sexta-feira, 30 de setembro de 2016

Senso de dever cumprido

Fim de tarde no País, espécie de calor de pedras espalhadas nesse chão das maravilhas quase infinitas dos não à necessidade do lado invisível que salva, que perpetua. É hora de música, daquelas músicas que tocam o coração. Ave Maria. Jesus Sertanejo. O Amor é mais. Luz na alma da gente. Enorme a vontade de sorrir às estrelas que chegam devagar lá pelo céu estirado no tempo de Deus. Sede sem precedente de paz nos cimos das consciências. Desejos mil enlaçados nas escadarias da Eternidade que afunila o firmamento azul. Uma vontade incontida de absoluto que fere as malhas do sentimento. Pura energia de luz que a tudo ilumina, força a barra do horizonte pedindo compreensão das garras da solidão, e pressiona o peito e grita nos ouvidos quais corujas no cio. 

Depois, só bem depois, vêm os mensageiros da Luz. Quando silenciarmos o movimento das palavras, pólvora acesa no terreiro das palavras, aí então habitará nas letras o gosto das frutas maduras que ainda perdura nas dobras das línguas ansiosas dos amantes suados. Vozes, vozes, que repetem as litanias da sorte na porta das igrejas. Fantasmas desfilam na caminhada dos homens, seres que clamam impossibilidades e amargam o fluir das gerações à busca da melhor das esperanças.

Quantas e tantas aventuras jogadas assim fora nas telas dos filmes ressecados na lembrança desse universo em atividade constante, na intenção de renovar os seres pelo otimismo da saudade boa de Jesus. Tantas e quantas histórias verdadeiras de rios e animais, o passar das estradas, personagens vindos às folhas secas da Verdade.

E saber e passar e sonhar e realizar... Horas de melodias em finais de ocasião e alegria de continuar no sempre do fervor da Criação que pulsa no instinto da perpetuação das espécies, em festa de coragem máxima, no reino da beleza mais bela.

quinta-feira, 29 de setembro de 2016

A porta

Era uma vez um mestre carpina de nome Pedro que vivia com sua família em pequena povoação do interior sertanejo. Tirava o sustento das artes da madeira, fabricando peças primorosas, admiradas por quem as conhecesse, fama que propiciava constantes trabalhos.

Além de dedicar-se com carinho ao trabalho, mestre Pedro demonstrava profundo interesse pelas coisas religiosas, praticando o bem, zelando pelos semelhantes, orientando, servindo e dando exemplos daquilo no que acreditava.

Certa feita, recebeu em sua morada ilustre caravana de pessoas ligadas ao governo querendo que ele fizesse a porta de templo em construção numa cidade distante. Essa peça deveria merecer cuidados especiais, porquanto a tal igreja representaria agradecimentos ao santo padroeiro pela cura de uma das filhas de homem poderoso.

O artífice aceitou o pedido a ser feito em madeira de lei, a cumprir com folga o projeto da porta bem trabalhada.

Alguns meses se passaram até localizar na floresta um tronco adequado à encomenda. Movimentou pessoas e trouxe para a oficina mogno linheiro e maciço. Outro tempo demorou serrando e planando as tábuas, quando, belo dia, iniciou a montagem, juntando e colando as peças em lastro precioso. 

Medidas exatas, acabamento esmerado, polimento e acabamento... Restava cumprir o desenho que imaginara fixar no rosto da madeira, fruto dos detalhes de um sonho do qual acordara no meio da noite cheio de júbilo, com o que só enriqueceria a beleza do artefato encomendado.

A porta do céu deteria características de semelhante perfeição, imaginavam extasiadas as pessoas, querendo ver de perto o efeito magistral conseguido pelo mestre na superfície da madeira.

A essa altura dos desdobramentos, haviam transcorrido três anos. O profissional ultimava os apuros do trabalho, pousado sobre os joelhos e cotovelos, suado, afilando formas milimétricas, quase invisíveis, com estilete afiado a sulcar nas riscas das tábuas, daí resolveu erguer a peça de lado para, pela primeira vez, observa-la na posição vertical. 

Ao levantar a porta do chão, no lugar onde ela ficara tanto tempo abriu-se fenda de proporções iguais ao seu tamanho, cratera de fundura ilimitada.

Diante daquilo e face ao impacto do inesperado, mestre Pedro caiu no espaço aberto, sumindo cavidade adentro, sem que ninguém presenciasse o acontecimento. 

