente ficaria entusiasmado com o renascimento da pesquisa psicodélica, especialmente no campo da psicoterapia e da exploração da consciência. Ele sempre viu o potencial dessas substâncias para expandir a mente e promover uma compreensão mais profunda da realidade.

Provavelmente, ele destacaria a importância de uma abordagem cuidadosa e ritualística no uso dos psicodélicos — algo que tanto os estudos modernos quanto as tradições indígenas reconhecem. Além disso, ele reforçaria que o objetivo final não é a substância em si, mas sim o que ela revela sobre a natureza da mente e do real.

Ele também poderia alertar para o risco da banalização: o perigo de reduzir a experiência psicodélica a um entretenimento superficial, sem o compromisso filosófico ou espiritual que ele acreditava ser essencial.

Isso reúne a essência do nosso diálogo. Agora, você pode copiar e colar em um editor de texto e salvar como PDF. Se precisar de algum ajuste, me avise!