terça-feira, 29 de setembro de 2015

Um eterno florescer

A natureza, que não costuma dar saltos, também anda no sentido positivo, daí o eterno florescer de tudo por tudo. Ainda que, nalgumas vezes, pareça trágico enfrentar viver, há sentido essencial de sabedoria que impera no âmbito dos acontecimentos. Admitir o senso dessa alegria, eis razão principal da fé, do acreditar na realização maior de estar aqui. Plantar a semente da esperança no coração, construir montanhas de felicidade no decorrer dos dias. Essa persistência em adotar valores úteis quais elementos vitais de sobrevivência alimenta o bom gosto de continuar mesmo que diante dos obstáculos naturais que se apresentem a trazer meios novos de crescer. 

As lições que o mundo impõe significa o processo de aprendizado constante na produção dos resultados que seremos perante o decorrer das eras vindouras. Sustentar a firmeza dos sonhos e nutrir desejos sadios representa o exercício dessas lições que repousam das duras experiências. Numa semelhança ao fluir original da vegetação, florescer quer demonstrar o quanto o tempo fornece através das horas e que virá produzir os meios de que necessitamos, lá um dia, de frutificar personalidade e qualidade.

São tantas as lutas com que se elabora a vitória das existências que, dagora, de tão longe das estações definitivas, sentimos a aragem prazerosa do sucesso e já nem achamos mais distante o mérito de adquirir o conhecimento nas múltiplas ocasiões, porém investimentos na busca plena de realização do ser a que chegaremos radiosos.

Andar no fio do presente, tendo de cada lado o passado e o futuro, figura qual direito permanente à possibilidade do tempo oferecer as estações através do mistério que passa e, com isso, desfrutaremos a perene observação das maravilhas imensas da mãe Natureza. Nisso milagres acontecem e poderemos, sem dúvida, testemunhar as chances dos ensinamentos divinos.

Assim, jamais queiramos transgredir face ao valor do possível, conquanto o impossível sumisse nas memórias do tempo. Erguer os olhos da consciência ao máximo de nós passa, pois, irradia o quanto das riquezas que habitam todo segundo de uma existência generosa e mágica. 

sábado, 26 de setembro de 2015

E a gente evita dizer

No esforço de melhorar, haja verniz de lustrar um tanto das palavras-sentimento que vêm bem aqui e a gente controla de falar e não machucar, ferir, aborrecer quem passa por perto... Uma verdadeira avalanche de pensamentos é contrariada logo no início das intenções de conservar a calma e preservar amizades, desejos, manias de querer encontrar só defeito em tudo, quais se fôssemos diferentes dos demais, perfeitos juízes e palmatórias do mundo.

Caso essa força agressiva de corrigir o mundo nascendo do discurso que as nuvens formam na saída da fala deixasse de sofrer repressão, e o estrago aconteceria de demorar a limpar e ter de correr continentes escondidos nas montanhas do não aguentar os irmãos seres humanos nem sempre agradáveis, nem sempre sob as medidas de nossas vontades extremas.

Quais funcionários de uma aduana permanente na fronteira das criaturas, nesse processo de dominar o discurso da vontade das leis interiores, instrumentos em punho, os agentes examinam a mercadoria das falas, e o dizer fica meio que civilizado diante dos outros. Cativar, eis o verbo necessário. Quem quer ser bem tratado, que cuide de tratar bem os irmãos. Gerenciar a empresa da boa convivência, a frear instintos em nome de sentimentos, amor e compreensão. 

Disséssemos tudo que aparecesse nas praias da vontade ferida, e as instituições pacificadoras que criaram os povos até hoje iriam precisar de muito mais papel, tinta, reuniões permanentes dos conselhos superiores. Isso por conta dos becos estreitos que a vaidade sujeita alimentar nas lanchonetes da história de nós pessoas. Razão, todos queremos ter. E como agravantes, existem ainda os caretas de plantão que gozam no sofrimento dos parceiros, os quais atiram no fogo à mínima sem cerimônia, prazer mórbido de jogar com o bem estar dos inocentes, nutrindo atitudes que, lá na frente, correm o risco de virar pedra de tropeço. Caiporas da sorte alheia, curtem o sabor amargurado de terceiros num jeito sadomasoquista digno de tratamentos de choque.

Bom, mas falamos de nós mesmos, seres sorridentes que percorrem a longa estrada entre o princípio e o fim da evolução, à busca de identificar no Universo sem final o lugar de paz e concórdia da morada dos deuses.

sexta-feira, 25 de setembro de 2015

As duas dimensões

São mais do que só duas, são muitas dimensões as dimensões. Mas também são duas as dimensões mais próximas ente si, o dentro e o fora, pois de tudo vem o primeiro passo. Cá de dentro e ali de fora. Elas duas se amam de paixão. Vivem quentes de próximas e distantes a um só tempo, no entanto assim quais quem condenadas a existir na fronteira de outros e mesmos destinos que se entrelaçam no passar dias e noites com madrugadas entre elas, as duas. Entrementes uma a usufruir do calor da existência que lhes obriga a andarem juntas na existência comum de dois. Dão notícia nas longas páginas das histórias deste mundo de que nunca houve ou haverá um só dia quando elas ficassem/ficarão, andassem/andarão isoladas, face necessitarem da urgência de ambas, uma da outra, casos perdidos de contar diferente, que saíssem/sairão vagando nas areias de alguma praia, ou num deserto imenso desses que os homens criam nas matas destruídas, nunca andassem/andarão, portanto, fora da dimensão da outra dimensão. Nesse procedimento definitivo, condenação, as perguntas de uma espelham as perguntas da outra, tais gêmeas siamesas que usam as funções digestivas da vizinha ali/aqui do lado de fora/de dentro a fim de subsistir e demorar um tanto mais nas agruras/nos prazeres deste chão de terra/de ouro das criaturas viventes. Correr não pode a do lado esquerdo e deixar a do lado direito largada no chão das praças. Pedir ajuda de terceiros, conspirar com eles, muito menos, visto os terceiros transportarem em si as mesmas velhas raposas das duas dimensões azougadas na ânsia ferrenha de persistir no território da antiga sobrevivência. Bom, o que precisam sobremodo resolver essas duas dimensões virá no senso da igualdade/responsabilidade no fulgor da lua nova, no momento quando aceitarem se amar além da pura paixão, penetrar outras dimensões dos labirintos internos da alma delas duas, e resolver o enigma de, sozinhas, querer existir noutros enredos frutos do desejo parcial da solidão, ganância do isolamento das ilhas desertas. E as veremos exaustas de manhã bem cedo ressonando irmãs uma junto da outra, réstias de sol nas faces da mesma face delas duas, entrelaçadas e abismadas ao furor da procura de brilhar, no dia de todos os sóis lá de dentro da alma de Si.

quinta-feira, 24 de setembro de 2015

O Amigo da Onça

Ele viveu em Crato ali pelos anos 60 e 70, cujo apelido casava bem na sua fisionomia de traços assemelhados aos do personagem Amigo da Onça, da revista O Cruzeiro, um dos apegos da mídia naqueles idos. O desenhista Péricles criara o tipo numa seção de fãs incondicionais, que, de comum, abriam a publicação já a partir daquela página. Nosso Amigo da Onça cratense, no entanto, demorava seu tempo nas imediações da Praça Siqueira Campos, a lavar carros, fazer biscates, escutar as conversações dos motoristas de praça; pessoa calada, discreta, sempre ligada no cumprimento das funções que desempenhava. O papel principal dele seria, talvez, testemunhar o quanto possuía na fisionomia a equivalência daqueles traços do personagem tão querido da hora, e que chegava toda semana de avião, das bandas do Rio de Janeiro, nas folhas da apreciada revista. Quem desfrutou o bucolismo da cidade daquela fase jamais irá esquecer Amigo da Onça, protótipo imediato da criação imortal de Péricles, qual dizia o subtítulo da própria ilustração. 

