Ali defronte, volta e meia elas reaparecem. Nem bem o Sol queira esquentar ainda mais, elas resolvem mirar o tempo numa audácia sem cerimônia. Atiçam o fogo da discorda entre povos, entre pessoas, entre irmãos; resolvem distinguir do erro os desejos, e denotam farpas aos botijões, gastando, assim, o estoque de armamentos fabricados pelas gerações inteiras. Ao que supor, significam isso defeitos ainda constantes nas almas das criaturas humanas.
É desses instintos atrasados que a raça precisa se livrar, sabem
lá quando, porém. Tantos, demasiados, que minam a resistência dos mais fortes e
definem os acontecimentos. Daí as práticas que prevalecem, os vícios, as
ganâncias, os estragos. Espécies rústicas de si mesmos, revertem previsões
positivas e transferem as outros no que lhes caberia vencer, sobremodo. Desde
quando tal tem sido, há que rever a História.
Enquanto isto, aí estão os monumentos aos heróis que encheram
as ruas e praças com seus nomes inesquecíveis. Deixaram nas legendas os feitos
magistrais, resultados hoje encobertos pela poeira do Tempo. Mas são eles essas
quais visagens a percorrer os sentidos do que resta. Empalidecidos no chão das
práticas correntes, só tremeluzem face a face consigo próprios, talvez.
Um naco de civilização contudo persiste vidas a fio, nos
instantes de aflição dos que venceram o mundo. Reagem pais, mães, irmãos, filhos,
ao ver partir aos campos de luta suas sementes atiradas ao vento. Susto de que vivem
todos, guarda cálidos sentimentos e dormem ao seio das famílias. Isso numa fase
em que o absurdo compõe o quadro das existências, as surpresas, os imprevisíveis,
e enchem os universos de números escandalosos de dores e respostas à esperança
dos bilhões espalhados ao relento da sorte.
Bom, quero crer no suficiente dessas palavras, delas não ser
nada além do roteiro das imagens que vagam soltas nos meios eletrônicos, de mão
em mão, entes que ora somos, alimentados de visões nos quintais desse Planeta macerado,
dos parceiros de um jogo até então desconhecido.
(Ilustração: Cristo perante Pilatos, de um seguidor de Hieronymus Bosch).
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