A insistência com que os acontecimentos transformaram a criação original de tudo hoje carrega em si o desejo de multidões inteiras, na fome de continuar aqui enquanto as peças caem dos tabuleiros e já invadem sem dó os destinos em volta. Por mais que recuperam as possibilidades anteriores de renovar o mundo, mesmo assim nem sempre seriam certas as vitórias desses exércitos adormecidos na alma das criaturas em movimento. Meros ritos de tradições até então desconhecidas, prevalecem, contudo, as antigas intenções de, outra vez, delimitar o espaço e guardar na inconsciência as normas desde nunca esquecidas de força e medo.
Nesse poder que têm as falas de reverter os segmentos de aonde
poder chegar um dia crescem pelas ramas e desaparecem nos desertos em volta. Somam
lembranças sucessivas de tantas histórias, contadas e depois esquecidas, que o
jeito de esquecer significa agora nada além da vontade dos que desaparecem sem
deixar quaisquer sinais. São vistos nas ruas e, em seguida, não voltam a ser
notados. Eles, os personagens de vidas e vidas. Às vezes aclamados em praça
pública, porém largados de fora ao primeiro desassossego coletivo. Tais
figurantes de um circo imaginário, espécies de assombração do Paraíso,
sustentam o pouco que restavam de coerência e mergulham nas águas do Infinito,
e permanecem ocultos no porão das maravilhas.
Isto a provável compreensão das existências desses seres
quais nós próprios, feitos manequins de palha atirados ao vento da sorte. Quer-se
encontrar as portas do sentimento e terminam cercados de ilusões, por isso
desfeitos em números tão só inexistentes. Submissos aos instintos, padecem do
transe voraz das gerações e, sem querer, submergem num oceano de aventuras
errantes, observadores contumazes das paisagens e dos delírios sórdidos.
A servidão ao inevitável, portanto, passa de percorrer, de
olhos acesos, a tela do horizonte, na ânsia mordaz das feras entontecidas. Ah,
humanos que fossem ser-se-iam aves de rapina das montanhas distantes, no vácuo
da imaginação.
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