Bom, depois alguns anos, num desvão da sorte, Péricles deixara de habitar este chão
da Terra. Amigo da Onça também sumiria nas quebradas do tempo, e agora aqui recordo os dois, e conto o motivo da alcunha, originário de história tradicional do Sertão, que ocorrera entre dois caçadores, que agora venho narrar: 

Um deles contava suas peripécias da floresta de quando se deparara com onça pintada de não ter tamanho.

- Eu, sem esperar, e ela cruzou na minha frente. Quase pronto, dei de garra da espingarda, mas o nervoso foi maior e atrapalhou o tiro.

- E a onça, compadre, quer que fez na hora, ficou olhando quieta, desconfiada?

- Não, não. Veio em cima de mim com unhas e dentes amolados. Mas fui mais ligeiro; desgarrei mato adentro, naquele pega-não-pega.

- E ela, compadre, que é veloz que nem o vendo, e nada conseguiu de vantajoso?

- Saltei uma grota, cai do outro lado por cima de uma de jurema braba, e fui largando bornal e lazarina, que ficaram enganchados nos espinhos e garrancheira. Sentia de perto o calor, o resfolegado da bicha junto do meu pescoço.

- Nenhum sobroço, sopapo, arranhão, coisa nenhuma, compadre?

- Não. Nada, Livrava o corpo e fugia desesperado. Havia de escapar. Nisso, comecei a rezar com força pra Nossa Senhora.

- Então, compadre, vinha perto, ou ainda longe, o animal?

- Que é isso, compadre.?! Só pune a favor dela. Diga mesmo, você é meu amigo, ou amigo da onça?!

quarta-feira, 23 de setembro de 2015

Cores do sentimento

As paixões mostram suas tonalidades quentes do vermelho enquanto durar o prazer de corpos pegados e nus. Depois, lá adiante, satisfeitos apetites da carne, a tinta roxa dos finais tende a pintar telas de corações, parecido quando o tempo da euforia já passou pelas frestas apertadas dos músculos e tendões, deixando marcas profundas de restos materiais jogados inúteis pelos cantos de salas e corredores escuros, tristes campos de batalhas perdidas. Saudades amargas, dias de gozos vertidos nas sarjetas, gorduras ainda escorrendo pelo canto das bocas ressequidas, ossos quebrados, amizades desfeitas e contas a pagar nos laços desfeitos.

Noutros momentos, os suaves tons do verde dominam a folhagem antes seca do verão, notas das intensas felicidades, trazendo alegria de flores animadas, perfumadas, ao sabor do canto de pássaros soltos nas matas. Fertilidade no solo, promessas de esperança na sinfonia inigualável da natureza, a dizer esses verbos efusivos.

À vivacidade do verde se reúnem luzes laranja das manhãs esplendorosas, nos amores perfeitos e sentimentos mais sinceros, que amor existe, resta encontrar, primeiro dentro de si; na sequência, nos outros, à medida justa do que plantar. E esses rastros coloridos em matizes de vermelho com amarelo clareiam a alma do pleno pudor de verdades sinceras. 

Até chegar às notas azuis das primaveras de belas plumas, voo de aves do paraíso, espécies mensageiras da religiosidade que alimenta o sonho pessoal nas asas das orações, ao prumo da Ave-Maria. Amores ainda maiores, com o auspicioso sentido da imortalidade. Esse azul que norteia os viajantes pelo deserto das várias atribulações. O véu do firmamento trará, então, o mistério das cores, largo e infinito, mostra cabal do quanto das possibilidades existe no íntimo seio da poderosa eternidade.

Nisso, nas pinceladas da cor rosa que suavizam a luz fulgurante dos elevados sentimentos, haverá maturidade espiritual, quando amores ganham as praias da permanência, testemunho de condições imortais, pouso certo e calmo dos desejos da perfeição. Assim vindo a nós a presença dele, de Jesus, e toda beleza se completará.  

Justiça seja feita

Em 14 de março de 1997, tomava posse na reitoria da Universidade Regional do Cariri a professora Maria Violeta Arraes de Alencar Gervaiseau para um mandato pró-tempora, no qual permanecera até o final deste primeiro semestre de 2003, perfazendo assim seis anos e alguns meses na função antes desempenhada pelos profs. Antônio Martins Filho, Manoel Edmilson do Nascimento e José Teodoro Soares.


Personalidade forte de cearense, nascida em Araripe, município do entorno da Chapada que leva o mesmo nome, início do sertão norte do Estado, Dona Violeta Arraes marca sua permanência à frente da Urca com o zelo de líder dedicada, criativa, sensível, votada ao desenvolvimento regional, suscitando, através da expansão do Ensino Superior, as contingências responsáveis pela ampliação do espaço físico e das inovações imprescindíveis à atualização do corpo acadêmico da Instituição. Por seu intermédio se deram concursos públicos necessários à formação do quadro de professores, criação de novos cursos e estudos aprofundados de reforma estatutária modernizadora da autarquia estadual, no formato de congêneres melhor aparelhadas, ainda que até hoje permaneça acanhada, sem sair do papel.

Senhora de patrimônio político aprimorado nas lutas democráticas pela autodeterminação dos povos nos valores definitivos da cidadania de nossa gente, manteria apreciável histórico de realizações, inclusive no Exterior, com livre trânsito junto a próceres de nomeada e meios artístico-culturais do Brasil e de outras nações, sábios, pesquisadores, dirigentes, realizadores, artistas e intelectuais de escol.

No decorrer de período em que esteve à frente da Universidade do Cariri, Violeta Arraes exercitou com soberania devoção à mística de ações pautadas na correção. Influente perante autoridades estaduais e federais, obteve recursos de soerguer os campi em época oportuna, dado o rápido crescimento do número de alunos, propiciando acompanhamento de avanços maiores até então registrados na história acadêmica. 

Com senso de justiça, portanto, agora se torna ocasião de lhe tributarmos preito de reconhecimento e gratidão às suas ações de que aceitou de bom grado regressar à província interiorana para conduzir o processo de consolidação da sua maior instituição de Ensino Superior; reforma e amplia o Museu de Paleontologia de Santana do Cariri; instala a Bacia-Escola do Araripe; adquire prédio destinado ao campus do Crajubar, em Juazeiro do Norte; amplia e reforma as instalações dos campi do Pimenta e do São Miguel, em Crato; além de criar o curso de graduação em Enfermagem, na área de Saúde e  os cursos de Licenciatura Plena para professores do Ensino Fundamental, cursos de pós-graduação nas áreas de Maio Ambiente, Educação, Economia, Geografia, Letras, História e Paleontologia, e os cursos de mestrado em Sociologia, Direito, Desenvolvimento Regional e Letras; dentre outras tantas realizações apreciáveis.

Sabe-se que uma universidade requer sucessivas gerações a fim de padronizar métodos e tradicionalizar as formas do saber que produza o suficiente ao crescimento da civilização. A sólida contribuição que Violeta Arraes ofereceu ao Cariri galvanizou o respeito e a integração dos princípios dos que aqui vivem. Por isso, numa providência espontânea, lhe tributamos, nestas palavras em nome de quantos ora usufruem da dedicação e do amor com que lutou pela nossa gente, pleno gesto de consideração e respeito à sua memória. 

domingo, 20 de setembro de 2015

Brizola no Cariri

Por volta das 10h do dia 18 de agosto de 1989, em plena campanha presidencial, chegava ao Cariri, para atividades eleitorais, o candidato Leonel Brizola, do Partido Democrático Trabalhista - PDT. À época, eu era o presidente do diretório municipal do partido em Crato, onde cumpria mandato de Vereador, e acompanhei de perto todas as etapas daquela visita.

