sábado, 30 de abril de 2016

A peneira do tempo

Tempo é um dos orixás mais destacados no panteão do candomblé afro-brasileiro, reverenciado só o tanto. Ele a tudo cura e tudo retribui. É a balança da Justiça maior, que chega ao lugar e no dia certo, traduzindo o que lhe oferecemos por meio dos nossos atos, quando largamos de lado os pensamentos, as palavras, e chegamos às atitudes, que é o que conta na verdade dos resultados.

Quanto, pois, o poder da peneira do tempo, através de que tudo deverá passar sem demora e sempre real, longe dos impossíveis de que uma chuveirada lavaria tudo. Somos donos do destino até quando liberamos os atos na correnteza das histórias. Soltas as sementes do que quer que seja, lá iremos colher no transcorrer do deus do tempo.  

Não duvidar, que duvidar isso de nada representaria em termos das leis universais de que somos aprendizes. Fossemos senhores das respostas universais e seria um mundo de cada um. 

Em resumo, quando passar pela peneira do tempo estabeleceu o crivo da Lei do Retorno, fruto das reações inextinguíveis. Imaginar nem que de longe que nossas produções caem perdidas nas poeiras do Universo significa pouco respeito a valores que impõem determinação, e pronto, quer queiramos ou não, há que se passar pela peneira do tempo. 

Jeito simples de olhar o panorama visto da ponte quando quer avaliar o jeito de abrir as janelas do dia seguinte e manter a consciência em paz diante do que depositamos nos bancos da eternidade dos nossos praticados. 

Ninguém fugirá ao que ocasionou, seja de mal, seja de bem, porquanto ocasionou acertar com a casa de ser feliz.

segunda-feira, 25 de abril de 2016

Espelho, espelho meu

Em que espelho ficou perdida a minha face? Cecília Meireles

Narciso andava assim meio de bobeira, quando lá um dia resolveu abismar as águas calmas de lago perdido naquelas florestas rochosas da Grécia Antiga, pátria dos deuses do Olimpo. 

Ele fora seguido e cobiçado pela ninfa Eco, que vivia lhe contemplando às escondidas o porte perfeito, até que Hera resolveu punir tal ousadia e virar repetição todo som que ela falasse dali em diante. Quando Narciso nisso percebeu ter beleza apreciável, também quis corresponder aos desejos da ninfa, e ao buscá-la jamais conseguiu dela se aproximar; achegou até a beira da água de um lago, indo contemplar a própria e irresistível formosura, caindo nos encantos pessoais e por si mesmo se apaixonando. 

De tanto buscar a realidade refletida no inverso da imagem do espelho nas águas, acabou morrendo ali submerso, afogado na ambição de si, e por si se perdendo.

Eco, escondida nas matas, ao testemunhar a extinção do amado, extremo dos desesperos emite pela derradeira vez a voz que virava som repetido nas distâncias, e ganha para sempre a forma de um rochedo à beira do lago onde Narciso sumira, este agora transformado em bela flor.

Dizem os sábios que o alter ego, o outro de nós que procuramos ao logo dos dias, invés de fora, ele habita dentro de nós, nas curvas do ser mais íntimo misterioso. Por maior que exista desejo de encontrar a essência longe daqui da alma da gente, os objetos físicos são apenas o reflexo do egoísmo sem consistência das ilusões inúteis, das sombras. 

Porquanto a tristeza de Narciso em preencher o vazio de algo que lhe atormentava, a ânsia de amar de verdade, fê-lo sucumbir à mera impotência dos sentidos, que embriagam e só desfazem a existência, uma espécie de mito da posse na sociedade do consumo, de prazeres fáceis, angústia e ambição, tais Narcisos presos aos laços da satisfação imediata, cegos às miragens de deserto infinito. 

sábado, 23 de abril de 2016

Enquanto botamos a culpa só nos outros

E nós o que estamos fazendo de tão diferente que nos dê elementos a indicar nos demais as dependências que ainda regem esse mundo? O que de melhor temos a oferecer, que esperamos um dia poder fazê-lo e transformar o quadro de miséria que invade países, toma os noticiários e fabricam armas sofisticadas para eliminar os irmãos? Que novos equipamentos inventamos que refaçam as esperanças de tantos perdidos na escuridão do desespero? (Aguenta mais um pouco?) Quais medidas drásticas já aplicamos ao nosso ritual de acomodações e vícios que transmitam confiança e justiça diante dos métodos até então levados à prática? Que exemplos de sinceridade no trato da coisa pública, das carências sociais e dos métodos de respeito mútuo, que não gerem descompasso e cobrança no decorrer da história, seremos os autores? O sal na sua intensidade, que tem tanto sabor e com que iremos salgar o gosto de profundas revisões nos costumes coletivos, aguarda a milênios nossa participação atual.

