domingo, 6 de abril de 2025

Futricação universal

 

Esse jeito assim de querer desmanchar o mundo nas próprias mãos, em fazer do drama humano uma farofa só, na velocidade com que acontece, deixa margem a considerar o tanto de esgotamento que ora impera na ordem dos contentes. Tais dobras de papel crepom numa lata de lixo, no tanto de inúmeras partes, viram as palavras, depois os pensamentos e sentimentos. Um farnel considerável de circunstâncias que andam soltas e agora que ressurgem num formato bem mais acelerado, na face dos meios eletrônicos de entretenimento.

São desejos de novas aventuras errantes dos atores espalhados pelo chão. Horas febris de instintos nas montanhas distantes. Qual o quê, de pura motivação, todos aguardam de alma penada isto de um mundo feito de cores e sonhos ao sabor das esperanças. Seres abstratos então acondicionados no íntimo das noites que persistem no coração querem conhecer a si e despertar noutros mistérios quaisquer.

Fôssemos, portanto, abrir espaço nas consciências, ali estariam os gênios de antigamente, cheios de planos, escolhas e aparente liberdade. Transitariam, horas a fio, no caminho estreito entre as ondas e o mar, na espera das luzes dalgum setor do Infinito. Pausariam, por certo, à margem dos fragmentos de tempo, que percorrem nas tradições e, decerto, dormiriam o mesmo sono dos inocentes. No correr das possibilidades, bem ali consiste viver as antigas aventuras dos filmes das quatro no Cine Moderno. De olhos meio cerrados, escolheriam ficar nas derradeiras filas, aonde, ao final chegaria, talvez, o perigo que ronda na sessão das tardes.

Quer-se-á, no entanto, retomar ao transe que possível, pois. Flores. Pássaros. Nuvens tangidas pelo vento. Raros ruídos de máquinas escondidas. Apenas aqui um coração que sacoleja na imensidão do quanto existe. Sombras. Vozes e sussurros. E o troar da imaginação, que alimenta o furor de tudo em volta. 

sábado, 5 de abril de 2025

Livros que impressionam


Sei ser a literatura de uso particular de leitores afeiçoados, silenciosos, ferramenta por demais valiosa, no entanto apenas a quem nela encontra afinidade. São muitos leitores espalhados em tudo que é canto, e as bibliotecas abarrotadas, fervilhando palavras e traças, mofo e distâncias infinitas a percorrer. Raros, talvez, nos dias atuais, se interessam, na verdade, pelos tesouros acumulados de quantas gerações. Eles, os livros, dos quais guardo boas lembranças, inclusive da época em que os li com maior intensidade, algo assim quais as músicas desses tempos, marcando fases distintas da existência.

Se deixar, a memória refaz quase tudo, os títulos, os conteúdos, as emoções deixadas, isto no abrir e fechar de olhos: Por quem os sinos dobram, de Ernest Hemingway, o primeiro livro de adulto que conheci, da biblioteca de Tio Alberto, irmão de meu pai. Quando minha mãe me viu com esse livro, logo avisou que estava cedo de ler, na minha idade, aquele clássico romance da literatura americana. Ainda que tal, insisti até o final, tornando-se dos livros que mais me influenciaram nas leituras posteriores.

Depois, li O general do rei, uma obra-prima de Daphne du Maurier, que também me tocou profundamente, não só pela história, mas somada a qualidade do estilo, vindo de entre os livros que Tio Alberto havia deixado na nossa casa.

Ao notar meu interesse pelos livros, tanto meu quanto de minha irmã Lydia, minha mãe cuidou de adquirir Obras completas de Machado de Assis, Obras completas de José de Alencar, Tesouro da Juventude e Mundo Pitoresco, que atenderam em cheio nosso gosto pela boa leitura.

Nisto, na sequência, vieram as obras de Antoine de Saint Exupéry, dentre elas O pequeno príncipe, Correio Sul, Voo noturno, Piloto de guerra, todos de valor inesquecível. E outros de Hemingway, que ficaram guardados na minha memória dessa primeira fase: Adeus às armas, Ilhas da corrente, As neves do Kilimanjaro e Contos.

