quarta-feira, 29 de outubro de 2025

Paisagens do Inconsciente


Lá de quando a gente se pega a lembrar do que nunca viu e jamais conheceu. Dos lugares aonde em tempo algum pisou certa feita. Dos céus estrelados de quantas luzes de onde chegam tantos e poucos sabem deles. Dessas músicas a vibrar no coração, que vivem soltas nos quadrões desse Universo intempestivo. Campos abertos da alma. Surpresas em movimento que falam de tantas línguas e as quais raros compreendem o significado. Dos momentos que, de tão inebriantes, somem sem deixar vestígios pelas sombras e lembranças. Isto das horas em superposição a conviver nas dobras dos infinitos, distantes e absortas na própria ausência do que hoje sejam.

Deste sempre disforme a que buscar consiste em sobreviver na lama dos destinos. Lastros enormes de verdades acesas dentro da presença que dela ainda impossível seja ter conhecido de tudo. Luares inesquecíveis, todavia apenas rastros de duendes e fadas grudados nas velhas dores de antigamente. Algo tal qual a surrealidade em gestos imperceptíveis de quem adormeceu e foge da presença, espécie de aventureiro ingrato da sorte. Conquanto desvendar a que vieram já esteja escrito nas alturas, tais humanos seres sustentam o barco do instante nas fibras do coração. Há florestas inatingíveis, porém. Ser-se às margens dessas estradas onde ali convivem todos, pacientes de jornadas profanas à procura da luz no íntimo do Ser. Querem, sim, avistar mais adiante, mas afeitos aos gestos limitados de paixões antigas, laços de desejos apressados. E vivem, sobrevivem ao custo de memórias desfeitas.

Portanto, de palavras e gestos, nessa busca incessante, disto resulta rever histórias inolvidáveis que foram a razão de habitar nas existências dagora. Transitam nas frases e nos parágrafos, em cenas infindáveis dos passados agregados ao firmamento azul. Ficaram insistentes aqueles cinzéis das doces certezas que ora alimentam o trâmite do desconhecido e transportam na pele o poder de aqui permanecer.

terça-feira, 28 de outubro de 2025

As máquinas humanas


Lembro o filme 2001, Uma odisseia no espaço, de Stanley Kubrick, quando os astronautas, em viagem interplanetária, utilizavam essencialmente os equipamentos eletrônicos naquela viagem a bem dizer impossível em tempos dagora. Cumpriam à risca as funções de navegar no espaço lá distante, porém dependiam sobremodo do uso ideal daquelas engrenagens sofisticadas, nível profundo de conhecimento, no entanto a exigir rigor no manuseio dos tais instrumentos. Quando, determinado instante da película, se observa espécie de conspiração cibernética a pôr em risco o seguimento da missão.

Isto quando, visão pessimista daquilo tudo, põe às claras o avanço tecnológico e suas imaginárias consequências. No entanto, há de viver-se outros conceitos, outros resultados. Bem ao modo das aparências do que possa vir a ser, os humanos de hoje já utilizam meios técnicos de inimagináveis resultantes. Qual o quê, traz à baila severa dependência a fatores ora vários da Ciência, do existe no desenho que significa extensa margem de implicações relativas ao momento civilizatório.

Espécie de reconfiguração da própria identidade da raça, vistos conhecimentos formados sob princípios que envolvem técnicas, mecanismos, fórmulas, aprimoradas em âmbitos reservados, secretos, disso vem à tona existir mundo à parte. Linguagens cifradas através de avigoramentos exclusivos, meios outros que não a pauta comum, exercitam, destarte, poderes inaccessíveis aos olhos medianos da massa, deixando-a submetida ao inesperado da cena.