Nisso, enquanto apontamos o erro nos olhos dos outros, a trava encobre nossa autocrítica de rever os conceitos, trabalhar valores dignos e somar as partes do grande universo na expectativa de solução. Guardamos dons e talentos só na intenção da festa maior do dia da vitória, invés de agir hoje no patamar das próprias pernas, arautos da verdade e senhores da razão de agá. 

A comunidade apresenta exata a nossa cara... Resulta dos bilhões que somos a humanidade espalhada entre solidão e guerras, rebanhos afeitos ao interesse particular e dos grupos exclusivos, largados nas vestes do egoísmo, infestados da ansiedade torpe do poder terreno. Abrir mão dos desejos individuais, nisto nem pensar. 

Quando, pois, quisermos revidar os erros dos que nós mesmos pomos no poder, merece avaliar o quanto de responsabilidade precisa que assumamos e tratemos disso logo agora, na disposição de recriar as expectativas deixadas pelos fracassos e perdas. Homem algum é uma ilha, dissera John Donne, poeta inglês. Chega de omissão e fuga da realidade real, nos gestos e fraquezas. Se há que mudar o mundo, comecemos de nós mesmos, então. Unicamente desse jeito de mudar a nossa cara, veremos caras novas a seguir conosco nesta jornada infinita das estrelas.

sexta-feira, 22 de abril de 2016

Bendita a luz que alumia

Veja o lado bom em tudo, que isto por si já traz força suficiente a crescer, a despertar; nada de revolta, pessimismo ou desengano. Tudo está em nós. Pratique o que aprender na vida. É livre, cheia de sonhos, se alegre, e verá nascer um mundo diferente, novo e próspero.

Junte essas palavras e anote um projeto de vida. Tudo é diferente quando a gente muda para melhor no sentido da aceitação das oportunidades quais instrumentos da transformação abençoada que os caminhos da existência oferecem.

Veja do outro jeito, do jeito certo, de quem tem fé, a força maior da gente, comparável o amor de Deus por nós.

Mesmo assim teria de aguardar um tempo, não é desse jeito que funciona? Agora irá à busca. Há sempre uma alternativa quando se está vivo, com saúde, jovem, livre dos pesos antigos, idealista, sempre positivo...

E quero ver os frutos das conversas. Nada de contrariedade. Desenvolver diante da vida os anticorpos aos desafios e provas. Cada um de nós tem as suas energias suficientes a vencer as intempéries. Às vezes maiores, às vezes menores, mas do tamanho que tem que ser.

Quando tem de acontecer, acontece. Vi que precisamos de novas chances de adquirir o conhecimento inevitável das jornadas terrenas, a ampliar a capacidade com que trabalhar os lenitivos. Tem que ter a força de trabalhar, o gosto de estudar, evoluir. Muitos precisam da gente do seu jeito e do jeito que somos.

Vamos deixar o barco seguir, e observar de onde vêm as avenidas do futuro. Agora é calma e repouso. Até começar outra vez.

Agora abraço de boa paz. Sucesso na vida. Um dia iremos comentar com alegria o quanto nos deu força vencer os desafios que se nos apresentaram.

