Isso desses acontecimentos que se desfazem no tempo, tais nuvens a mover no vento e desaparecer sem deixar vestígios. Lembram também as versões das histórias ao sabor de quem as conta. De hora a outra e o que foi some pelas prateleiras dos momentos, ídolos a serviço de fregueses, a conversar e nunca mais que sejam. As placas das ruas e praças registram tantos desses exemplos que nem de longe haver-se-á de reviver aquilo que nunca fora jamais.
Bom, mesmo assim preenchem o território vazio dos contentes,
entre os sentimentos e as palavras, narrativas adversas somadas aos interesses
em jogo. A gente para feito quem indaga dalgum vidente aonde foi ficar a
verdade daquilo, se é que houve ou não. Enquanto isto, os vasos andam cheios de
votos, de discursos, litanias e páginas e páginas repletas de fantasias, o que
obriga o grande público a deglutir enredos sucessivos de longas peças vendidas
a preço de comércio das consciências dispersas.
São prêmios vários o que anunciam os arquivos da
inutilidade, enquanto multidões adormecem sob contos arrevesados. As tais lideranças
deste mundo exercitam esse comportamento.
Nisto, os ruídos desformes enchem os pergaminhos da Civilização.
As epopeias significam esse limite do Universo até então desconhecido, porém. Qual
viver um ensaio, ler rascunhos imaginários, olhar poentes artificiais,
exercitar códigos imprestáveis, quaisquer explicações padecem o furor da
imperfeição. Por demais, nalgum lugar há de haver coerência, justiça plena,
contudo.
Na escrita dos destinos humanos sobrevivem os credos, as
filosofias, as intenções, todavia cercados de interrogações e dúvidas. Aqueles
senhores da Ciência, dos governos, sabem disso. Aceitam, outrossim, sustentar o
coro dos contentes e aguardar, olhos acesos, a pauta dos sentidos. Intervalos
de súplicas e esperança prevalecem vez em quando no silêncio das gerações,
sempre atentas ao segredo que sustenta os corações fieis.
(Ilustração: Jardim das delícias terrenas, de Ieronymus Bosch).
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