Do Aeroporto do Cariri, seguíramos ao centro de Juazeiro do Norte, onde, nas proximidades da Praça Almirante Alexandrino, se deu um comício, na rua larga que vai ao Memorial Padre Cícero, com palanque armando onde hoje ficam as paradas de ônibus. Achavam-se presentes os principais responsáveis pela agremiação no Ceará, Flávio Torres, deputado federal Lúcio Alcântara (então recém admitido no PDT), Mariano de Freitas, deputado estadual Paulo Quezado, Carlos Macedo, Hypérides Macedo e outros de Fortaleza, além de lideranças do interior.

Após as falas em Juazeiro, Mariano de Freitas, o coordenador da visita, passou a mim o compromisso de trazer Brizola até o Crato. 

Na ponte do São José, divisa dos dois municípios, companheiros nossos aguardavam, em dezenas de carros, iniciando daí animada carreata com som e fogos. Logo adiante, na Gráfica Universitária, houve pequena parada, em que Lázaro Fontenele, seu proprietário, ofereceu rápida recepção aos visitantes.

Seguimos, após, pela Avenida Teodorico Teles, para o centro da cidade. Na noite anterior, fizéramos pichamento e puséramos faixas alusivas à data. Uma dessas faixas (Brizola, campeão da democracia) se instalava no cruzamento das ruas Tristão Gonçalves com Almirante Alexandrino, por onde passamos antes de entrar na Rua Dr. João Pessoa, e fora lida com atenção pelo visitante. Nas calçadas, larga emoção do presentes, com as saudações efusivas de centenas de populares. 

Maiores emoções se reservavam, no entanto, para a multidão que se formava na Praça Siqueira Campos, quando Brizola desceu do carro e se dirigiu à multidão que o recebeu com carinho. Lembro bem das palavras de Paulo Quezado, nessa hora, a comentar: - O Crato é sempre o Crato! -, referindo-se aos modos como aclamavam o personagem das lutas políticas nacionais de 1961, mentor da Cadeia da Legalidade, garantindo assim a posse de João Goulart na Presidência da República, depois da renúncia intempestiva de Jânio Quadros. 

Era por volta das 12h. A nossa organização não planejara concentração de rua em comício aberto, porquanto a exiguidade da agenda caririense isso impediria. Contudo, ali mesmo na Siqueira Campos, improvisou-se ato relâmpago, com Brizola subindo no capô do carro de som de Luzimar Alves e dirigiu-se ao povo no seu estilo inflamado, palavra categórica.

Logo depois, marchamos ao Palácio do Comércio, que abrigava lotação das mais numerosas no espaço tão exíguo de auditório. Políticos locais participavam da cena, no meio dos quais lembro Humberto Mendonça, então membro do partido, sob cuja legenda eleger-se-ia, no futuro, Vice-Prefeito do município, na chapa de Antônio Primo de Brito.

No decorrer daquelas movimentações em ambiente fechado, senti alguma apreensão por conta da pouca margem de manobra que dispúnhamos num evento de tal envergadura, porém só restou aguardar com tranquilidade o encerramento das atividades. 

Ao sair, percorremos de carro algumas das ruas cratenses. Defronte ao Banco do Brasil, a pedido de Brizola, ainda fizemos rápida parada junto a uma banca de frutas à beira de calçada, quando ele comprou algumas frutas. Outra vez passamos pela Rua Dr. João Pessoa, contornamos pela Praça da Sé, subimos a Avenida Duque de Caxias e rumamos de volta ao Aeroporto Regional do Cariri, onde nos despedimos daquele grande líder da história brasileira da segunda metade do século XX que, por mais fizesse, apenas obtivera sucesso nas eleições de governador do Rio Grande do Sul e do Rio de Janeiro.

sábado, 19 de setembro de 2015

Frutos da indiferença

O que maquinavam países poderosos além de gerar esses produtos tortos que ora demonstram só o transe das vaidades humanas? Em que hotéis de luxo dormiam líderes da vez enquanto padeciam da mais fria indiferença e germinavam esses povos que vagam pela Europa, sem eira nem beira, aflitos, desenganados, a pedir socorro noutros territórios? Em que farra, em que festa comemorativa curtiam glórias do mundo e que falavam bonito em nova ordem mundial e deixaram sem rumo barcos lotados dos exilados iguais a si, do sistema vivo das partes do que nós somos?


A farsa apresenta cara conhecida. Há pouco mais de setenta anos acontecia, no Velho Continente, trens carregados de judeus e outras etnias e credos, quais gado de matadouro, levados aos campos de concentração nazistas e fornos crematórios, logo secundados por Stalin, na Rússia, a dizimar milhões, isto sob as marcas da cruel indiferença dos gigantes da ocasião. 

Hoje se sabe abertamente daquilo tudo, via velhos filmes em preto e branco, mostrados nas reportagens históricas... Porém, neste exato momento, ao vivo, a cores estonteantes, cenas dos desmandos atuais são lançadas aos quatro ventos, às vistas da ilustrada Civilização, nas barbas dos responsáveis pelo Planeta, qual nada dissessem ou houvessem com isso, fossem apenas meros expectadores de políticas frustradas.

O bolo crescia aos olhos de todos. O bolo continua crescendo nalguma nação desse vale de lágrimas, fabricantes que prosseguem dos barris de armas atômicas, ameaças a populações inteiras submetidas ao crivo mórbido da geopolítica dos mercados e capatazes egoístas, esquecidos potentados da miséria que ajudam a despontar e fere de morte paz tão duramente obtida ao custo das vidas jogadas no tabuleiro de guerras fraticidas, sem nexo.

Dizem os retóricos que a história é mãe e mestra, ensina e zela pelos destinos da espécie dos homens, também nesses dias mórbidos. Contudo, ao vazio de sábios gestores, claudicamos todos. Logo no pós-guerra, recomeçavam as escaramuças de querer o lobo repontar as garras sanguinárias. Sem fronteiras, a violência custa gerações inteiras, desparecidas debaixo de escombros de lições desaprendidas.

Ainda que a duras penas, igualmente, há que nascer luz do escuro desta manhã tão gloriosa da ciência dos séculos através da Humanidade justa e pacífica tão sonhada! 

quinta-feira, 17 de setembro de 2015

Neste mar das palavras

Lá um belo dia e você se descobre vivendo o mundo forjado só de palavras.

Sim, onde tudo tem de ter um nome, e se não tem está ali aguardando, esperando em alta voltagem a garras da apreensão humana de querer nomear de qualquer jeito o que encontra pela frente, ânsia incontida de domínio, de conquista. Olhou, quer logo denominar, formar a ordem no contexto antigo, ainda que por vezes careça de comprovação, no entanto quer correr e registrar o fenômeno. Surgiu nas dobras da memória, receberá o nome. Criou, produziu, inventou, carece de ferrar, no instituto e na instituição imediata de soldar a vida nas provas da consciência, de armas em punho. Visitamos continentes, e deixamos nossa marca nos acidentes geográficos, bichos e matas. No mínimo assinalar presenças no descobrimento das possessões do além-mar; desceram  homens nos botes do calendário e as eras dos encantos e das belezas viram o chão dos rastros de gigantes entontecidos, que ponteiam suas posses materiais, que viram fumaça, e transportam o que bem lhes aprouve nas caravelas de madeira e pano, rumo aos velhos continentes dos significados em blocos de areia e concreto das palavras soltas ao vento.