Fim da tarde e só então os familiares notaram-lhe a ausência. Vieram à oficina procurar por ele. Nada encontraram além da porta confeccionada com esmero e as ferramentas deixadas pelo chão e o mais completo silêncio em volta. Nenhum sinal que fosse do artista, apesar de examinarem toda a redondeza e espalharem a notícia do misterioso desaparecimento.

Alguns contemporâneos do mestre Pedro quiseram admitir, no entanto, que depois daquele dia, sempre nos inícios de noite, sobre a humilde oficina brilhava estrela de cintilações intensas, a clarear por bons momentos os céus da redondeza.

A bênção do otimismo

Força de largas proporções, o gosto de viver supera todo obstáculo. Vencer as limitações significa ajustar os sentimentos e os pensamentos, e ser feliz acima de tudo. Animar a si e as outras pessoas diante das crises, que são oportunidades de criar novas alternativas. Ponderar o quanto de ânimo existe debaixo das sete capas de viver. Assistir feliz a justiça natural exercendo o seu papel de imperar nos acontecimentos diários. Viver e vencer, norma essencial da existência. Trabalhar o gosto de sorrir e fazer sorrir quem nos observar. Semear o bem, o amor, em todos os quadrantes desse chão dadivoso. Ver tão só o que representar de promissor e correto em temos dos valores mais equilibrados. Esquecer injúrias e limpar a estrada de continuar. Saber o quanto de útil as nossas ações podem ocasionar em nossa história e na história dos semelhantes que andam junto de nós. Amar acima dos apetites da carne. Amar de verdade, com sabedoria, ciência, harmonia. Ser inteligente no real sentido desse termo. Plantar as sementes boas no solo fértil das consciências. Fugir dos vícios qual quem conhecer as normas do bom viver. Pensar positivo, agir positivo, sonhar positivo. Escolher o melhor de ganhar o pão de cada um dos dias. Ser honesto pelo prazer de ser. Elaborar um plano de revelar em si o desejo sadio da felicidade plena. Exercer o exemplo das pessoas melhores, mais agradáveis e amigas. Chegar junto dos que necessitam de testemunho de liderança e falar da fidelidade aos princípios da boa política. Aceitar o  inevitável, porém desenvolver confiança no que há de verdadeiro e simples, cordial e necessário, a modificar os quadros da solidão. Caminhar no tempo quais pessoas vencedoras e dedicadas aos ensinos dos mestres espirituais que indicam o brilho do Sol, clarear as visões de que precisa de luz. Querer amor nos corações, desde hoje e sempre. 

terça-feira, 27 de setembro de 2016

Andar nas profundezas da alma

Dentre as histórias das Mil e Uma Noites três marcariam a minha memória com insistência definitiva, Ali Baba e os quarenta ladrõesSimbad, o marujo; e Aladim e a lâmpada maravilhosa. Elas mostram o valor do fantástico da literatura no espírito imaginativo, sobretudo das crianças. A terceira, no entanto, com ênfase maior, dado mergulhar o sentido uterino das cavernas, aonde, segundo preocupação do mago que utilizou os préstimos de Aladim se dizendo tio seu, e onde só haviam de penetrar seres menos afeitos aos apegos da matéria. Ele, o suposto sobrinho, um jovem a bem dizer livre dos hábitos pecaminosos da idade adulta. 

Indiciado pelo estranho, que lhe convenceria descer à caverna, Aladim avista ricos tesouros em joias e pedras, porém os deixaria para trás na intenção precípua de obter a lâmpada e os favores do gênio que nela vivia.

Bom, quem quiser encontrará a história nos seus detalhes pelos salões imensos da internet, mesmo porque nossa disposição é avançar noutras considerações quanto ao simbolismo da caverna perante os refolhos do psiquismo. A caverna guarda desde sempre os segredos e mistérios do Inconsciente humano, território de todos e promessa das lâmpadas maravilhosas dos mergulhos na alma de alguns eleitos.

De lá tudo vem. Aquilo que os inteligentes querem dominar já existe latente na inconsciência desse cosmos adormecido dentro da potencialidade das visões interiores a descobrir. Nada haverá de novo sobre o chão século algum, antes ou depois. O que restará aos inventores, isto, sim, representa as tais preciosas pedras, e trazê-las à superfície do lado de fora da caverna.

