Quando meu pai trouxe a família de Lavras da Mangabeira para Crato, isso no ano do centenário deste município, 1953, veio a convite de meu Tio Quinco, irmão de minha mãe que vivia aqui. Tiveram a ideia de montar uma serraria em um terreno que adquiriram no Bairro Pinto Madeira. E com poucas máquinas que, inclusive, funcionavam movida por motor a óleo diesel, vista a pouca força da energia elétrica que então existia na cidade, iniciaram o beneficiamento de madeira. Eram uma serra de fita e uma plaina desempenadeira, de onde faziam madeirame de casa, linhas, caibros, ripas, utilizando de madeira dura, qual denominavam a espécie que utilizam nas peças. Aroeira. Angico, Pau d’arco. Massaranduba. Braúna. As principais.
Nesse ofício, meu pai, que vendera seu patrimônio de safras,
rapadura e gado, adquirido nos seus ofícios no Tatu, a propriedade de seu pai,
investiu o que apurou no novo ofício, e foi trabalhar no eito, pegando no
pesado, junto a um ou dois operários, naqueles inícios.
No correr do tempo, nós, que ficáramos um tempo ainda no
sítio, uns seis meses, nos transferimos para Crato, e ficamos na casa de Tio
Quinco, na Rua José Carvalho, próximo ao centro da cidade. Depois, iríamos para
casa que ficava vizinha à serraria, uma construção de dois pavimentos, em
cimento armado, raro naquela época, ali que nos ligava de perto ao novo ofício
de meu pai, e, tirando os momentos de aulas ou estudos, eu passava os dias em
acompanhar o trabalho dos operários.
Daí fiz com eles uma boa amizade, reconhecendo a todos como
amigos. À medida em que os trabalhos se desenvolviam, em 1962 chegaria energia
de Paula Afonso e as máquinas passaram a ser movidas a eletricidade.
Lembro deles todos, dos vários amigos que fiz entre os
operários. Mestre Mulato. Mestre Manoel. Mestre Elias. Josa. Borginho. Mestre
Raimundo Nascimento. Pedro. Assis. Zé Doca. Prancha. Gregório. Edmilson. Seu
Antônio. Boa quantidade deles que residia em Juazeiro. Chegavam cedo e saíam na
boca de noite, usando os ônibus de linha entre as duas cidades.
Mais adiante, trabalharam com madeira mole, principalmente o
cedro, a fazer portas e janelas, e alguns móveis residenciais. Durante longas
horas, ficava observando o desempenho daqueles profissionais da madeira. E tais
lembranças permanecem, hoje, bem vivas em minha memória, daqueles amigos da
minha infância na Serraria Monteiro, assim era denominada a empresa que duraria
até a década de 70, chegando a ter até 18 operários, sendo considera a
principal na atividade em Crato.
(Ilustração: Serraria, Wikipédia).
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