Sua chegada ocorreu mais como um aparecimento, em plena moagem, no mês de junho. Veio cabisbaixo, desconfiado, no dizer do sertanejo. Meu avô ouviu a conversa dele, que carecia de arrancho; viajava das bandas de Iguatu e pretendia fixar residência num dos sítios da região, para trabalhar e tocar a vida. A sorte lhe favoreceu, pois o pedido foi atendido.
No canto do quarto,
perto de janela que deva para o terreiro na frente da casa grande, instalou os
poucos troços que carregava, mala pequena, rede desbotada, toalha e panos.
Antes de buscar as primeiras tarefas, estirou a vista na estrada em frente, que
dobrava numa curva logo depois de passar pela fieira das casas de moradores,
situadas nas laterais da bagaceira do engenho.
Pegou com vontade no
serviço. Jamais reclamava do tipo de atividade que lhe era confiada.
Demonstrava gostar do que lhe fazia eficiente e produtivo. Engajou-se rápido no
lufa-lufa da temporada de cana, ganhou o respeito dos demais, garantindo a
confiança do patrão, que ensimesmado avaliava o acerto da escolha.
Quando lá um dia, manhã
cedo, o que ainda se pode chamar de madrugada, o forasteiro, após abrir a
janela do quarto de dormida, avistou, bem na curva da estrada, a fazer
diligências na redondeza, compacto pelotão de polícia, armado e marchando firme
no prumo do engenho, vindo quase na sua mesma direção.
Naquela hora, usava
apenas as roupas debaixo, e mesmo assim, todavia, arriscou-se saltar para o
alpendre, daí descendo, lépido, terreiro abaixo, no sentido das canas do brejo,
a três centenas de metros no rumo norte, isso tudo numa disparada que os seus
calcanhares alcançaram, acompanhado da poeira fina que levantava na pista.
Soltou ligeiro a cancela e desapareceu no canavial que só espanto de bicho
brabo, no princípio sacudindo os pendões, depois nunca mais.
Até hoje ninguém sabe
com certeza donde ele vinha, para onde foi, e muito menos qual a razão de tão
desesperada fuga...
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