As entrelinhas do Tempo bem que resumem o que transcorreu e desaparece nalguns segundos. Quando menos esperar e lá se foram emoções e objetos, amores, fidalguias, tudo feito fantasmas ora inexistentes, indo sumir nas profundezas da superfície densa, amorfa, cinza dos mares do Destino. Obstáculos a isso ninguém até então descobriu que não seja gravar nos discos de memória aquilo que jamais retornará, pois.
Sei que sim, que se perdem no frio do anonimato todas aquelas
danças felizes, ou aparentes frustrações e descaminhos, num mundo só largado ao
vento e nada feito. A gente quer sentar e reunir outra vez as réstias do que
ficou, no entanto em meras fantasias agora surdas e exangues, no mínimo um
mistério sem limite do acaso.
Isso mexe sobretudo nas noites de lua cheia, quando um
silêncio assustado invade as horas e deixa entrever o que já foi e perdeu-se
talvez nas próprias lembranças desfeitas. São saudades insistentes que desejam
regressar e nunca descobrem o jeito de fazer, vítimas por cento do desgaste impertinente
disso, do mistério sem limite que circunscreve as cartas de navegação do
quanto existiu.
Viver traz consigo as condições de estar aqui, sobremodo de tocar
em frente o instinto de ser assim. Enquanto isto, o sistema de percorrer as
estradas exige pertinência, disposição de aceitar o programa em que somos criados,
cabeças em movimento pelas trilhas dos momentos inesperados. Conviver mesmo em
aparente harmonia, todavia absortos nessas interrogações que, vez por outra,
acordam e indagam as razões de presenciar, apenas isso, durante os espasmos das
lutas humanas, inclusive no intimo e nas madrugadas mais frias.
Essas presenças absortas que testemunhamos, que alguns
denominam seres, habitam, portanto, espaço estreito entre as pedras que rolam e
suas mesmas cicatrizes gravadas no coração. Decerto haveremos de concretizar o
sonho desse passado no dia que seja ao despertar e, de olhos abertos, avistar o
princípio da certeza agora esquecido nesta fase de revelação.
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