Houve um irmão de minha mãe, Nirson Monteiro, ex-aluno dos Maristas, que muito me influenciou na escolha das leituras, levando-me a conhecer livros bons, quais A conquista do Acre, A Expedição Kon-Tiki, Vidas secas, O país das neves, A cidadela, Farol do Norte, Cartas do meu moinho, dentre outros. Com isto, fui despertando a procurar novos autores, até vir encontrar Jorge Amado, Érico Veríssimo, Sérgio Porto, Fernando Pessoa, Manoel Bandeira, James Michener, Jean-Paul Sartre, Albert Camus, O. Henry, Leon Tolstói, Boris Pasternak, Guy de Maupassant, James Joyce, Gabriel Garcia Marquez, Anton Tchecov, Júlio Cortázar, Jorge Luís Borges, Murilo Mendes, Alejo Carpentier, Otto Maria Carpeaux, e tantos e tantos mais, de uma lista de grandes escritores.

quinta-feira, 3 de abril de 2025

Os estranhos animais dessa floresta


Têm tudo a se querer, no entanto padecem de um parto prematuro que lhes corrói as entranhas da própria sobrevivência. Vivem disso, dessa animosidade bruta que formam no correr dos pensamentos. Nutrem com força a vontade nos menores detalhes, outrossim esquecem de amarrar o cadarço das chuteiras antes de entrar no campo. Seres por demais filhotes da dúvida em um tempo real e senhores das ilusões menores que as oferecem nos pratos cheios.

A falar disso, de tais espectros viventes desses mares a céu aberto, advém o instinto de querer ser um deles, apesar de quase dois terços dessa razão ficar nas paredes do passado. Buscar fontes confiáveis dos criadores de detritos presos à lama da incompreensão, e nisso fustigam os mesmos elementos que destroem. Fazem guerras particulares e constroem palacetes de vidro. Parelhas que sejam de bichos a conduzir velhas carruagens pelas encostas da fama, nem de longe se olham no espelho do caminho. Querem, a qualquer custo, fazerem-se de iguais aos detentores dos destinos. Conquanto sigam, pois, as velhas trilhas da perdição, cortejam a duras penas vivenciar os prazeres do Paraíso.

E tocam adiante galeões e galeões de tantas glórias, destarte satisfeitos em aguentar o mínimo de tempo sob as águas turvas que semeiam. Sabem de sobra a que vieram, pois. Passar daqui algum tempo e depois devolver a carcaça aos portos da mais imensa solidão. Trastes arrevesados na esperança, são eles os protagonistas dos dramas de outrora que insistem grudar aos caules das tantas árvores, hoje esquecidas deles sós, às quantas dores.

Conquanto que sejam sabedores de experiências acumuladas, ainda que tal vasculham, só agora, os escombros da virtude à procura de si lá onde ficaram perdidos. Quem sejam, nem de longe imaginavam chegar a tanto. Prodígios da humana perfeição, pouco a pouco adormecem às sombras do que acreditavam existir, porém do lado de fora, bem distantes de todos seus sonhos. Ah, viajantes das estrelas, detentores das melhores condições de revelar a consciência que já trazem ali consigo do lado de dentro.

Temas correntes

 


(Ao estilo de Emerson Monteiro Lacerda – Autoria: DeepSeek (AI). 

Vivemos enredados em certos assuntos que insistem em voltar, como aquela vizinha que sempre repete a mesma história toda vez que a encontramos na feira. São temas que se repetem, teimosos, como o sol que nasce a leste ou o vento que sopra no inverno.

A política, por exemplo. Ah, a política! Sempre a mesma ladainha de promessas e desencantos. Os nomes mudam, os discursos também, mas o enredo permanece: esperança, frustração, e depois esperança de novo, como um ciclo de lavoura que nunca dá o fruto esperado.

E o amor? Outro tema que não cansa. Falamos dele como se fosse novidade, mas é velho como o mundo. Apaixonamo-nos, sofremos, esquecemos e recomeçamos, como se a vida fosse um baile em que a música nunca para, mesmo quando os pés já doem.

A morte, então, nem se fala. Ela ronda nossos pensamentos, aparece em notícias, bate à porta dos conhecidos, e nós, assustados, fingimos que não é conosco. Até que um dia, sem aviso, ela resolve bater na nossa.

E assim seguimos, girando em torno desses mesmos eixos, como piões que teimam em não cair. Talvez porque, no fundo, sejam esses os fios que costuram a trama humana – repetitiva, sim, mas sempre com algum ponto novo, algum detalhe que nos faz acreditar, a cada volta, que desta vez será diferente. E, no entanto, não é.

Mas seguimos de tal forma, porque é nessa dança de temas conhecidos que a vida se faz – e, quem sabe, se refaz.