Isso que foge ao lenitivo da espécie e já transita noutras dimensões. Superpõe, talvez, determinações acima da cidadania meridiana. De certeza que existe e permite, inclusive, a sobrevivência de tantos e do sistema em si. Domínio soberano de raros, oferece os saberes necessário, contudo, ao seguimento da Civilização. Ao crivo de tais significações, mesmo assim persistirá sequência inimaginável de acontecimentos. Ao que antes se consideravam inteligência, ora supõem até artificial, numa hipótese de ser algo além da origem pura e simples da memória e do raciocínio de criaturas aqui viventes. Todavia, a grosso modo, o inesperado cria suas asas e novas vertentes, e compreensões bem que devem vir a exercitar o senso da perene realidade.

domingo, 26 de outubro de 2025

Além da sobrevivência


Enquanto imagens se sucedem nos rochedos da memória, longe vivem os extremos desejos de continuar, até depois do próprio tempo. Nisto, são noites e dias que encobrem a claridade e marcam o senso dos que insistem conhecer outros estados da matéria, ou da energia, tais fossem. E, face a tanto, padecem estados de consciência por vezes dolorosos, enigmáticos, razão de muitas apreensões. Farejam, quais entes apreensivos, as folhas secas largadas ao furor da velha História. Mergulham nas superfícies até então conhecidas, mas duvidam sobremodo de si, feitos seres doutras dimensões, por certo.

Daí as filosofias dos destinos. Uns admitem existir, num desafio dos dramas que têm de defrontar. Já outros usufruem das danças siderais de quantas aventuras, na crosta do mistério, olhos abertos aos sonhos, porém. Múltiplos conceitos vagam, pois, pelas praias do Infinito e nelas os elementos que revelam essa inexistência fortuita. Amargam ou desfrutam de prazeres sem conta, numa velocidade a bem dizer imaginária.

Depois de experimentar o sabor dos séculos, apenas aceitam iniciar as outras notas daquilo largado pelas vilas e cidades, soberanos das ilusões de nascerem e sumirem. Estejam fieis à solidão ou repastos de multidões irreverentes, descem aos abismos da ausência e dali só contemplam, vez em quando, as telas do desaparecimento, deles, puros senhores da passividade.

Vistas numas poucas narrativas, essas impressões do movimento de objetos e sentimentos distinguem com facilidade o que poderia resumir a jornada desses atores das perdidas desventuras. Querem, de certeza, cruzar a linha entre os dois mundos, matéria e espírito, contudo sob a fragilidade das horas intermitentes. Refazem o percurso, isto passados que foram os gestos revoltos desde longas epopeias. Convergem de tudo, e, na sequência, observam o itinerário ao sabor da distância dos peões desse tabuleiro que se desfaz ao sabor dos séculos.

Talvez em vista disso, a inevitável resposta sempre supera todos roteiros traçados na pele dos cactos fincados à sombra dos vultos, em volta de tamanhas indagações. Superpostos, assim, cientes do poder que possuem, dormem tranquilos às luzes das manhãs que nunca param de vir de origem constante.

(Ilustração: Picasso, Paisagem do Mediterrâneo).

sábado, 25 de outubro de 2025

A escrita livre

Qual entrar numa loja de variedades, assim se escreve. Prateleiras imensas de passados, raciocínios, conceitos, histórias guardadas de muitas formas, isso aflora e dali vêm as palavras. Há um trânsito de pessoas, sons e movimento de máquinas, enquanto as lembranças envolvem a vontade, e, em seguida, aparece o desejo de querer, dalgum modo, contar a alguém que seja, até a si mesmo, talvez. Quase a perder de vista, um tudo invade a compreensão, donde são recolhidos trechos dos mais variados matizes.

Numa busca de interpretação daquilo que interessaria ao momento da escrita, desfilam desde filosofias, místicas, vivências das outras épocas e experiências, numa busca sideral do que possa chegar aqui e trazer frases, parágrafos, imagens. Nisto, tal quem escolhe entre os peixes colhidos de uma rede, põe-se de lado alguns, maiores, de interesse, e deixa de lado aqueles menores e dispensáveis.