Algumas notícias boas

Há uma lua cheia no céu a iluminar a noite em meio aos sonhos de multidões inteiras trabalhando na busca definitiva de ser feliz. Pastos e animais adormecidos na roça da esperança, diante das certezas de que nascerá o Sol radiante de esplendor inigualável amanhã bem cedo. Crianças alegres no caminho da escola, cheias de energia que cresce dentro de seres recentes que pisam este mundo e alimentam o abraço amplo das mais plenas realizações de perfeição. Senhores dedicados aos filhos seguem ao trabalho no mesmo afã do primeiro dia, na disposição de construir a transformação desde o heroísmo anônimo que carregam no seio de si. Mães abençoadas e seus testemunhos de carinho infinito aos instrumentos da renovação da espécie, as pessoas que disso não têm a menor dúvida que ser amadas de pleno sentimento. Líderes que sinceros, honestos, dispostos à construção coletiva, desempenham o poder constituído na missão própria de elevar aos céus a fé de todo cidadão que lhes confia o direito de agir em prol de todos. Moços cheios de valor, que propiciam a união pelo bem da Humanidade inteira. Geração após geração, o progresso toma conta da história, desenvolvendo o espírito de solidariedade humana. Religiões fiéis aos princípios da dignidade, exercitando a virtude na prática do que ensinam em seus templos. Terra sem males, amor nos corações em festa, palavras justas e valiosos sacrários de bons procedimentos, tudo, afinal, neste mundo de meu Deus. Respeito entre as criaturas humanas. Casais amantes e persistentes nos domínios da paz das famílias. Luz nas mentes, força de espíritos de querer absoluto daquilo que é bom. Vontade limpa do desejar apenas o que lhe pertence, longe de ambicionar ou tomar o que pertence aos cidadãos, na faina intensa do viver coerente aos melhores princípios revelados pelos séculos das civilizações. Eis, por isso, o aprendizado correto do que de há muito aguardam os povos em tudo quanto é país do belo Planeta em que habitamos. 

quinta-feira, 21 de abril de 2016

Coração de pedra

Ontem à noite, por ocasião do lançamento do sexto livro do escritor caririense Geraldo Ananias Pinheiro (Difícil regresso) no Instituto Cultural do Cariri, em Crato, me avistei com o professor Idalécio de Freitas, do Geopark Araripe. Dentre os assuntos que tratamos, veio à tona que mantivera contato com um estudioso do Sudeste, e mostrara pedra fóssil que despertou a atenção do cientista. Daí, este veio a examiná-la através de tomográfica computadorizada, a fim de conhecer o interior da peça. Resultado, chegou a identificar partes internas de um peixe fóssil, com isso desvendando mistérios até então encobertos à ciência, por exemplo, existência de cinco valvas naquela espécime examinada.

Com base nas imagens, a reconstrução do coração do peixe mostrou a presença de cinco valvas no chamado cone arterioso, de onde o sangue é bombeado do órgão para o resto do corpo. É uma característica intermediária entre os parentes modernos do animal, que não possuem tais valvas, e peixes mais primitivos vivos hoje, que possuem nove valvas. Ou seja, por estranho que pareça, no caso dos peixes a evolução produziu corações mais simples, e não mais complexos. (http://www1.folha.uol.com.br/ciencia/2016/04/1763272-cientistas-brasileiros-acham-o-primeiro-coracao-fossilizado.shtml).

E logo cedo, hoje, dia seguinte, ao abrir o site da UOL, me deparei com a notícia estampada ao mundo inteiro dessa descoberta inédita, procedente da Chapada do Araripe (Pesquisadores brasileiros acham o primeiro coração fossilizado, numa matéria de Reinaldo José Lopes para a Folha de S. Paulo).

A equipe de pesquisadores recorreu a equipamento sofisticado, na cidade de Campinas SP, por meio de raios X altamente energéticos produzidos pelo LNLS (Laboratório Nacional de Luz Síncroton), que permitem a tomografia do fóssil usando nível de detalhamento muito superior ao dos melhores tomógrafos disponíveis na medicina.

As implicações da descoberta significam o avanço das pesquisas quanto ao bombeamento do sangue pelo coração, vista através da evolução das espécies desde então, há 115 milhões de anos, tendo por base esses tais levantamentos procedentes de material coletado na Chapada do Araripe, Ceará, que guarda registros geológicos do Período Cretáceo, quando existia mar nesse território hoje interiorano.

segunda-feira, 18 de abril de 2016

Acertar o passo

Nessa peleja de viver o tema principal jamais deixa de ser a grave pergunta: Estou no lugar certo, na hora certa e fazendo o que é certo? Quem nunca se deu em face de tal questionamento que erga o braço. Certeza certa ninguém ainda tem de quase nada. A largura desse chão que fale por si só. Nós, seus moradores, arrastamos os pés na busca incessante de tranquilidade, e por isso viver com felicidade. Acorda. Banha o rosto. Come. Saí na ânsia do dia e acha o que fazer, até regressa no fim do dia aos ninhos. Quantos procedem desse jeito e revolvem amarguras de passados pertos e distantes. Houvesse desejo insistente de aquietar o ânimo e deixar de lado essas filosofias de existência, no entanto ali do lado repousariam, feito cães de guarda os nossos negócios do dia seguinte. 

