Decerto do silêncio, eu sei. Mas no sabor doutras tantas versões da realidade. Do limbo desse universo de nós, onde moram os trâmites das certezas, às portas ainda cerradas do coração. Quantas e tantas histórias ali pernoitam na alma da gente. Pessoas inesquecíveis. Momentos inigualáveis. Da saudade. Dos sonhos. Do movimento das cores na visão. Dos livros. Das músicas. E mesmos das próprias palavras, que falam a perder de vista. E, quem sabe?, das ilusões. Das folhas em branco. Do teclado afoito, às nossas mãos. Do desejo de transformação. Nisso, ela vive solta, qual pedras numa caixa misteriosa que carregamos conosco aonde formos. Fala, grita, insiste dizer, sair ao relento das horas, neste mundo ainda tosco das notícias, das aspirações, da multidão, dos anseios dos dias melhores, dos amigos que existem nalgum lugar.
Nessa área de trabalho da presença da gente com a gente
mesma, abre as fronteiras abertas do inesperado, é que dali surge a inspiração.
Sussurra junto de nós suas aventuras errantes na pátria da solidão, e nisto
elabora as luzes da Consciência, dias e dias, em pedaços de jornadas misturados
com o tempero das poucas cartas que lhe chegam da Eternidade. Conquanto saiba
bem mais que o instinto afoito, no entanto padece, também, dos instantes de agrura
quando presencia o caudal das perdições e nada pode evitar. Cortejada, pois,
pelas distâncias, cresce sempre ao romper da aurora, percorre o território da
dúvida, numa espécie de vigilância incontida, depois de rever tudo em volta, e
naquilo devorado o passado que sobrevive na barriga dos destinos.
Vimos, vem em quando, transcorrer à nossa frente esse ente
desconhecido, vindo de lá ninguém sabe onde a seguir aos lugares fugidios, a
braços com lembranças perenes na forma dos inocentes autores do Infinito.
Todavia, cercada de visagens encapuzadas, soturnas, a pedir reza e cantas loas
aos pastos da ausência bem ali adiante. Ela dorme nos grotões da sequência
natural dos pensamentos, afeita que foi, um dia, ao espetáculo inigualável do
Sol.
Nenhum comentário:
Postar um comentário