O que também fala quanto às demais revelações na face do imprevisível, perseguidos de perto pelos desejos frios da razão interesseira. Constrangido, no furor das tempestades avassaladoras, o equilíbrio aflige e pede o perdão da própria ingenuidade aprendiz. Grita, esperneia, desespera. Nesse momento crítico, Aladim lança mão da lâmpada maravilhosa, e ergue do centro da Terra o poder supremo de amar e ser feliz. 

segunda-feira, 26 de setembro de 2016

Histórias do Tatu (Release)

Será lançado em Crato nesta quinta-feira (29 de setembro), às 20h, no auditório do Instituto Cultural do Cariri, o livro Histórias do Tatu, o qual aborda a vida do Sertão nordestino durante a segunda metade do século XX, tendo como cenário principal uma fazenda do município de Lavras da Mangabeira, Ceará. Seu autor, José Emerson Monteiro Lacerda, originário de família ligada às origens da colonização sertaneja, trata com afetividade a existência em meio às riquezas humanas do lugar, e reúne, nalgumas dezenas de narrativas curtas, aspectos diversos daquele universo remoto, distante da civilização urbana e industrial que hoje domina o mundo inteiro.  

Em meio a relatos pessoais e preservação da gesta interiorana, esta obra oferece descrições pormenorizadas de tipos característicos das gentes e cenas que bem caracterizam mundo rural de heranças tardias do Ciclo do Couro, seguidas pela existência dos últimos engenhos de rapadura, do Ciclo do Açúcar, em retratos de memória recolhidos através da oralidade. 

Tatu, eis o nome da povoação em torno da qual tudo acontecem, núcleo onde vivera a matriarca Fideralina Augusto Lima, trisavó de Emerson Monteiro, sob cuja legenda se formaria o clã dos Augustos, de Lavras, família vinculada à vida pública cearense e detentora de influência nos povos do Cariri e do litoral, e ainda agora ligada aos destinos estaduais.

Com 154 páginas, editado pela BSG (Bureau de Serviços Gráficos), de Juazeiro do Norte CE, o livro traz capa ilustrada pelo artista plástico Reginaldo Farias, cabendo aos intelectuais cearenses Dimas Macedo e Cristina Couto a apresentação do trabalho.

É este o mais recente trabalho de Emerson Monteiro, que já publicou Sombra e Luz, Noites de Lua Cheia, Cinema de janela e É domingo.  

domingo, 25 de setembro de 2016

O jogador

O cassino transcendia mistura esquisita de fumo e álcool envolto na densa atmosfera das expectativas diante do esforço dos parceiros que disputavam partidas sucessivas. Ora o estalar das cartas novas dos baralhos substituídos costurava de ritmo o som de partidas desfeitas. Ora o tilintar de plástico das fichas, que vinham incólumes aos compradores da ilusão. Dados rolados, chocados nos cantos dos tabuleiros, identificavam jogos feitos e o movimento das mesas postas.

Passadas foram inúmeras disputas de sorte favorável, e ele sempre a recolher as dezenas de vitórias em pilhas antepostas à sua frente. Nos demais componentes das cartadas, olhos faiscantes de possibilidades inúteis, porquanto havia tendência caprichosa que a um tão só arrecadar os palpites bem resolvidos. Ele, apenas, a somar nvos pontos das vezes sem conta.

Já macerados de tanta derrota, os concorrentes reviravam bolsos à cata dos derradeiros cruzados. 

- Bom, quem ganhou ganhou... Pois espero três horas ainda que a fortuna lhes beneficie – gritou o agraciado da noite. – Quem quiser que arrisque intenção nas casas abertas. Espero distribuir de novo as benesses desse dia. Ou, senão, ao menos uma parte da feira.

Jogos montados, fichas superpostas em largos lances e outras vezes a sorte sorria venturosa ao sujeito escolhido nas vezes anteriores. Ele mais que ligeiro cumpriria o prometido. Três horas logo fugiram das mãos dos ansiosos aventureiros, quais obedecessem a ordens ingratas das outras ocasiões.

Ele, a sorrir de satisfação, ao momento exato dos ponteiros, ergueu o corpanzil do velho estofado, aquecido nas horas de sucesso, e recolheu duma braçada o fruto daquela jornada.