Daí o plano diário de acertar passos no caminho certo. Qualquer profissão, ou nenhuma profissão, ou ofício, ou emprego, função, compromisso, viagem, larga a gente longe de nós próprios, pois somos o carreto dos ombros daqui aonde seguirmos. Essa tela mental persiste olhando dentro dos olhos da alma e impera mais que os vídeos e espelhos dagora pelo paraíso da eletrônica. Acertar com a estrada à nossa frente, eis o ponto crucial do trajeto das histórias humanas a todo século. 

Quisesse aconselhar alguma orientação de oportunidade, acalmar o juízo das outras pessoas, talvez haja chance disso, contudo só cada criatura responderá aos impulsos que recebe. Ninguém muda ninguém, uma vez sermos donos absolutos de nossas intenções e ações, lágrimas e pensamentos, impulsos e aventuras, na face dos desertos dessa história perene de sobreviver a qualquer tempo no auge da sorte individual. 

Nisso torna-se valioso sobremodo clarear o território em volta e cuidar de agir com seriedade, dignidade consigo mesmo, ser fiel ao destino em nossas mãos. Abandonar meras ilusões de encher o vazio através das facilidades que dá o instinto de encher o mundo. Impor nossos créditos naquilo que nos compete, e amar muito, inclusive a nós e ao próximo, sem esquecer um minuto que seja da existência do Altíssimo Senhor do Universo, autor de tudo e Pai.

domingo, 17 de abril de 2016

Recado a um amigo

Tiago, Só agora li o livro que tu me mandaste através de Ana Ruth em julho do ano passado, Letra e música, de Ruy Castro, na bem cuidada edição da Cosaknaify. Qual dissera, são belas crônicas publicadas na impressa brasileira pelo exímio biógrafo de marcantes personagens recentes do País, um verdadeiro mestre dessa arte. Dos feitos de Ruy Castro no livro, preserva os mínimos detalhes da epopeia da bossa-nova, deixando gravado em mais esse trabalho o valor do estilo que marcou a música do mundo inteiro, entre as décadas de 50 e 60, continuando vivo perante todos os outros ritmos.

O livro traz de volta os sonhos de criarmos a civilização em nossas terras, que movimenta nossos pares, escrito com a qualidade do escritor jornalista que se engajara na geração que produziu dentre outros feitos memoráveis O Pasquim, emblema libertário de época por demais criativa desse período.

Quase numa tirada, usufrui das riquezas guardadas nas crônicas em dois volumes, de caráter musical, o primeiro; e literário, o segundo, bem aos moldes da fase que testemunha. 

Bom, mas vim aqui lhe transmitir o meu agradecimento pela boa lembrança, que se soma a tantas outras. E como necessitamos de manter acesa a flama de transformação que alimentamos. Sobreviver o bom gosto nas artes, nas letras e músicas. Tocar adiante nomes imortais, João Gilberto, Tom Jobim, Gal Costa, Paulinho da Viola, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Chico Buarque, Carlos Lira, tantos, tantos mais, que vivem de novo a cada lembrança, a cada crônica. Revive aspectos vários da trajetória dos valores essenciais da cultura nacional, tão esquecidos no decorrer desse tempo.

Assim, nesta fala, seguem minhas notícias de quem acredita piamente nos dias renovados que crescem nos horizontes do Sol. 

Abraço de Paz!

sábado, 16 de abril de 2016

A tartaruga

Certa manhã, quando Chuang Tzu pescava solitário nas águas de um rio profundo de sua terra natal, vieram procurá-lo dois serviçais do príncipe de Chu, a província em que habitava. Eles vinham cumprir as formalidades de propor ao sábio a incumbência de ser o administrador do tesouro da corte.

Silencioso, tranquilo, qual o leito daquele rio, o discípulo de Lao Tzu apenas ignorou a presença dos visitantes e seguiu concentrado no seu ofício, indiferente aos acontecimentos em volta.

Preocupados com o tratamento recebido, os funcionários reais insistiram e, de novo, mais veementes, transmitiram a proposta do soberano. 

Nesse momento, reverencioso, Chuang Tzu cumprimentou os embaixadores em seguida considerou:

- Um dia chegou ao meu conhecimento existir na capital da província o casco de tartaruga sagrada, morta há mais de 300 anos. E que Sua Alteza o príncipe conserva essa relíquia debaixo de sete chaves, numa arca de ouro instalada sobre o altar mor do templo, costume já originário dos ancestrais.

Nisso, os dois funcionários balançaram a cabeça, na confirmação o que ouviam, enquanto aguardavam o desfecho das palavras do sábio. 

