sábado, 14 de junho de 2025

Esconderijos do passado

 


A
s entrelinhas do Tempo bem que resumem o que transcorreu e desaparece nalguns segundos. Quando menos esperar e lá se foram emoções e objetos, amores, fidalguias, tudo feito fantasmas ora inexistentes, indo sumir nas profundezas da superfície densa, amorfa, cinza dos mares do Destino. Obstáculos a isso ninguém até então descobriu que não seja gravar nos discos de memória aquilo que jamais retornará, pois.

Sei que sim, que se perdem no frio do anonimato todas aquelas danças felizes, ou aparentes frustrações e descaminhos, num mundo só largado ao vento e nada feito. A gente quer sentar e reunir outra vez as réstias do que ficou, no entanto em meras fantasias agora surdas e exangues, no mínimo um mistério sem limite do acaso.

Isso mexe sobretudo nas noites de lua cheia, quando um silêncio assustado invade as horas e deixa entrever o que já foi e perdeu-se talvez nas próprias lembranças desfeitas. São saudades insistentes que desejam regressar e nunca descobrem o jeito de fazer, vítimas por cento do desgaste impertinente disso, do mistério sem limite que circunscreve as cartas de navegação do quanto existiu.

Viver traz consigo as condições de estar aqui, sobremodo de tocar em frente o instinto de ser assim. Enquanto isto, o sistema de percorrer as estradas exige pertinência, disposição de aceitar o programa em que somos criados, cabeças em movimento pelas trilhas dos momentos inesperados. Conviver mesmo em aparente harmonia, todavia absortos nessas interrogações que, vez por outra, acordam e indagam as razões de presenciar, apenas isso, durante os espasmos das lutas humanas, inclusive no intimo e nas madrugadas mais frias.

Essas presenças absortas que testemunhamos, que alguns denominam seres, habitam, portanto, espaço estreito entre as pedras que rolam e suas mesmas cicatrizes gravadas no coração. Decerto haveremos de concretizar o sonho desse passado no dia que seja ao despertar e, de olhos abertos, avistar o princípio da certeza agora esquecido nesta fase de revelação.

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