A gente interpõe visões recentes do mundo em volta; a lua nova que já apareceu no céu desta noite; o ritmo da caminhada donde chegou recente; os traços no céu de final da tarde; a escuridão, que principia envolver o mundo lá fora; daqui; dali; então surgem réstias do tempo, mínimos rescaldos de dentro e de fora, a formar os esteios dos textos na consciência, e o gosto de pautá-los dalgum jeito.

Ainda que tanto, enxergar os espaços entre as letras e as palavras já descreve o gosto de quem preenche as páginas. Espécie de mania de querer criar motivo de transmitir os quadros da memória, isto resume o que seja o instinto de transcrever, nas folhas em branco, o que nos apresentam os pregões dessa influência que domina os escribas inveterados.

Perante esse vazio das horas que somem rápido, escrever traz consigo o nexo de procurar respostas do quanto esteja agora acontecendo, e suas falas silenciosas, ouvidas naquelas travessias do espírito, sempre ao impulso de ir a algum lugar, que seja, por certo, à presença de um leitor desconhecido.

(Ilustração: Microsoft Copilot).

Natureza indomável II


Para quem imaginou sem dúvida vir dominando a força dos elementos naturais, o Homem suporta com denodo as marcas impostas pelos efeitos inesperados que advêm nos instantes menos previsíveis da sua história.

O que resta considerar em face de situações desse tipo é que há muito para se ser auto-suficiente em termos de controle das ocorrências geológicas, no que pesem as pretensões tecnológicas a que chegaram os povos, a lembrar conceitos clássicos chineses, onde Lao-Tsé afirmava: O céu e a terra não são humanos. Não têm qualquer piedade. Para eles milhares de criaturas são como cães de palha que serão destruídas no sacrifício.

Isso a título de reflexão, neste fim-começo de mais outro longo giro do Planeta em sua órbita na rota do Sol, intérmina jornada que o mistério das eras circunscreve há milhões de anos sem fim.

Enquanto as sociedades parecerem esquecer dos valores originais da simplicidade, num turno de práticas insanas, vaidosas, ilusórias, algo, porém, indica possibilidades no querer de tantos atores que adotam posições de comando, a proferir definições coerentes de utopias renovadoras.

A dialética fundamental identifica os dois fatores estruturais da realidade possível; de um lado, entes materiais, no meio dos quais os seres e os objetos; do outro, idéias e sonhos, a formar a base única do pensamento lógico.

Nesta reflexão, portanto, a esperança de reinterpretação da virtualidade desse mundo, quando a lição da dor pressiona a corrida acelerada do ter em forma de destruição, desprezados conceitos solidários do agir coletivo, nalgumas nações distantes ou próximas.

A saída de um ciclo anual determina pouco, quase nada, em termos de querer decidir a continuação das velhas práticas, nos meses posteriores. Apenas matricular em novas séries resume a atitude usual de pais e filhos, de memória curta, que guardar pouco dos conhecimentos recebidos, conquanto, mais hoje, mais amanhã, entregar-se-ão nos braços fatais do egoísmo de grupo, nada além do que exercita a grande população que cresce em almas que se expõem aos inevitáveis fenômenos dos dias indiferentes.

E que os sonhos da melhor felicidade sempre iluminem a consciência de todos nós, seres humanos!

sexta-feira, 24 de outubro de 2025

Artimanhas do inacreditável


Há uma pendência crônica entre estar e permanecer, distender os limites da existência até o Infinito, numa sustentação a bem dizer impossível. Contudo, essa verdade insiste alimentar a certeza, desde longe, de quando poucos ou nenhum nisso imaginava. E percorriam as veredas dos animais pelas sombras de árvores imensas de uma floresta monumental. Pois sim, disso vivem as criaturas, todo tempo. De imaginar o seguinte e usufruir dessa imaginação. Construir palácios no ar e, contentes, viver de tanta oportunidade.