- Pois bem, ouvindo esse convite do soberano destas terras, quero fazer aos senhores uma pergunta: Caso houvessem dado a essa tartaruga outra oportunidade, no lugar de ela morrer e virar instrumento de veneração, que pudesse continuar vivendo e arrastando o rabo no lodaçal dos pântanos, será que escolheria o sacrifício ao qual se viu submetida?     

Os emissários nem careceram de muita demora até responder quase a uma só voz:

- Asseguramos, sem duvidar, que, se pudesse, preferiria continuar vivendo e arrastando o rabo no lodaçal dos pântanos.

- Eu imagino também que desse modo escolheria – retrucou o mestre, acrescentando:

- Por isso, desejo aos senhores que retornem e transmitam ao Príncipe meus agradecimentos pelo honroso convite. Pois também pretendo seguir vivo e permanecer aqui em meu lugar, arrastando o rabo na lama escura destes sítios felizes onde moro!

sexta-feira, 15 de abril de 2016

Esse animal que pensa

E que espera, age, sucumbe, levanta a cabeça, sofre, desespera, alimenta, cai, ergue os olhos aos céus e ama, ama muito nas novelas e no anonimato... Nós, esse animal que vive os dias e dias na fome de ser feliz; luta dos insanos combates com estranhos seres das entranhas deste mundo, que somos nós mesmos, que olha aflito o fluir constante das horas pelas chaminés dos destinos, sem adquirir, no entanto, a certeza definitiva de tudo. Observa as alternativas e corre o risco das léguas de desejo, na busca da fonte perene que sustente o sonho da verdade plena, da justiça e do perdão. Essa muitas vezes fera dos irmãos na luta pela poder do chão das almas. Formas e torrões do açúcar que escorrer de bocas sedentas da realização. Tropas e bandos na farra desembestada de posses, apegos vazios, objetos em decomposição; maltrapilhos senhores de inutilidades que traduzam ausências absolutas de convicções consistentes. Sombras essas que assustam as fronteiras da morte. Migalhas de saudades lançadas ao vento da angústia. Esses tais seres pensantes, nós. 


Quais penas ao calor dos firmamentos, eles sobem escarpas e fogem nos becos das madrugadas, sem contar uma história real de progressos e realizações nos moldes limpos de paz e solidariedade. Ampliam os planos, mas largam de vez a convicção dos começos. Enganam, pois, a si mesmos invés de sustentar a firmeza e construir o mundo novo de que tanto fala. Gigantes prematuros, ainda poucos iluminados, que abaixam a cabeça aos instintos da sobrevivência do amor próprio insaciável. Ah! Esses heróis que todos somos e essa disposição de reverter os pecados em virtudes, longe, contudo, das práticas mais que necessárias. Ah! Quanto resta de caminhar até chegar...

quarta-feira, 13 de abril de 2016

Ânsias de poder

Quantos (tantos) alimentam a sede do poder entre os seres humanos, lúgubre vaidade que repercutirá ainda por longas datas, porquanto só poucos reconhecem as limitações pessoais, e querem dalgum modo transformar a sociedade sem nem haver transformado a si mesmo. Eis o desafio da política, espaço conquistado a duras penas desde que os primeiros habitantes do Chão descobriram a importância de viver em grupo. No entanto a evolução das civilizações apresenta a desníveis entre o desejo individual e os interesses das coletividades como um todo orgânico e necessário. 


Houve um tempo, e outros haverá em que lideranças autênticas chegaram ao poder político e, tais mensageiros de verdades maiores, cumpriram fielmente seus misteres, causando bons frutos e a progresso no seio dos povos. Quase exceção à regra da mediocridade, contudo. A rotina oferece de comum meras pretensões de conquistas pessoais nos que se sucedem nos cargos públicos. Isso, porém, clama consciência das populações na escolha dos representantes. 

Ainda que seja assim, de difícil solução a equação moral, ninguém que desista de achar os meios de solucioná-la e de dar plena continuidade aos grupamentos humanos durante quanto tiver de ser. Trabalho repetido e esperanças renovadas a cada pleito eleitoral, e nada de entregar a aventureiros e tiranos o fator principal das gerações. A coletividade dispõe, destarte, do compromisso urgente de revelar os reais ditames de governo e salvaguardar direitos conquistados vida afora.