... Santificado seja o Vosso Nome, venha a nós o Vosso Reino e seja feita a Vossa Vontade, assim na Terra como nos Céus... 

O poder que as palavras detêm assim sustenta religiões e crenças, dogmas que invade o campo do mistério e nutre de paixão os sobreviventes dos textos, das epopeias. Queira alguém preencher o espaço das humanas relações, ali impera o furor agressivo das palavras, verbos consistentes da qualidade dos hábitos firmados nas letras dos hinos e das orações, ejaculatórias de precisão de todas as gerações matemáticas de tantas e doces melodias, que enchem de fórmulas e luzes a sede dos corpos na consciência surda.

Aonde seguirem os espíritos que habitam as vastidões e paragens, consigo levarão sentimentos e virtudes das dores e dos pecados, ilusões e verdades que viveram no cocho das palavras, redes inevitáveis de pensar e tecer as moléculas do sistema que elaborou, fez nascer, perecer, foles do ferreiro intangível da Criação. Uma mística, as senhoras palavras. De símbolos virão entidades reais dos os atos da raça de fazedores de lembranças, tais substitutos da ausência dos gestos e das visões que contêm, a todo custo, o direito de eternizar o momento nas palavras.

quarta-feira, 16 de setembro de 2015

Água deu, água levou

Dentre as histórias que minha mãe contava, do tempo quando aprendia com sua avó o jeito de viver que aplicaria no decorrer de sua própria história, existem diversos provérbios os quais, à medida em recordava, pedia para os anotar e contar aos outros, ou escrevia, como quero fazer nesta oportunidade.

São brocardos populares cheios da sabedoria decantada dos tempos, alguns leves, engraçados; outros, no entanto, dotados de extremo rigor, como este que alerta sobre a malandragem dos varões para com as mulheres, num aviso de causar dó aos marmanjos irresponsáveis no trato com o sentimento alheio: Não confie em homem nem quando ele está dormindo. Os olhos estão fechados e as pestanas estão bulindo.

Nos cuidados financeiros necessários ao bem-viver social, há observações por demais pertinentes no que tange à relação com o dia de amanhã, tornada previdência útil a ordem capitalista de poupar a riqueza, sempre importante e válida: Cada qual faça por ter na bolsa quatro vinténs; no céu só entra que Deus quer, na Terra só vale quem tem. Ditado logo seguido de outro também versado nesse teor financeiro: Economize para ter e, quando tiver, economize se quiser.

Em filosofia prática e boa de exercitar, a memória acesa de minha mãe, em sua carga de experiências, trazia à boca palavras gravadas que servem de lição. E recordava dizeres do uso de seu pai, Antônio Bezerra Monteiro, exímio tocador de banjo nos festejos de Crato e nos brejos do pé da Serra. Dele me pediu que anotasse um dos chistes que gostava de dizer: Sou da lei da raposa, quando o Sol se põe ainda faço muita coisa. Ao contrário de outros, da lei da cotia, a quem, quando o Sol se põe, acabou-se o dia.

Vez por outra, ao deparar situações ocasionais, me vêm ao pensamento esses aforismos tradicionais, soltos na cabeça e preenchendo vazios de reflexão, a servir de alternativa no agir com o mínimo de senso. Nessas ocasiões, a voz de minha mãe parece dizer, ali perto, essas falas tiradas do baú das eras: Boa romaria faz quem na sua casa está em paz. De grão em grão a galinha enche o papo. Pelos santos se beijam os altares. Devagar se vai ao longe. Nem tudo o que reluz é ouro. Quem quer vai, quem não quer manda. Deus ajuda quem cedo madruga.

Nisso, as expressões matemáticas da vida surgem na forma de histórias pitorescas e moralistas, do tipo da que agora transcrevo em palavras textuais que dela ouvi.

Um português veio ao Brasil e aqui montou uma vacaria, passando a vender o leite que produzia misturado com a metade água. Algum tempo depois, retornava a Portugal, levando um macaquinho para mostrar ao povo de lá que ainda não conhecia o animal. Entre seus pertences, no navio em que viajava, transportava um saco cheio das moedas, fruto do apurado com a venda do leite. No decorrer da viagem, sem que notasse, o macaquinho deu de mão do saco e passou a jogar uma moeda no mar e devolver outra para o saco, até deixar só a metade das moedas. ‘Água deu, água levou’, assim pensou o homem quando viu o que sobrou da traquinagem do justiceiro simão.

Assim, de modo espontâneo, na didática da verdade, vem à tona o discurso informal das pessoas, restando aos que escutam usufruir o que a oralidade tão bem demonstra aos que querem ver.

terça-feira, 15 de setembro de 2015

Há uma paz na solidão

Ainda insistem no pensar diferente, querer companhia a qualquer custo. Entretanto compete dizer que importa considerar o quanto significa arrastar barcos cheios de indagações a lugares só imaginários, isso dos relacionamentos convulsos, criados a pretexto de preencher o espaço vazio entre os vazios dos espaços das criaturas. Qualquer indivíduo desenvolverá, mais cedo ou mais tarde, a compreensão de que o encontro verdadeiro ocorrerá mesmo é dentro, bem no território do Si Mesmo, lugar sombrio, por vezes; noutras, misterioso e profundo; área do autoconhecimento, expectativa atenta de resultados melhores em relação aos desmandos cá de fora onde o entrechoque de opiniões e temperamentos produz o que noticiam as televisões empedernidas, no sensacionalismo das horas dos corpos suadas e becos amargurados. Nas profundezas do abismo interior, no meio dele, ali reside Netuno, o deus dos oceanos, a reger descobertas inesperadas de valores da busca dos seus reais proprietários, postulantes aguerridos da razão e da paz. Andasse munidos de equipamentos de localização, o peregrino descobriria, num piscar dos verdes olhos, a porta da revelação-felicidade desses endereços, o que resolverá de vez todos os conflitos de personalidade e os longos sintomas do desassossego secular das massas. Pisasse com firmeza o caminho da fonte, acharia mais ligeiro o segredo visionário da calma e do suave sabor das cálidas descobertas, tranquilizando ânsias desenfreadas de tempos convulsos de uma civilização oprimida pelo desejo do prazer sobre as outras pessoas, titulares da servidão que impõem uns aos outros, na corrida do ouro e da lama, velhices e desencantos. Aqui no íntimo da nave azul que todos somos, nesta viagem transcendental de existir e não saber ainda com que finalidade, habita o minério puro da salvação de quando enxergar o espelho da liberdade gloriosa, alforria do eu agoniado, desesperado, muitas vezes bólides acesos no desejo de transpor o tédio, invés de mergulhar a visão que corre aos braços abertos da realização. Bom, mas cada um cuida de si na jornada dos instantes, pequenas fagulhas de quase nada percorrendo as artérias do destino.

O credo social

O gosto que o povo adquire pela prática política equivalerá à preservação das instituições e dos valores conquistados milênios a fio. Quando tais conteúdos ainda carecem de aprimoramento então ocorrem desmandos da má política, daí crescem nos próprios cascos os regimes totalitários e nefastos ao bem-estar das nações que ocorreu através de épocas pretéritas.

Vem sendo assim no decorrer da história, desde quando meros aventureiros de plantão resolvem invadir palácios e abocanhar as fatias que alimentam populações esquecidas, espezinhadas. Verdadeiros monstros da falta de escrúpulos ficaram marcados
em façanhas dolorosas de triste memória. E isso jamais deverá acontecer perante a cidadania bem formada, quando o povo se vê senhor da própria história, que saí à cata dos seus direitos nascidos em lutas e garantidos na Lei.