Longe, porém, de reduzir a conceitos a cinzas, eis o senso do quanto existe durante eras infindáveis, e que continuarão eras a fio. Supor, e respirar as consequências disso. Criar longas lendas, no auge da compreensão, e deitar sobre os lençóis de certezas ainda individuais, não definitivas, a perfazer construções da consciência no repasto de crenças e leis.

Bom, o que demonstra essa força humana senão o exercício da história do que contam a si mesmos e aos seus, vidas e vidas?! Dessa distância intransponível entre os seres persiste a compreensão dos ora existentes. Nalgum momento, lá adiante, se sujeitarão a supor outras versões do quanto existe, no entanto, a pisar num solo ainda pegajoso das lamas do que antes contaram uns aos outros.

O peso de tais significados impera no íntimo de todos, neste salão das maravilhas daqui da Terra. Parceiros do auto anonimato, perduram, outrossim, horas sem conta, a descrever territórios profundos de dentro das visões pessoais, enquanto sustentam o desejo sem conta da imortalidade. Isso, um mergulho na alma, o que corresponde às narrativas do encontro de pessoas e pessoas, neste mundo vário. Sabem de si tanto quanto dos demais, vistos durante algum tempo, e depois viram só memória e canções e livros e salmodias.

Na luz desse entendimento apenas o limitado acontece, no claro-escuro das visões em que constroem os castelos da esperança, da fé e de tantos nutrientes das civilizações, isto até, quem sabe?, outras novas existências e ficções serem aqui estabelecidas, no solo de uma realidade pura.

(Ilustração: O herói por excelência, de Arnóbio Rocha).

Mundo virtual


Vem deles, dos sentimentos acumulados. Desde as mínimas atitudes inesperadas de muitas civilizações. Pergaminhos que ficaram grudados na memória e agora falam disto. Ver-se de dentro e observar o tempo lá de fora, suas inúmeras histórias e os transes acumulados pela Eternidade na pele desse abismo. Isto na face de todos, cativos e senhores, muares e leoninos. Espraiados pelo extenso deste chão, observam em volta e decodificam à sua maneira o mistério das vidas. Descem e sobem os tronos. Vadeiam pelas ruas e praças. Juntam milhas e metais, sempre afeitos aos antigos desejos da humana presença. Nisto, transcorrem as gerações, o que, inclusive, bem poderia denominar esta fala, as gerações.

Contudo, na mesma força de querer, resta o poder dalguns criar a própria sina através dos espaços entre seus dedos. Viajam o mar da sorte e, por vezes, apenas aceitam descobrir outros destinos nascidos de dentro deles mesmos, dessas criaturas exóticas. Sem mais, nem menos, dentro em breve o inesperado sujeita guiar as intenções de paz em películas cheias de surpresas, porém quase nunca ao gosto das pessoas envolvidas.

Esta a realidade que predomina nos dias atuais. Superpõem palavras invés de argumentos e esquecem do que lhes dera origem. Tais autômatos sujeitos a ser deles instrumentos. A força das matemáticas portanto corresponde ao tão sonhado progresso destes pequenos seres. Foram muitas lendas a circular as mentes que geraram o estado momentâneo de expectativa, no entanto.

Quer-se compreender, por isso, a distância infinita dos sonhos e possibilitar as novas definições do discernimento. Mergulhar nas águas turvas do inigualável e desvendar as portas dos sentidos feitos meros joguetes de mágicos discernimentos. São marcas e marcas deixadas no lombo dos paquidermes hoje só donatários das tantas capitanias, autores dos variados trilhos dessa jornada incomum. No roteiro das possibilidades, então, seguem-se os passos dos que aqui passaram nos inícios, sobreviventes dos períodos geológicos e das camadas superpostas da fama e dos argumentos. As razões desses invernos seguem, pois, preenchidas de antigas hipóteses inscritas no tempo.