Depois dos tempos atuais, na hora morta de depois, virão as feras que buscavam regressar às cavernas primitivas sob cujas paredes desenhavam as primeiras magias simpáticas antes de saírem à caçada dos bisões. Sim, são essas as rotas de fuga de nós mesmos diante do silêncio do futuro. Correr aonde o tempo perca seu império e dormir na cama que escolhessem, de Manuel Bandeira. Anoitecer e não amanhecer face ao movimento dos astros lá de longe nas marés dos oceanos. Olhar o verde das matas e sorrir aos sonhos da véspera, na firmeza de que a saudade acalmaria e os momentos deixariam de doer tanto. Apaziguar, pois, o mistério de existir e aceitar tão só o ser de que somos semente. Sumir no limbo da solidão e viver contente qual vocação das esferas de que compomos o quadro sideral. Amar, afinal, porquanto outro sentido não restará a todos os bichos e objetos. Adotar o impossível numa espécie de norma de sobrevivência, no entanto ciente de que os laços da matéria foram apenas laços da matéria, rompidos e úteis naquele período quando a humana consciência buscava a porta de sair rumo das estrelas. Chegar em casa, eis o objetivo das naus nos mares bravios da incoerência. Passo ante passos e a história que faz transcorrer as lutas insanas. E o porquê disso tudo ficará distante aos olhos de quem escolhe as alternativas de repetir os mesmos corredores da Antiguidade Clássica. Enquanto realizavam o roteiro da libertação, eles venderam a alma tantas vezes, a ponto de querer possuir a propriedade de si, sem contudo nem conhecer os meandros da natureza mãe. Agora desejam a qualquer custo receber donativos da sorte e salvar do inevitável os frutos que hão de colher. Buscam as raízes do que não plantaram. Ou plantaram. Autores reais da criação e do futuro dormem de olhos fixos nos pratos que balança o Destino.