Passaria no caixa na intenção de trocar fichas coloridas pelo vil metal. Nisso, divisou ao lado, de blusão azul e cabelos ondulados, o personagem saído das Escrituras Sagradas, que lhe segredou aos ouvidos:

- Vai, vende tudo que tem, dá aos pobres e me segue...

Justo a única moeda que dançava da palma da mão aos dedos lembrava a si o metrô que pegaria no regresso de casa. E o macio agradável do braço amigo o envolveu nos ombros e dali ambos saíram alegres no rastro das estrelas matutinas.  

quinta-feira, 22 de setembro de 2016

Vastidão das estradas

Ver aspectos bons ainda que ante as crises. Salvar aparências mesmo que tudo pareça sumir. Passear diante das metralhas enquanto portas fecharam e a luz insiste nascer de corações. Mas há, em tudo, um foco, uma semente, no miolo dessa humana condição. O lado em que escolhermos caminhar nas longas estradas desse chão. O direito de ser feliz apesar das limitações, do desespero e da dor. 

Tal opção só depende das nossas escolhas. Determinar em qual eixo de interesse gira o plano da existência. Sob que farol se ilumina o transe desta vida. Afirmar o desejo de sonhar ainda que dentro das fraquezas. Agir sobre todos os impedimentos e carências.

Tomar a pulso viver os dramas e superá-los a qualquer custo, eis a resposta. Que somos pequenos, relativos, cabe colher os frutos da história. Tratar dos elementos que contenham a vontade, porém aceitando achar a porta que nos leve ao raiar dos novos dias. Viver, sobretudo.

Seguir as lições mil de líderes que chegaram aos extremos da lamúria e escaparam de forma exemplar. Definir a sorte dos passos, invés de sentar à beira do caminho e chorar o desespero. Esperar o melhor dos dias que virão. Admitir a existência de valores maiores que os apelos da derrota. Erguer olhos aos motivos heroicos da esperança.

Nessas manhãs quando viver impõe contenção e coragem, há que buscar a transcendência do Ser. Alimentar a salvação das horas amargas e descobrir alternativas de elaborar práticas sadias. Trabalhar a força que vem de dentro, amar o tanto necessário à libertação.

Afinal, quantas vitórias nos aguardam no caminhar dos passos. Provas disso já tivemos inúmeras vezes. Quanta festa organizamos em comemoração às conquistas pessoais e familiares, coletivas, solidárias, inimagináveis.

Tratemos, por isso, de sustentar a barra dos impasses e vencer os instintos negativos em prol da valentia de construir o que seja saudável, do bom e do melhor em novos tempos.

quarta-feira, 21 de setembro de 2016

Aceitar a condição

Se eles pensam até hoje ninguém sabe, eles, os animais. Quem pensa: os seres humanos, esses outros animais cheios de preocupações desenfreadas. No entanto de quem pensa tem de esperar sabedoria, o que nem sempre acontece, face reações aplicadas ao contexto da natureza. Os índios dos continentes deixaram marcas diferentes, pois evitavam destruir, na intenção de sobreviver, contudo os civilizados demonstram resultados aterradores. 


A condição, que diz respeito a essa teimosia dos habitantes daqui do chão feitos touros raivosos em loja de porcelanas, a tudo revira e vende, angústias desarvoradas na forma de protagonistas do teatro absurdo que trabalham, pois teimam rasgar o véu da tranquilidade nas peças que encenam. Revoam garças assustadas nos objetos mecânicos que criaram, e olham desconfiados de duvidar do que fazer, o mais certo que tivessem de fazer. Criam milhões de meios de comunicar e insistem guerrear a fim de resolver a questão da vida depois das ações equivocadas.

Prudentes pássaros engaiolados em jaulas de vidro, vadeiam as praias poluídas do desamor, carregando o drama da humanidade inteira ainda longe de receber as respostas  mínimas de ontem.

Todavia diminui a chama das amarguras quando divide a dúvida de existir perante céus de ignorância. O impulso de salvar qualquer parte de si mesmo junta as peças quebradas desses quebra-cabeças num dos estádios da consciência e reclama intuição que auxilie diante das dúvidas. O faro de certezas preenche tal abismo inalcançável. Valores da alma da gente reclamam paz; vez em quando oferece luz na presença das dores do imperar as vaidades nisso tudo. 