Os governantes cumprem missão essencial aos povos e os legisladores precisam exercitar com coragem o primado das leis que ordenam aos cidadãos, conquanto pelo exemplo as virtudes bem produzirão a paz e a justiça de que tantos carecemos.

terça-feira, 12 de abril de 2016

Aventura cinematográfica

Em 1976 vivia o auge de uma paixão pelo cinema. Cursava Comunicação na Federal da Bahia e ganhara de presente, de meu irmão Everardo, que morava em Recife, pequena câmera Super8 e exercitava forte o desejo de produzir filmes daquela bitola reduzida e cheia de possibilidades. Nisso, um amigo e colega do Banco, em Salvador, Boanerges Castro, trompetista da Banda do Companheiro Mágico, me convidara a produzir curta-metragem que registrasse a festa anual de sua devoção, São Gonçalo, no vilarejo de Canabrava, oeste baiano. E seguimos até Livramento de Nossa Senhora, na Chapada Diamantina, onde residiam seus pais. Ele, Isabelisa e eu. 


Antes passáramos por Mar Grande, quando participamos do Primeiro Festival de Música da Ilha de Itaparica, naquela localidade. Dia seguinte logo cedo, pegamos a BR-101 e fomos a Vitória da Conquista, daí Brumado, subimos serra e pernoitamos em Livramento. 

Mais um dia e nos dirigimos a Canabrava, em cima de um carro de boi, pois as estradas ainda nem circulavam de automóveis. Mais outro dia seguinte e começou a festa tradicional, razão da filmagem. 

Lembro como sendo hoje aqueles momentos. Mais dois amigos de Boanerges, também músicos que com ele mantinham o pacto de sempre viram juntos e tocar na festa, acompanhavam  a procissão que circulavam pela pequena localidade, secundada de fiéis procedentes doutras partes do Brasil, filhos e amigos afeiçoados ao santo, algo de devoção e romaria das alegorias divinas de coisas sagradas, espirituais. 

Emoção sem tamanho tomou conta de mim no decorrer do trabalho, acrescida pela beleza natural daquele lugar inesquecível, próximo à Serra da Mangabeira, de que avistávamos ao longe a silhueta emoldurando o brilho daquela espécie rara de santuário, igrejinha perdida nos rincões dos mistérios da beleza e do sonho.

Resultaram em poucos minutos de filme, o que viria a montar, antes de regressar ao Cariri, passados sete anos ausentes. Dele nem guardaria cópia. No entanto tenho comigo a certeza de que Boanerges a mantém com o mesmo carinho que nos motivara a experiência. 

segunda-feira, 11 de abril de 2016

O exemplo de Jesus

A forma ideal que o Poder Superior adotaria de ensinar à Humanidade o caminho da Salvação das velhas contradições e temporalidades deste mundo significa o momento da presença firme de Jesus junto aos povos, quando nasceu em Belém de Efrata, entre as tribos de Judá, descendente direto de Abraão. 

Durante vida terrena de 33 anos, o Mestre Divino apresentou exemplo da mais pura vivência com a arte e a sabedoria da existência plena, desde o jeito de pelejar pela sobrevivência com dignidade, a conviver em harmonia e justiça com os irmãos, na face da Terra. 

Enquanto ensinou às multidões, nos mares e campos da Palestina, demonstrou, através de lições, curas e prodígios, como solucionar os impasses e desafios da boa convivência, e orientou caminhos a seguir no sentido da evolução espiritual, única alternativa de chegar aos páramos celestiais, na Eternidade vindoura. 

Dotado de bondade e perdão, testificou o amor verdadeiro, jamais fugindo às circunstâncias da realidade sob a força bruta de dominadores tiranos, os quais lhe perseguiram os passos, e rendeu-se ao sacrifício supremo na própria Crucificação.

Ainda durante a infância, ferindo os interesses dos impérios com sua presença, exercitara sempre a missão da renúncia aos valores imediatos em favor do crescimento interior rumo da transformação das vaidades no Reino da virtude que propagou. 