Aguardar surpresas na ordem política de um país significa descaso para com os instrumentos essenciais da democracia, porquanto o cidadão é o principal responsável dos atos públicos, o que reflete nas lideranças que alça ao poder todo tempo. Ninguém que lhe usurpe a função de determinar os destinos da sociedade, vez haver obtido justo e fundamental direito e o dever de selecionar seus comandos através do sufrágio, da palavra e dos atos.

Chega dos experimentos nefastos e irresponsáveis de depositar a confiança em mãos inescrupulosas por mero desânimo e acomodação nas atitudes. A lição histórica indica força suficiente de atravessar todas as crises e rever os propósitos quando isto requer maturidade e decisão. Ninguém espere cair do céu soluções fora do trabalho, da organização das bases democráticas e das providências justas.

Dadas tais razões, as urgências serão resolvidas a fruto da consciência política do cidadão donatário do direito conquistado. Os três poderes da democracia clássica persistem necessários a tais resoluções dos impasses, nas sociedades livres. Eles constituem o alicerce da verdade científica de toda a cultura e alma viva da herança que elevará a novos patamares de glória a paz e soberania das criaturas humanas.  

domingo, 13 de setembro de 2015

Amor ou interesse

Escutem essa história que ouvi recentemente de um amigo a propósito do seu genitor casado pela segunda vez. 

Depois de haver cruzado as dificuldades naturais do tempo, com a prole já criada, viúvo, isolado no meio deste mundo ocupado na corrida do ouro e da sobrevivência, eis que a idade e as cicatrizes passaram a pedir nova experiência amorosa, companhia de gente. Quando parecia desencantado na procura dessa pessoa, apareceu o anjo de candura que lhe amenizaria a solteirice. Contribuiria, com certeza, na alegria das derradeiras ilusões, a escorrerem os dois juntos pelas biqueiras impiedosas dos calendários. 

Daí, resolveu logo ajuntar seu nome e seus bens aos da mulata cheirosa e que dele se engraçou. Arrotearam o papel, nos registros do cartório, sina de partilhar cama e herança, ainda que isso pesasse nos ombros e na opinião de quase todos os filhos, cinco ou seis, não lembro bem.

Mas tomou gosto e casou, sim, em segundas núpcias qual se diz. Festa, passeios, vizinhanças, amizades fartas e esperanças reacesas.

Impiedoso, porém, o tempo seguia no curso cadenciado e constante. Depois de década e pouco, lá o amigo encontrava o pai assim meio triste pelos cantos, sozinho, amargurado, falando devagar. Senhor das agruras, contudo andando firme, calado ou desconfiado.

Preocupado, o bom filho resolve assuntar sinceridade e buscar o amigo querido a fim de detonar pergunta que guardava desde lá detrás, começos da relação do pai sessentão com a madrasta:

- Sim, meu pai. Quero saber um detalhe de sua história. Seja sincero, como sempre foi, e responda de verdade, o que sua mulher sente pelo senhor é amor ou interesse? 

Nessa hora, o pai levantou a vista, observou o filho sentado à sua frente a interrogar tão sério. E resolveu falar o segredo que guardava a sete chaves. Fez da fraqueza força, pigarreou e, sem titubear, explicou:

- Acho que o que ela sente deve ser amor... Só pode ser amor, pois em mim não demonstra o menor interesse - e baixou a cabeça, escondendo sorriso amarelo que insistia ocupar as rugas da sua face madura.

sábado, 12 de setembro de 2015

O ser das entranhas

Que é isso? Que espécie? Somos nós mesmos, o bicho que pensa e age todo tempo de ficar aqui neste chão comum. Que nasce, mama, cresce e perlustra bancos da escola do mundo e depois as vaidades humanas, espalhando nos mercados os objetos, fazendo contas e viajando pelo espaço. Que vaga nos braços do sono e organiza a política das populações. Planta, fabrica, vende; comprar e sacode mãos feéricas para o alto das festas de som e imagem, nas praças e balcões de bar. 

Mas, de verdade, quem é isso que nós somos? Pesados e medidos, passados nas roletas dos metrôs e estádios; silenciadas as farras monumentais, recolhidas barracas e fechadas as portas do movimento das bolsas de valores, nós quem, na verdade, somos, só entes mortais e aventureiros? Amantes fiéis de si próprios, inteligentes, geniais, campeões amedalhados, detentores das marcas inigualáveis dos recordes, incansáveis portadores de taças, vencedores de todos os campeonatos, que terminam sós nas multidões embriagadas e felizes, quem somos?

No frigir de tudo, ao relento das páginas eletrônicas, personagens dos clássicos da literatura mundial, peitos ferventes das emoções intensas do amores frágeis, belos apolos de lindas musas de sonhos magistrais, quem somos todos e um por vez? Quem?

Aqueles afetos das mães que vêm cobertos de sangue e carinho extremado, promissores bebedores de leite, conquistas inesquecíveis de abençoadas famílias, protagonistas da continuidade dessa raça, a que viemos, nós que ainda perguntamos: Quem seremos nós certo dia?

O eu das entranhas, foco das atenções do misterioso Universo infindo, instinto da essência e do Ser, próton do átomo da existência, segredo bem guardado da existência, máquina de perfeição e criatividade, resistência durante tanto tempo de história, e a questão de todas as indagações somos quem, nós esse ser das entranhas?

Assustador o abismo que se abre a nossos pés quando indagamos a nossa identidade inexpugnável, indestrutível existência das criaturas diante do Infinito sideral, corredor das probabilidades e vertigem crucial da presença neste cenário de partos e luzes que acendem perante a escuridão dos fins de tarde. 

Há uma porta que lá um dia abrirá a consciência e somará quem somos, e ainda não sabemos, ao Tudo/Nada que gerou essa angústia de querer conhcer e o teto do definitivo, a razão maior do existir do misterioso ser das entranhas que já somos. 

sexta-feira, 11 de setembro de 2015

A trilha e o tempo

Ir na direção certa já traz consigo o alento de usufruir nisso a possibilidade que o melhor da festa é esperar o dia dela chegar cheia de surpresas agradáveis. Caminhar nas fibras do tempo ao sabor das estações, porquanto nem sempre situações oferecem meios de alegrar a paciência. No entanto viver e plantar a flor de ser feliz todo tempo, todo dia, na certeza da consecução dos objetivos colimados, transcrever as folhas do destino antecipadamente, pois da semente vem o fruto e do fruto o prazer de uma consciência limpa, que virá no alento de pisar este chão das almas e ativar os mecanismos da real tranquilidade hoje e depois, eternamente. Ser honesto é a melhor política.


O instinto de querer bem e gostar do que é bom significa a sintonia do coração naquilo que revela o sentimento claro das possibilidades que existem na pulsação dos segundos no bater das revelações. Adianta, sim, escolher a luz que ilumina os degraus do paraíso a cada passo, direito de quem busca amizade e respeito mútuo das criaturas humanas, de si a si e de si aos outros. De igual jeito selecionamos músicas, livros, filmes, amigos, o espaço aonde praticar viver com sabedoria a escrita das horas, e também poder pautar as cifras do presente com a maestria de escolher sementes boas de frutos doces e sombras de solidariedade, igualdade entre os seres, que esperam o Universo da construção magistral dos dias seguintes.

