Dotados de todos esses talentos, ainda assim perseguem fantasias e plantam árvores inexistentes pelas calçadas e cidades. Às vezes, reconhecem serem que tal e atravessam os desertos quais sobreviventes de grandes crises no tempo lá atrás. Acondicionados, pois, dentro desses acolchoados brilhantes, transitam pelas horas feitos escravos de si mesmos, e gostam de ser dali deitados na lama dos desejos. Fazem de um tudo. Sintonizam as faixas cotidianas, alimentam discursos inexplicáveis, esgotam tanques e tanques de tratados monumentais, estirados fieis pelos dentes dos dragões em volta.
Conversam, ouvem os pássaros, o vento, as sirenes das ambulâncias, das viaturas policiais, tais pedestres em ruas escuras, nas noites das capitais. Querem dos céus a salvação, todavia afeitos aos instantes que lhes fazem a cabeça no devorar das entranhas. Às músicas guardadas nas máquinas, abandonadas pelas gerações, veem os cães, gatos, patos, capivaras, nas telas a fervilhar as linguagens só agora esquecidas.
Apreciam lendas, roteiros turísticos, antigas ruínas, símbolos, vestimentas esquisitas, tatuagens espalhadas pelo corpo atormentado das expectativas inúmeras. Sobem, descem escadas, ladeiras, parques de uma civilização que nem existe que seja.
Nessa busca desarvorada, sobrevivem aos séculos e escondem entre as visões o que sumiu no anonimato, nas heranças, nos pactos, isto em velocidades sempre inesgotáveis. E eles vão cabisbaixos, ansiosos, autônomos, cercados desses códigos que correm pelo juízo de vez em quando. Encapuçados entre dois hemisférios, padecem do sonho escamoso das consciências que os têm.
Bom, instantâneos de ambição os retém aos sóis, essas massas informes de contradições e prazer, e satisfazem os avanços da tecnologia que criaram, blocos informes de pensamentos e sentimentos, chamas e dúvidas, habitantes que foram doutros universos de que pouco ou quase nada conhecem, porém deslizam afoitos pelas trilhas dos contentes, e vivem audazes os momentos inevitáveis do dia.