Sob sua Luz, a história redimirá em Si em todos, esperança da glorificação definitiva das almas e conforto dos que alimentam desejos da Paz indo ao encontro supremo de Deus.

domingo, 10 de abril de 2016

A responsabilidade das palavras

Pois a elas caberá testemunhar os anseios das pessoas daqui desse chão. Trazer verdades bem mais linheiras do que todas as angústias. Penetrar as estâncias da essência do ser. Indicar os caminhos pelo o ar nos riscos de giz escritos nas ondas do mar. E nisso pisar de leve as plantinhas do mato nos traços das passadas incertas dos aventureiros ali perdidos, esquecidos. Oferecer respostas aos tribunais da Inquisição. Aumentar o desejo dos amantes. Refrear o instinto dos animais enfurecidos nas jaulas da matéria. Nutrir de esperanças vadios abandonados pelas ruas das cidades zoadentas. Suprir os mercantis de seus produtos industriais, ração das semanas sem fim. Conduzir as caravanas nesse deserto de amizades, ou não, que elas existem sim. Alimentar a vontade inesgotável do prazer naqueles vultos largados nas frias e insones madrugadas. Acalmar a saudade agressiva das horas que fogem pelos dedos sem deixar vestígio das pessoas tão amadas. Solfejar as melodias que dão conta dos momentos mais felizes e ligeiros das fitas de cinema e loterias ilusórias. Compensar assim emoções fortes dos romances esquecidos. Salvar os seres aflitos dos incêndios da paixão desenfreada. Caminhar junto dos solitários que esqueceram aonde seguiam no meio do rebanho e apenas olham vazios quais espécimes largados ao sabor do clarão nas alvoradas. Versos e reversos que tudo dizem na forma das palavras, raízes dos pensamentos, e entregam ao silêncio vigoroso o poder de renunciar aos transes lá do outro lado que espera de olhos bem abertos as multidões impacientes. Quão doce o verbo em forma de canção. Quanta possibilidade no rever dos instantes que se foram e voltam ao gosto dos melhores alimentos desta vida de palavras tantas. Nunca se está só quando elas chegam amáveis e sinceras, e envolvem os filhos diletos do perdão de novas oportunidades. Há intensa a responsabilidade nas palavras ditas ao fervor da devoção, porquanto todas as religiões são verdadeiras quando praticadas com amor.

sábado, 9 de abril de 2016

Quando lá um dia de manhã

... E a gente se toca da necessidade urgente de admitir a inevitabilidade naquilo que plantou, que voltara às nossas mesmas praias sombrias ou ensolaradas, e chega devagar ou rapidamente na vida por si só ainda plena das ocupações atuais, tendo por isso de encarar as velhas plantas do passado. 

Forma definitiva de manter a ordem natural em tudo, as presenças aqui do lado, o canto dos pássaros ali de fora, as cores do céu aberto de um verão chuvoso, e, no entanto, admitir que patrocinou os tempos antigos de enganos ou flores belas de doces alimentos. Eis assim o que os orientais resolvem denominar carma, ou respostas da Lei do Retorno, da Causa e do Efeito. Porquanto em tudo há uma justa homenagem ao Pai da Criação, autor magistral de tudo quanto persiste/persistirá nas frações do tempo, inclusive ele o próprio Tempo.  

Alguns indagam das paredes e das matas a razão principal disso existir de tal maneira, prudentes pesquisadores da ordem vigente. Mas é que existem normas independentes da vontade humana deslizando por baixo dos acontecimentos. Espinhos ou rosas dos momentos lá anteriores vêm à tona pelas asas da Justiça eterna, máquina perfeita de exatidão matemática. Forças plenipotenciárias cumprem seu papel de limpar as vidraças do depois na alma, que já não morrem mais. 

Tangemos nossos atos quais velejadores em mar de ondas enormes, a receber de volta os ossos dos preceitos praticados, espelhos inevitáveis da correta correção, exercício de aprender a obedecer e galgar os páramos da Salvação para sempre.

quinta-feira, 7 de abril de 2016

Pacto da felicidade

Face ao quadro em movimento, dias e prudências, os heróis abrem os braços ao exercício da liberdade e constroem o destino sadio. Na busca de realizar projetos de sonhos, agem intensamente, revolvem escombros e usinam revolução verdadeira. Quantas vezes quebrariam a cara, isso já não importa mais, quando clareiam as luzes do amanhecer. Suores do rosto e dores no parto seriam o alimento dos milênios a fio da nova humanidade que cresce harmonizada. Por isso, agora os cinco sentidos e a consciência resolvem estabelecer novo pacto de criatividade, esta outra parcela do depois que afinal revela o horizonte. Chega de notícias ruins e interesses egoístas de poder diante das descobertas auspiciosas desse caminho justo e honesto dos propósitos reais. Querer mudar o mundo nascendo de si mesmo, invés de exigir as mudanças gratuitas do mercado só material através da imposição simples e grosseira dos caprichos de poucos. Demonstrar boa vontade, pois, qual fator inevitável de merecer algo melhor, eis a prática transformada do correr das gerações. Bastem de ganância e desleixo, invasões das liberdades alheias e extorsão dos valores ideais. Quando nem havia esses conceitos modificados para o lado positivo, e os seres já alimentavam a chance valiosa de chegar à paz e viver felizes. Foram milhões de tempestades difíceis até aqui. Portas que nunca abriam e laços estúpidos despejados montanhas abaixo. No entanto viva o poder infinito e eterno da razão maior, que agora nos abraça o sentimento e desvenda o mistério de amar qual norma de sabedoria e princípio definitivo dessa Nova Jerusalém celeste no seio das criaturas humanas. 