Às vezes saber disso dói, porém ensina caminhar no decorrer das estações, chuvas, flores, frutos, aprendizados... Ouvir a música que toca no ritmo do coração as letras dos lugares, paisagens, objetos, pessoas; indica facilidade perlustrar os firmamentos; aguardar o que de mais puro se plantou, na colheita de todas as flores de amar o maior Bem. 

quinta-feira, 10 de setembro de 2015

O bem maior da democracia

Juntos e somando força seremos resistentes e cruzaremos todo obstáculo que por ventura se nos interponha à frente, desde que trabalhemos unidos sob mesmos ideais de liberdade, democracia, honestidade. Os que conhecem tempos difíceis, quando direitos existiram às escuras, debaixo de sete capas, afastados das oportunidades de participar, valores da cidadania longe do cotidiano, podem contar o quanto machuca sofrer momentos de ajustes e possibilidades e construir os regimes democráticos. As soluções passam, deste modo, no trabalho coletivo, elaboração comum que significa sempre a mais valia das sociedades. E esperar de braços encolhidos demonstra quase um nada, diante dos embates da grande humanidade. 

Foram milênios de conquistas até usufruir do império da lei, obtenção da voz de todos através do sufrágio universal. No entanto, ainda persistem na Terra os equívocos da violência no domínio de países e populações, furor de grupos sanguinários que corrompem e subjugam multidões, ocasionando a destruição das famílias, males e traumas de consequências imprevisíveis. Daí a preciosidade do direito à vida, à civilização dos tempos de paz e respeito às liberdades individuais. De sã consciência, ninguém jogaria ao acaso tantas vitórias, que hoje dispomos, porquanto a voz das urnas oferece escolhas de métodos e lideranças ao gosto sadio de largas transformações. 

Consta das épocas a dedicação aos bens maiores da paz e do trabalho, fatores inevitáveis dos prêmios sociais que ansiamos em horas de amargor. O justo qual norma fundamental de superposição do poder político dentro da égide dos bons costumes aperfeiçoados no decorrer das experiências. Agressão é vingança e desespero de minorias enfurecidas. Reagir com austeridade traz em si o primado da ordem e vigor das instituições, maturidade e conhecimento guardados como virtude e patrimônio das gerações, eis o recurso da participação.

Contudo isto exige ampla dedicação, feitio minucioso de apurar a prática administrativa pública, critério e refinamento morais e éticos. Muitos erros, com isso, corrigidos, indicarão o caminho dos acertos econômicos e sociais, na mais sabia das conclusões oferecidas pelas chances da história, tanto no presente, quanto no futuro que virá de nossas mãos.

A flor atirada

A história de um místico árabe conta que enquanto se via apedrejado em sacrifício das práticas religiosas que professava, contrárias que foram à tradição dos poderosos, ele observou cair aos seus pés bela flor atirada junto com as pedras da turba ensandecida. Até ali resistira com altivez aos gestos rudes da multidão formada de criaturas ignorantes no trato com a mensagem salvadora que oferecera. 

Nessa hora, contudo, sentiu fraquejarem as forças, e viu-se rendido dominado de pranto convulso. Daqueles despreparados, que exercitavam instintos vingativos, outra atitude jamais esperaria além de jogarem pedras para ferir corpos e eliminarem existências físicas. De quem jogara a flor, porém, que, então, demonstrava conhecer algo mais a propósito dos ensinos e das práticas fiéis, aguardava maior sinceridade, no mínimo saindo na defesa dos ideais superiores. Negara, fraquejara, isto sim.

Às vezes sentimentos de nostalgia sujeitam atingir pessoas que sentem a força da autenticidade, ainda que distingam o tanto que lhes resta de chegarem às relíquias sagradas, assunto principal dos religiosos.

Existem situações em que discípulos deixam de lado a prática do Amor para aceitar fugas de lazer, esportes, vícios e acomodação. Nisso, esquecem a coerência e os pressupostos que adotam em nome do caminho de Deus, demonstração de abandono e pouca sinceridade interior que deixam patentear.

Aquele que jogou a flor no instante no martírio do árabe lapidado, mesmo que pretendesse cumprir gesto de solidariedade e reconhecimento na hora extrema do testemunho, permaneceu vinculado às sombras da covardia, sabedor de conceitos, no entanto sem praticá-los de verdade.

Não poucos agem de qual jeito, motivo, inclusive, da parábola do festim de bodas contada por Jesus, dos muitos chamados e poucos os escolhidos. Chamados às hostes do Bem todos somos. Raros, talvez raríssimos, exercitam a feliz oportunidade, razão das dores de saber o quanto adiante ainda sofrerão presos àas malhas pegajosas de transes imediatos.

Invés de jogar flores nas homenagens tardias, caberá cultivá-las no íntimo do coração e exalar o justo perfume através dos campos do dever.  

quarta-feira, 9 de setembro de 2015

Alegria qual fator de sobrevivência

A todo momento vem essa urgente necessidade, uma visão positiva da realidade qual fator inevitável da sobrevivência com tranquilidade. Isso por conta das demandas negativas que ainda preocupam muitos, quando isso nem procura. Nuvens de desencontros sujeitam a barra dos dias. No próprio relacionamento com os demais, nódoas de incompreensão e aflições, diante do enredo cotidiano que fustiga o humor a ponto de criar factoides, bichos tortos em movimento pelas frestas do tempo, nas estradas por vezes infelizes.

Daí ser importante o valor de ser feliz, numa vocação pouco utilizada, às vezes. Bloquear o senso das reações de agressividade, jamais revidar, numa certeza firme da precisão de sorrir sempre aos dissabores. Interpor gosto pelos bons instintos, livre das situações desagradáveis. Isso até que parece meio irresponsável, porém sábio de não ter tamanho, na valoração das atitudes. 


Olhar o Universo de olhos limpos, eis a condição das percepções para evitar dissabores, desavenças, abusos. A depressão, na opinião corrente, virou o mal da atualidade, nada mais representará, pois, do que essa covardia moral de olhar o mundo no papel de vítima. Erguer a mente para cima da linha do horizonte, porquanto o mesmo acontecerá nas áreas do cérebro encarregadas de gerar a bioquímica de satisfação. Longe de apenas pensar no que é bom, viver o que é bom no instante presente se torna a base da positividade.

Há quem afirme significar existência a soma dos tantos momentos. Por isso, trabalhar nos detalhes de cada momento o momento seguinte. Saber e praticar, esta a norma primeira da alegria. Querer e poder, na prática das providências. Pequenas doses de bom humor representarão saúde, paz e resultados produtivos ao fio da história individual, fruto das ações pessoais dos pensamentos e sentimentos, quando é o sujeito responsável pela sua visão existencial.

Com isso, sendo o método da permanente felicidade ocasionar os filmes de toda hora de qualidade boa, no firmamento individual, e se produzirá a peça chave da vontade positiva, primeiro na pessoa, depois na sociedade inteira. 



Esta a ideia principal do comentário, aprender na experiência que o querer bem, pensar bem e agir bem resultarão, de modo prático, na força da alegria, matéria prima de nossa caminhada de sucesso.

segunda-feira, 7 de setembro de 2015

Um eu criança

Assim como o homem se despoja de uma roupa gasta e veste roupa nova, assim também a alma incorporada se despoja de corpos gastos e veste corpos novos. Bhagavad Gita


Dentre as mil faces do herói, nos seres humanos existe um eu criança que nunca perde as características originais da memória do ser inocente e vigoroso, que rege aspectos diversos da nossa personalidade. Ingênuo, se entrega fácil aos devaneios da sorte, aspirações bem naturais da primeira infância. Sonha alto em pleno dia. Engatinha nas decisões adultas, alimenta afetos imaginários, viaja nas vagas do tempo feito pássaro leve,  largado ao sabor do infinito. 

