Os sonhos insistem dizer isso, contar histórias nunca vistas e vividas, no entanto distribuídas nos versos das canções, na estampa das roupas e nos desenhos que as nuvens desenham lá nos céus. Soubéssemos descrever, narrar, sentir o que despeja o imaginário e, por certo, jamais haveria necessidade do tanto de produções que impera. Haver-se-ia de sentir nas quebradas de noites e noites o império do Tempo, que domina as criaturas humanas e o restante de tudo. Entre lágrimas e risos, passearíamos no sem fim no trem da imaginação e, por vezes, fugiríamos de si quais circunstâncias ocasionais invés das gentes que ora somos.
Isto, contudo, domina o seguimento do que existe e preenche
de segredos os passados mais antigos. Daí escreverem, estudarem, realimentarem
gerações inteiras das mil filosofias e dos credos, a percorrer o espaço dos
sentidos, fazendo-o mero enredo das horas desses tempos atuais. Espécie de
instinto inevitável, a todos ressurge o desejo insano de contar das próprias narrativas
as interpretações fartas daquilo que nem foi e jamais, quantas e tantas.
Essa tela infinita, pois, dos pensamentos em movimento faz
das existências alimárias vagando no deserto imenso dos nossos pés. Exige
noções do que quer que seja, contanto desenhem as estruturas que não passam de um
senso de eternidade muito mais criado por nós do que, aparentes em realidade,
assim pudessem haver sido. Disso, as inúmeras tradições acumuladas nas bibliotecas
monumentais, guardadas a sete chaves em milenários edifícios.
A meio da vontade e das liberdades inquietas, esvai o firmamento
através dos olhos desses autores, um a um desfiando no calendário das circunstâncias
e fabricando nas almas fantasias surreais. Nessa tira estreita de pensamentos e
sentimentos, substantivos e adjetivos, as conjunções, interjeições e os verbos
elaboram meticulosamente o futuro. E nessas horas, formam o rio das ciências,
resistem aos heróis e adormecem nos séculos impávidos. A braços com nós mesmos,
destarte, transitamos pela mar da consciências, estruturas que constroem de símbolos
a Verdade e a Luz das nossas vidas.
(Ilustração: Pessoa à janela, de Salvador Dali).
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