quarta-feira, 6 de abril de 2016

Uma alma nova

Em andamento esse tal processo de revelação de nós de nós mesmos; eis o que resolveram nos começos da jornada, chamar de viver e ver. Lá belo dia os ares ver-se-ão acompanhados das mudanças extraordinárias por dentro do metabolismo estreito do território conflituoso entre pensamentos e sentimentos. As fornalhas do peito, então, ferverão com bem mais intensidade, deixando margens reais de querer dominar o desejo e fixar a concentração só dentro das determinações do que diz respeito o influxo do sangue puro, na faixa intermediária do ventrículo esquerdo para o ventrículo direito, oferecendo soluções de resolver seguir ditames de alegria e encontrar novos métodos da transmitir do Si ao que há de muito procurado no meio dos escombros. Força viva de mudar as normas da comodidade verá acontecer, pois profundas movimentações dos grupos internos das duas correntes políticas interiores, que pleiteavam o andamento de tudo ao interesse particular abrirão as portas a meios renovados de presenças na casa da alma, e o viajante reunirá a bagagem dos hemisférios e dará os primeiros passos no novo patamar, fornecido pela recente descoberta. Sempre existirão quais alternativas possíveis de salvação; enquanto há vida há esperança...

Durante todos os debates cruciais da escolha da qual seguir, no pressentir das horas, jamais se esquecera de considerar alternativas justas de solucionar o drama dos velhos elementos em choque. Nalgum universo da Galáxia, de tarde, aos pios das corujas que vagueiam sobre os montes, propiciações de criaturas iluminadas nutrem, por isso, o objetivo firme daqueles amantes da verdade absoluta e do sonho lúcido.

segunda-feira, 4 de abril de 2016

Razões da conformação

Conformação, essa justa condição da existência humana sobre a Terra, porquanto nem adianta estrilar que as regras do procedimento das leis eternas estão aos nossos passos, que dependem de um poder bem superior à vontade vulgar e medíocre dos habitantes do chão das intempéries e divergências. Há de se achar motivos de seguir sobrevivendo, vez seria impossível contrariar a pobre condição dos entes face aos meios de persistir tangendo vaidades no sentido incerto de depois de cada momento…

E quais razões de resistir, quais justas argumentações de se manter à frente, nas tropas de serviçais do destino, quais somos todo tempo, cabe buscar nas purificações das almas, no projeto superior do Reino que existe logo no outro mundo vizinho ao nosso, tal Jesus tão firme considerou quando trouxe as notícias da imortalidade perante os mistérios desta vida curta de fim inevitável. Encontrar os valores de novas possibilidades, nisto reside, pois, o grande lance da religiosidade com responsabilidade e prática fiel.

Porém chamamentos inúmeros dividem as atenções dos protagonistas da comédia vivida no tempo eterno. Prazeres, posses, atrações; apegos aos pingos que gotejam da sorte de alguns; demoras nas estações dos pecados capitais; paixões desenfreadas que atendem só nalguns instantes fugidios, depois viram folhas mortas de paisagens, frustrações e desânimo. Perdem a melhor parte quando o egoísmo domina o palco, e abandonam as chances de semear as sementes gloriosas do merecimento bom, de construir castelos sobre a rocha, invés dos monturos jogados na lama do desassossego das incertezas.

Isto, sim, plantar mérito diante das contradições dessa jornada que se desmancha feito poeira no espaço das horas de dúvidas e fastio. 

Por isso, na consciência mais íntima das criaturas dotadas de inteligência, dentro das engrenagens dos tais seres de que somos parte, existe a luz da possibilidade desse encontro consigo mesmo, aonde revelar-se-á nós próprios, segredo de estar aqui no formato que fomos construídos. Resta trabalhar com zelo os recursos infinitos da transformação de indivíduos em novos seres de que falam grandes místicos pela vida afora.