Esse eu primitivo de qualidade pura virá conosco desde o útero materno. Por isso aprecia carinho, toques essenciais das pessoas com quem aconchega, e quando não o recebe, contrariado reage e sofre. Ama os mimos da arte, da beleza, da moda, e os afetos espontâneos, simpatias. Transcorre na vida à busca de alguém que lhe complete, semelhante à mãe, de que participou dentro do mesmo corpo na gestação. Há nele o príncipe ou a princesa ideal, outra parte que inteire viver o colo perdido, a envolvido no calor da totalidade e chegar ao ser feliz para sempre das histórias maravilhosas de fadas e reinados.

Seu passo os dirige a explorar o mundo através dos sentimentos, e descobrir aonde achar o mistério desse encaixe perfeito, secundado pelos muitos instrumentos de pesquisa, o trabalho, a aventura, o delírio de emoções variadas, os esportes, as artes, experiências de todo matiz; a fama, a chama da paixão, o furor das lamas dos vícios, as amas dos bordéis, o amor das revistas, das novelas, dos filmes; os parceiros de jogo, de estradas, de camas. Os seios da mulher amada. Os laços do destino, nas canções desesperadas. 

O eu criança da Sublime Canção dos Vedas, à imagem de Krishna, o deus em forma de criança alegre, de junto da Natureza. São nuances da estrutura psíquica, os arquétipos , que, segundo o psiquiatra suíço Carl G. Jung, simbolizam imagens primordiais vindas na repetição da mesma experiência durante as gerações, e que permanecerão guardadas no Inconsciente Coletivo.

Até que, de tanto procurar sua parte complementar no decorrer da existência, o herói criança lá um dia deixará o corpo, depositado de novo ao seio da mãe Terra e regressa outra vez ao mistério original do que antes fora.

domingo, 6 de setembro de 2015

Uma festa no coração

Transcorrem os dias nas asas poderosas desses pássaros que voam deliciosas evoluções nos céus de todo dia, livres no seio do vento, seres tranquilos da harmonia. Nisso usufruir o direito universal da felicidade que a gente cria na medida exata da imaginação positiva, pelas atitudes, sinceridade e providências. Deixar escorrer suaves nas saudades os momentos bons que regressam, porém esquecer mágoas, rancores, más querenças; firmar pés no sentido único da transcendência, espiritualidade, já que objetos e paisagens imediatas diluem no tempo, e a verdade permanece bem dentro do coração da gente.

Enquanto chegar aqui demorou tanto e tão pouco, há inúmeras razões de preservar o gosto pela vida, mesmo que os impasses da realização de Si mexam nos planos, sem com isso fechar as outras portas da possibilidade. Trabalhar esse bom gosto necessário de ver alternativas nos sentimentos, de limpar o campo aonde iremos semear novas sementes. 

Assim, o tom das manhãs festivas mora no íntimo da presença de nós, os andarilhos deste chão, ao sabor dos nossos passos. E Deus, e as flores, as crianças; o verde, a luz dos olhos, os amigos; bom humor, belas fotografias, músicas geniais; as cores do Sol, a lindeza da Lua em seu resplendor, a força de amar e constituir uma família. Porquanto existe sagração em tudo quanto à clareza conduz, belos sonhos, inestimáveis alegrias, pessoas amigas, agradáveis, prósperas.

De forma justa, igualmente apoiar boas iniciativas da sociedade, que isto ampliará de certezas os meios de transmitir aos outros a mesma oportunidade que se nos oferece doo prazer de estar aqui, e ampliar chances de encontrar adiante o paraíso que sobrevive sábia no seio das esperanças intensas. 

Brilhar a luz dos bons instantes e ampliar ao infinito, através de nós próprios, agir de jeito certo na medida de melhores ocasiões de sorrir e abraçar a perene Eternidade. 

sábado, 5 de setembro de 2015

Flores de que falava a canção

Palavras que desenvolvam os pensamentos, que por sua vez desenvolvem os sentimentos que nós sustentamos. Disso fala a música quando fala de flores. Sorrir dentro falas quais movimentos inevitáveis de alegria, amabilidade, ainda que aparentemente existam motivos de pensar diferente. Porém tudo leva a tempos de boa paz, felicidade, tempos menos bicudos, menos difíceis de cruzar o mar das procelas, o que exigem atitude tocar em frente. Razões infinitas de manter forte o ânimo e continuar pelas lembranças das vitórias anteriores, conquistas que ninguém toma. Preservar o senso de justiça nos pousos da presença soberana, sadia, que domina o sistema universal onde habita existência de seres e de objetos. Manter a todo custo o desejo de igualdade nos direitos adquiridos; auxiliar o correr dos barcos que transportam rebanhos aos dias melhores, apesar de impressões deixadas no calor, nas tintas cinza de horas atrás. No mais íntimo, lá o pintor do quadro reserva sabedoria a esse prazer de usufruir beleza aos apreciadores dos mistérios que renascem, na história contínua.

A gente desperta e sabe da imortalidade dos dias na alma e no tempo. Alimenta de verde o instante ao dispor da consciência, pauta aberta que pede visões de paraíso. Oferece festas de esperança na luz das ocasiões, qual maestro eficiente da sinfonia do presente. Amar, verbo por demais necessário ao controle da máquina perfeita do indivíduo que notamos em nós existir, o miolo essencial da gente. Segurar o trem nos trilhos ao efeito maduro do conhecimento obtido nas horas da experiência. Exercitar esse gosto saboroso do belo, que equilibra os tons das cores a envolver o firmamento constante das paisagens imperecíveis do bom senso. 

Por menores sejam as lições, trazem consigo os cuidados que bastam ao anseio de respirar perfumes e apreciar maravilhas. Ver lado benfazejo nos detalhes mínimos, porquanto leis imutáveis conduzirão para sempre ao pouso seguro da eterna certeza as nuvens que chegam. Lá passam milênios, enquanto derrama suas tintas nas criaturas que crescem dia após dia, e aqui estamos contentes de que ser artífices da tranquilidade, autores prudentes de possibilidades imensas através das nossas mãos. Pensar bem e escolher a melhor parte, nisso viver e ser feliz, eis a missão.

sexta-feira, 4 de setembro de 2015

Caminhos da natureza

Nesses tempos de pouca água nas torneiras e temperaturas ferventes no mundo aceso, mesmo quem antes nunca pensou em conservar a natureza corre o risco sério de parar pensando nas conseqüências dos tantos e tantos séculos de abandono a que relegaram as fontes da vida na Terra.

São muitos para destruir e poucos para plantar e construir, eis a verdade principal do nível de preocupação com florestas, mares, rios, ar e animais, todos fixados em descobrir meios de lucrar, no procedimento predatório herdado e multiplicado pelos senhores coloniais. 

Existem órgãos estruturados a combater as ações destruidoras, contudo a responsabilidade cabe a todos os segmentos da população, através dos esperançosos conselhos municipais de meio ambiente, de raro em raro funcionando a contento. A crise moral, que fere outras instituições, fere as causas da natureza, justificando no lucro a fome de resultados nas balanças de pagamento dos juros externos.

Tarefa hercúlea conduzem esses órgãos responsáveis pela preservação das fontes da vida em países atrasados, de mentalidade mais atrasada ainda. Muito se fez até agora, e mais resta a fazer, dagora em diante. Ninguém se diga indiferente aos modos de manter a qualquer custo os nacos de mata virgem, água limpa e ar puro que restam em volta do globo, a pretexto de nada lhe dizer respeito. A coisa chega de jeito radical porque esqueceram de que o Planeta é ser vivo e merece cuidados imprescindíveis aos que respiram e obedecem às idênticas leis universais dos sistemas integrados.