Há chances infinitas na vastidão desértica sob pena de doer. Querer ninguém quer doer além da conta. Vem à busca do grau, nas jornadas de conquistar os dias, espécie de teor matemático da arte de pensar e não desistir. Houve deuses, há Deus, há Luz, Esperança, bem na outra margem de nós mesmos, o que nos aguardam de braços abertos.

terça-feira, 20 de setembro de 2016

Quaisquer novidades

Os solos das primeiras guitarras ainda crepitavam no palco quando as naves de Colombo aportaram o Novo Mundo e aqui depositaram as bactérias que formariam o painel da conformação dessa gente. Foram dias de expectativa até despontar nos silvícolas consciência inconsciente que produzisse a sucata de carros importados que ora empanturra revendas e revendas e mexem os nervos dos chefões da barriga cheia. Dias e noites correram dos navios ao chão, trazendo os espelhos e as fitas, enquanto carregavam dos rios pedras preciosas, madeira e metais, depois voltados ao serviço mercantil do Velho Continente faminto de moral.

Nisso a mania de explorar os incautos persiste na ganância daqueles dominadores por séculos e séculos. Horas de cólica política vezes sem conta nutrem de esperança as marionetes do voto, vítimas das próprias fortunas pensas. Meros negociantes de tomar o que é dos outros viraram os interesseiros dirigentes. A qualquer custo invadem territórios e já se tornam fregueses naturais. Uns aparelhinhos azulados, que brilham no escuro distraem os protagonistas que acham e os jogam na ilusão feitos autores adormecidos de destinos largados fora do movimento. Agem quais falsos agentes de mudanças impossíveis, porquanto entregam aos velhos corsários o direito de reverter tal quadro e mostrar força teriam os silvícolas viciados nos de espelhos e latas enferrujadas.

Acreditassem de verdade no poder que possuem e o mundo seria bem outro menos agoniado, inseguro, ignorante, trágico. Trabalhassem o dever da cidadania, sem se prostituir e depositassem nos sonhos da perfeição a balança do equilíbrio social.

Porém quanta irresponsabilidade na alienação das massas desses tempos perdidos e sufocantes. Tanta imprudência com a carne alheia que carrega nos ossos, tanta indiferença perante as leis, e oportunidades mil atiradas ao lixo. Padecem e abandonam a possibilidade das conquistas. Entretanto os milênios seguem oferecendo chances de reverter o processo histórico por meio das urnas, ao sabor das ações pessoais de uma solidão coletiva.

sexta-feira, 16 de setembro de 2016

Voz de travesseiro

Em tom confidencial, profundo, que requer o mínimo de cumplicidade, fala a voz das vísceras em querer conversar logo cedo com quem confessa as marolas inconfessáveis do passado. Na verdade deixadas de lado, escondidas durante algum tempo, no entanto vivinhas da silva no refolho lá de dentro.

Bom, essa voz que traz momentos e sonhos... Às vezes bons; doutras assustadores, avisos de tempestades fruto das ações. Mas virá eterna do circo da gente, mencionando as dobras escondidas do vetusto Inconsciente. A missão dos humanos, pois, será de revelar o filme desse Inconsciente perdido e achar o Si que nele existe. Revelar a Quem o trouxe a este mundo a força genial da saúde. Voz de mistérios recônditos do elemento vivo, o jeito que a Natureza mostra de falar à circulação sanguínea as ordens dos milênios, enfim roufenha, macia, cálida, a depender do estado da presença dos que ouvem.

Ouvir por circunstância a voz, esta que mexe os anseios e pede clemência, mudança, vontade, coragem. Pede sem mandar. Perfura o carnegão dos sentimentos e alimenta de lembranças o pensamento. Trabalha desejos e sacode a poeira das paixões. Talvez clamor de atitudes e compromissos. Voz imortal que existirá depois de voltarmos das realidades noturnas sem mais subterfúgios, grito de socorro ou alerta aos navegantes das águas turvas.

... De um travesseiro que conservará por tempo longo babas do gigante adormecido ainda envilecido nas vigílias do plantio e das colheitas torpes, submerso na lama dos continentes. Sujeitos ao proceder da ilusão, largariam para sempre chances de revelar a sombra ou arrastam pelos pubianos na crosta daquele chão. 