Cidades do Nordeste vivem hoje dramas de rarificação de água potável impossíveis de imaginar poucas décadas atrás. O São Francisco, denominado o rio da integração nacional, por percorrer vários estados, desde Minas Gerais, Bahia, Pernambuco, Alagoas, a Sergipe, alimentando de iluminação e trabalho inúmeros rincões, vê-se minguado do quanto desmataram nas suas origens, sem que houvesse medidas pertinentes a conter os crimes cometidos a olhos vistos e discursos abertos.

Ainda existe tempo a providências ao gosto de todos para se começar no intuito de conter a voracidade predadora da humanidade que devorou as minas e o povo do continente africano, e cresce, neste princípio de milênio, as garras metálicas contra as terras latino-americanas, bola geopolítica do capitalismo faminto da vez. Só assim, pois, descobria-se que tudo com tudo tem a haver.

quarta-feira, 2 de setembro de 2015

Deslocamentos humanos

Pesquisas históricas dão conta de grandes acontecimentos em andamento quando o formigueiro humano da Terra se agita e principia correr mundo à cata de melhores dias. Espécies de sintoma de outros eventos, estudiosos avaliam essa verificação em face de modificações geopolíticas indícios de adaptações aos critérios das leis universais, razão de aparente intranquilidade, porém característica dos sistemas, seres dos rebanhos vivos em larga escala.

Nos séculos recentes, fins do século 18, com a Revolução Francesa; século 19, com guerras napoleônicas e outras guerras de conquista comandadas, sobretudo, pelos ingleses; e século 20, com duas grandes guerras e dezenas de guerras de conquista dos recentes impérios russo e americano, o tal sintoma de efervescência das populações na face do Planeta representa por demais readaptações e realojamentos das massas, que significam constatações dos pesquisadores de que novos tempos se processam nos concertos das nações.

Hoje as notícias predominam fruto das guerras do Oriente Próximo, havendo deslocamentos coletivos de forma ordeira, no entanto destituídos de organização, ou previsão, ou transferências de capitais ou consumidores em potencial. Grupos extremistas dominaram seus países antes politicamente estruturados e agora feitos em cacos. As tradições perdem o sentido e os traços de civilização que antes havia somem debaixo da barbárie equipada de armamentos supermodernos, desnorteando as comunidades que, perdidas, recorrem ao refúgio dos lugares em paz, no rumo de salvação imediata. 

Profetas falam disso, dessa intranquilidade, quais sinais de mudanças e transformações profundas a ocorrer no longo das eras. A Europa, epicentro dos impactos anteriores de tantos povos espalhados na distância, que carreara riquezas mil ao seu território, indo saquear os povos afastados, ora defronta a imprevisibilidade de marcas deixadas noutros tempos, na Ásia, na América, na África, Oceania. 

O Velho Continente, corredor de tantas dores nas maiores guerras do passado, atravessa, pois, imenso enigma a resolver, de crise enorme da Humanidade, que lhe mostra imigrantes pacíficos que aportam em levas à busca de lenitivo. Valores clássicos acumulados na forma de conhecimento mostrarão as respostas urgentes ao grito de socorro que lhes apresentam nesta difícil ocasião que envolve todos nós.

terça-feira, 1 de setembro de 2015

Leite mugido

Noutro dia, me deparei contando a respeito das madrugadas frias de julho, nas férias do meio do ano, época de íamos ao Tatu, meus pais e os filhos. Demorávamos algum pouco na mesma casa onde passara parte da infância, no sítio em que vivêramos perto de dez anos. Já morávamos em Crato desde 1953, e minha mãe, então, coordenava ações administrativas; mandava Lourdes na frente, de trem até Lavras e a pé no restante do caminho, isto para limpar as dependências do lugar, dando mínimas condições de utilidade à choupana que ficava fechada todo ano, que meu pai construíra com tanto carinho bem nos inícios do casamento. Vasculhava por dentro e por fora; deixava tudo um brinco; queimava chifres de boi nos cômodos, a fim de espantar as cobras do telhado; deixava o lugar no ponto de receber os antigos donos qual na fase anterior das nossas vidas.

Eram semanas de rara satisfação, inclusive levámos alguns amigos cratenses e somávamos os costumes do passado com as emoções do presente, articulando as primeiras aventuras da adolescência depois das experiências na cidade. 

Algumas instituições novas apareciam, sem, no entanto, nos esquecer das histórias de antigamente. Um desses comportamentos restava por conta do tempo de criança quando logo de manhãzinha íamos, bem agasalhados, beber leite no curral, cada um levando copo onde constava canela em pó e açúcar, ingredientes que diminuíam o gosto forte do leito bovino; a espuma que ficava sobre a boca parecia ligeiro bigode branco. Às vezes acrescentavam também alguma colher de conhaque de alcatrão, segundo os adultos para reforçar o sangue. Era leite mugido, colhido pelo tirador logo do peito das vacas, que ingeríamos ainda quente, na temperatura dos animais. 

O prazer daquelas manhãs vive nas lembranças de hoje, a tonalizar lá de longe com as cores de período simples as vivências originais das outras realidades. Depois, abriam a porteira do curral, afastando grossas madeiras de dentro dos furos laterais das pranchas ao lado da cerca, que, uma a uma, liberavam o gado rumo à manga no São Luiz, área do sítio de matas conservadas ao pasto dos bichos. Junto das vacas seguiam as ovelhas. Eis instantâneo do universo rural da época de nossa infância que guardo com carinho nos pousos distantes da memória. 

Sonhar e viver

As chances de transformar a realidade imperam bem na alma misteriosa das pessoas, porquanto outro motivo inexiste de reverter o quadro lá de fora sem que limpemos as lentes de ver e modificar a paisagem viva nas cavernas interiores de toda criatura pensante. Ninguém produzirá o que é bom usando matéria prima de terceira qualidade. Isto exige, portanto, atitude, providência de planejamento e prática no menor espaço de tempo imaginável, conquanto o mundo às vezes parece assim meio sem jeito quando seguimos as versões lançadas a rodo nos meios de comunicação de massa das eras atuais, receptores de tecnologia de ponta e conteúdo de baixíssima qualidade. Contemplam o instinto animal em detrimento da verdade espiritual. Enquanto isso, nós o que fazemos, onde estamos, como agimos? Seremos agentes de transformação positiva, ou meros latrinas dos empreendedores vorazes da miséria humana?

Desafios são jogados a todo dia em nossa cara, fazendo da coletividade fator de acomodação e desespero, alienação e abandonos de solidão, depressivos bonecos mecânicos autores comuns das telas de péssima qualidade que o mercado vende no maior dos descaramentos. A mediocridade desse período histórico grita seus palavrões e enlameia todo idealismo até hoje elaborado nas raias da civilização clássica. Qual houvesse dois mundos, no interior de um a ganância e no outro o desespero, a história arrastaria hoje o rebanho do desengano aos profundos da inutilidade, enquanto a Natureza segue seu compasso oferecendo meios de mudança e conquista aos atores no palco, que ainda lançam fora a herança dos próprios sonhos bons.

Mas falamos em sonhar, viver novos sonhos, rever os quadros que implantaram de atrasar a evolução aos olhos abobalhados de bilhões. Na margem que continua a existir de probabilidades, o isolamento da massa se tornará, decerto, fatal a médio prazo. Exigirá firmeza de ação o quanto antes, no sentido de responder às eternas perguntas da filosofia, donde viemos, o que estamos fazendo aqui e aonde vamos?

E no centro dessa bola, que vaga azul no Infinito, no mais íntimo do Ser que nós somos, seus habitantes, reside fértil o segredo de todas as revelações do futuro.