Ah, voz de fantasmas da Verdade em potência... Inúteis labaredas do mesmo inferno, que, belo alvorecer, derreterá em fogo intenso as armaduras. Contudo frutos da claridade dos sonos que falarão no silêncio e na essência, festas adiante dos que escutarão os próprios passos e as novas cadências da vitória definitiva. 

quarta-feira, 14 de setembro de 2016

Uma ou duas vontades próprias

O espaço de convivência desse chão comum significa tantas e quantas vezes dividir as escovas e as espadas em iguais proporções. Afirmação por demais inútil, porquanto todos os guerreiros imaginam ser os donos absolutos da verdade, no entanto existe pouquíssima chance de vitória de ambos os lados. Durante os torneios dessa madrugada, por exemplo, Furioso predominou diante de Moderado, ainda que este pedisse paz e as lutas prosseguiriam noite a fora. Primeiros sinais de inutilidade dos embates cresceram no horizonte, sobretudo depois do Sol nascer. Os fantasmas da discórdia, face à luz solar, num gestos simples aclararam os ânimos e saíram de mansinho, na espera de encontrar os adversários em outras pelejas fora da existência esplendorosa do Sol.


Nisso ninguém leva a melhor quando o Sol desponta no horizonte da razão. Correm à procura dos motivos de evitar as cicatrizes, ainda que viessem prontos para brigar pelos velhos motivos da destruição dos corpos de carne. Carregam consigo os arcos e flechas, as paixões do sangue e a sede do egoísmo. Tontos de desejo da fria ilusão, descem as calças alheias na maior das facilidades, ignorando a consequência imediata dos atos sujos que praticam. Desse jeito, os guerreiros demonstram nem o mínimo sequer de conhecimento e respeito pelos soldados mais antigos.

Com tais atitudes sujam de lama a história de vida na caserna e dramatizam os palcos mediante derrotas e burrices que sustentam na maior sem cerimônia. Forçam, igualmente, a queda de outros parceiros, enlameando as calçadas e os becos de condenados ao fuzilamento impiedoso.

Não fossem tais incoerências e a população dos vivos e a carcaça dos animais pré-históricos nem precisariam habitar museus de solidão dos abandonados pelo tempo e poucos, ou até nenhum, haveriam de ser eliminados da competição perante a Eternidade depois de passar o período talvez longo no fundo daquele Mar Morto que assusta os próximos que aguardam a eliminação.

Porém sem meios de vencer o instinto da derrota, se deixam largar de almas escuras ao mar salgado de lama podre feitos só sucatas de gente que aceitariam a perdição qual condenação e motivo das inexistências originais.

Movimentos e sinais

Esta noite revi num sonho alguns amigos. Alegria, satisfação, felicidade. Gosto de viver com motivação e construir as horas do tempo de crescer, fazer dessa a razão principal de andar neste chão e alimentar o ímpeto de realizar o desejo de amar a vida. Na ocasião, pude considerar as situações da realidade que nos cerca, que já chega lá aos sonhos. A insegurança, as imprevisões. O instinto agressivo dos tempos. Ainda assim, apesar dos pesares, o velho desejo forte de sustentar postulados positivos. Saciar a fome de possibilidades mil dos seres acertar o passo e desvendar o mistério da construção de uma paz permanente. 

Sonhei e vivi, pois sonhar e viver têm o condão das percepções definitivas. Abracei e fui abraçado, e recebi respostas quanto ao futuro, que iremos ser ainda mais ricos de fórmulas criativas de trabalhar com sabedoria. Eficiência e prodigalidade naquilo que seja fiel aos projetos eternos.

Amar, por que não?! Porque sim, sempre! Reunir todos os elementos da Natureza em nós e administrar de esperança a vivência comunitária, lembrar os demais quais irmãos e produzir os impérios da Luz verdadeira no coração infinito da razão.

Saber viver tal e qual o projeto original determinado no Paraíso verdadeiro, admitir os poetas e filósofos, artistas e místicos da virtude, do bem e da solidariedade. Igualdade. Liberdade. Fraternidade. Tudo sob o firme propósito de que também depende da gente a construção desses princípios definitivos das reais formas de amar. Sem trauma. Sem lenço. Sem documentos. Amar acima de tudo, com justiça e leveza, fora de arrancar pedaços ou destruir a essência do Si que tanto se busca e anseia.

Amar acima de mal e bem individuais. Amar qual verbo intransitivo e perene. Amar simplesmente. Bom, que direi quanto a reencontrar meus amigos em sonho. Que eles também desejam ser felizes acima das frioleiras e questões, artífices da verdade dos páramos do fiel sentimento.